Jornal Estado de Minas

CONGRESSO NACIONAL

Nikolas Ferreira e Duda Salabert levam embate polêmico de BH para Brasília



Deputados federais e espectadores da cena política brasileira puderam testemunhar, na semana passada, o mais novo capítulo da série de embates entre Duda Salabert (PDT) e Nikolas Ferreira  (PL), que representam Minas Gerais no Congresso Nacional. As dissonâncias começaram quando ambos foram eleitos vereadores em Belo Horizonte, em 2020. A mais recente batalha travada entre a pedetista e o bolsonarista nasceu após Nikolas usar o plenário da Câmara Federal para fazer um discurso considerado transfóbico. Deputada trans e representante das pautas da comunidade LGBTQIAP+, Duda criticou a postura do colega e agora é uma das líderes do movimento que pede a cassação do parlamentar do PL.





O histórico de confrontos entre Duda e Nikolas ultrapassa os debates travados nas tribunas das casas legislativas, já chegou aos tribunais e, de certa forma, tomou parte da agenda do Palácio do Planalto. Isso porque, na quinta-feira passada, a deputada foi ao ministro Alexandre Padilha (PT), chefe da Secretaria de Relações Institucionais do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), pedir apoio da base governista na Câmara no processo de articulação política que pode gerar punição a Nikolas pelo mais recente discurso. No mês passado, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) decidiu que o aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) terá de responder por injúria racial contra a congressista do PDT por causa da declaração que deu o pontapé inicial na conturbada relação.

"Ainda irei chamá-la de 'ele'. Ele é homem. É isso o que está na certidão dele, independentemente do que ele acha que é", disse Nikolas, em 15 de novembro de 2020, pouco após receber 29,3 mil votos e ser o segundo mais votado na disputa pelas 41 vagas da Câmara de Vereadores de BH. Duda, a mais votada à época, foi escolhida por 37,6 mil eleitores. O deputado nega ter sido transfóbico à ocasião — assim como negou na semana passada. Inconformada, Duda chegou a defender a aplicação de sanção criminal a ele. “A prisão dele seria exemplar para que outras pessoas respeitem a comunidade trans e a nossa dignidade humana”.

Em 2021, nova declaração transfóbica de Nikolas motivou queixa-crime de Duda. À ocasião, assim como no pronunciamento da semana passada, ele parabenizou “mulheres XX” e ignorou a mandatária do PDT. “Vi que a Câmara chamou várias mulheres para compor a Mesa Diretora e infelizmente tinha um vereador. Eu não vou me submeter. Eu não vou ficar de joelhos perante a negação da realidade”, disparou. A denúncia da parlamentar impediu o bolsonarista de ter aceito pelas autoridades o processo de porte de armas — a legislação brasileira proíbe que qualquer pessoa que responda a inquéritos policiais ou processos criminais consiga o porte. O veto ao anseio armamentista de Nikolas foi comemorado pela colega: “Graças aos meus processos, Nikolas está impedido de andar armado. Minha contribuição para sociedade”.





(foto: GLADYSTON RODRIGUES/EM/D.A.PRESS%u2013 3/10/22)


Mais ataques

A série de bons desempenhos eleitorais da dupla, inaugurada no último pleito municipal, continuou em outubro passado. Deputado federal mais votado do país, Nikolas Ferreira, que antes de chegar ao PL passou pelo PRTB, levantou bandeiras de campanha em direção à direita e recebeu mais de 1,4 milhão de votos. Duda, à esquerda, foi a terceira colocada no ranking formado pelos 53 eleitos por Minas, com votação superior a 208,3 mil eleitores.

Os episódios de acirramento extrapolam as questões de gênero e identidade. No primeiro ano deles como componentes do Legislativo da capital mineira, Duda chamou Nikolas de “playboy mimado" após ele ser proibido de visitar o Cristo Redentor, no Rio de Janeiro. O parlamentar não pôde subir as escadas que dão acesso ao tradicional ponto turístico porque não portava o comprovante vacinal contra a COVID-19. No ano passado, ele chegou a chamar a pedetista de “víbora” e “cínica” em sessão da Câmara Municipal.

O uso de máscara, equipamento obrigatório durante os momentos mais críticos da pandemia, também já motivou discussões acaloradas entre eles. Há dois anos, na Câmara de BH, Duda acusou Nikolas de ficar por cerca de 15 minutos sem a proteção, em desacordo às normas sanitárias da época. O bolsonarista negou o fato e a discordância, iniciada em plenário, se estendeu às redes sociais.  “Adoraria debater sobre avanço da vacinação, sobre estratégias de crescimento econômico para a cidade, mas tive que usar meu tempo de fala para exigir o básico: que o vereador usasse máscara”, postou a filiada ao PDT.  “Indignação seletiva para cima de mim? Então, toma”, respondeu Nikolas, em publicação acompanhada por um vídeo do momento da discussão.






Peruca loira acirra ânimos

Com uma peruca loira, o deputado federal Nikolas Ferreira (PL) se intitulou “deputada Nikole” e, com o tempo de fala que tinha no plenário da Câmara dos Deputados, na semana passada, disse que “mulheres estão perdendo seu espaço para homens que se sentem mulheres”, Além do pedido de cassação, endossado por representantes de partidos como PDT, PSB e Psol, a declaração gerou uma notícia-crime enviada ao Supremo Tribunal Federal (STF). Agora, enquanto aliados de Nikolas se apressam em buscar formas de defendê-lo, o opositores criticam. O senador Cleitinho Azevedo (Republicanos), um dos principais parceiros políticos do deputado do PL, disse concordar com a premissa da fala do colega, mas crê que a peruca “ofendeu” outras pessoas. “O conteúdo dele, na minha opinião, não desrespeitou ninguém. Ele defendeu as mulheres”, minimizou, em entrevista à rádio “Jovem Pan”, na sexta-feira.

Do outro lado, a deputada federal Ana Pimentel (PT-MG) chegou a chamar Nikolas de “palhaço”. "É inadmissível que a tribuna da Câmara dos Deputados aceite ser o circo. Me indigna ver homens usando uma data tão importante de luta para todas nós mulheres para despejarem sua transfobia e espalhar seu preconceito. Um deputado que desrespeita a tribuna que ocupa certamente não sabe o que está fazendo no cargo que pleiteou", indignou-se.

Prefeitura

O futuro pode reservar outro embate entre Nikolas e Duda Salabert (PDT) nas urnas antes mesmo de 2026, quando podem buscar a reeleição. Isso porque as boas votações os credenciam a ser players importantes na disputa pela sucessão do prefeito de Belo Horizonte, Fuad Noman (PSD). No PL, um dos nomes que desponta como possibilidade para disputar o cargo é o deputado estadual Bruno Engler, integrante do mesmo grupo político de Nikolas. Duda, do outro lado, defende a reprodução, na cidade, da frente ampla de partidos do centro à esquerda em torno de Lula. Ela chegou a afirmar, inclusive, que o PDT deseja tê-la como representante na corrida ao Executivo municipal.