A visita de Estado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à China, a convite do presidente chinês Xi Jinping, ganha importância global em meio às incertezas sobre o fim da guerra entre Rússia e Ucrânia, que completou um ano em fevereiro, mas a expectativa de analistas é de que a pauta econômica e comercial esteja mais em evidência durante a turnê do petista pelas cidades de Pequim e Xangai entre os dias 26 e 31 deste mês.
A ida de Lula para China marca a reaproximação do Brasil com o seu maior parceiro comercial após uma série de trapalhadas no campo diplomático do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), cujo filho número 3, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), chegou a culpar o país asiático pela pandemia da COVID-19.
A ida de Lula para China marca a reaproximação do Brasil com o seu maior parceiro comercial após uma série de trapalhadas no campo diplomático do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), cujo filho número 3, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), chegou a culpar o país asiático pela pandemia da COVID-19.
Especialistas lembram que o Brasil, atualmente, é muito mais dependente da China do que o contrário. Essa aliança tornou-se global em 2012, ano em que a corrente de comércio – soma das exportações e das importações – entre os dois países era de US$ 75,4 bilhões, e, no ano passado, esse volume dobrou para o patamar recorde de US$ 150 bilhões, com um saldo comercial favorável ao Brasil de US$ 28,7 bilhões, abaixo dos US$ 40,2 bilhões registrados no ano anterior, outro recorde histórico, conforme dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic).
O momento da visita presidencial também coincide com a reabertura do país asiático para o mundo, após o afrouxamento das regras de tolerância zero para a COVID-19, em uma onda de revisões para cima do crescimento da economia global por conta disso, pois as novas projeções voltaram a prever a China crescendo acima de 5%. A Organização para Cooperação do Desenvolvimento Econômico (OCDE) revisou de 2,2% para 2,6% a estimativa do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) mundial e dos países do G20. Essa nova projeção, divulgada recentemente, reduziu de 1,2% para 1% a previsão para o crescimento do PIB do Brasil e aumentou de 4,6% para 5,3% a expectativa de avanço do PIB chinês.
Parceiro gigante
A pauta de exportações do Brasil para os chineses é predominada por produtos de commodities agrícolas e minerais, com soja, minério de ferro e petróleo respondendo por mais da metade (74%) do total embarcado em 2022 com destino à China. “Faz todo sentido o presidente brasileiro ir à China, porque é o principal parceiro comercial do país e é o destino de uma importante fatia das exportações brasileiras (de 26,7% em 2022). O novo governo Lula é mais favorável à inserção do Brasil no cenário internacional, uma das poucas coisas coerentes desse terceiro mandato é a política externa. O resto é um desastre”, afirma o economista Simão Silber, professor da Universidade de São Paulo (USP).
Na avaliação de Silber, o Brasil é mais dependente da China, que voltará a crescer acima de 5%, do que o contrário. “A China é um país que todos querem fazer negócio e o Brasil também precisa fazer mais negócios com os chineses”, destaca o professor da USP. Não à toa, o governo brasileiro sinaliza que tem interesse em diversificar a pauta exportadora, que é focada em commodities agrícolas e minerais e, nesse sentido, a viagem tem como objetivo ampliar a parceria para o processo de reindustrialização.
Embargo
O governo brasileiro tem interesse em derrubar o embargo à carne bovina e diversificar a pauta comercial entre os dois países e focar mais em parcerias voltadas para a preservação do meio ambiente e o desenvolvimento industrial e tecnológico, com foco na reindustrialização, uma das prioridades da agenda do novo governo, de acordo com o embaixador Eduardo Saboia, secretário de Ásia e Pacífico do Ministério das Relações Exteriores (MRE).
Sem tomar partido
A expectativa dessa terceira viagem de Lula ao gigante asiático, que é o maior parceiro comercial do Brasil desde 2009, deverá ser acompanhada de binóculos pelos Estados Unidos, na avaliação do presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro. Ele reconhece que, para o país, é importante não tomar partido entre os dois maiores parceiros comerciais. “China e EUA estão em lados opostos, e, quando não se pode agradar os dois ao mesmo tempo, neste momento, quanto menos Lula falar, de forma assertiva, ele poderá evitar se arrepender no futuro. O mundo está em uma fase de transição e ficar em cima do muro pode ser cômodo, mas oferece riscos, porque será cobrado em algum momento”, destaca.
Na avaliação do deputado federal Fausto Pinato (PP-SP), presidente da Frente Parlamentar Brasil-China e Brics no Congresso, Lula deverá adotar um tom conciliador, a exemplo da viagem feita a Washington, no mês passado. “Lula tem sinalizado para nossos principais parceiros comerciais, os Estados Unidos e também para a China. Entendo que ele está tentando adotar um conciliador. Por mais que na questão geopolítica acabou declarando um apoio à Ucrânia, ele sempre tenta chamar uma sinalização de paz em relação à Rússia”, afirma.
Parceria estratégica
O ex-embaixador Rubens Barbosa, por sua vez, considera que essa viagem de Lula é o desdobramento da diplomacia do novo governo, que deu prioridade ao Mercosul e ao Hemisfério Ociental nos primeiros dias de governo e, agora, realiza a primeira visita fora da região. “A primeira visita fora do Hemisfério para o maior parceiro comercial, que é a China, é coerente com as prioridades do Brasil e das empresas brasileiras. A agenda do encontro é muito densa, mas a parceria estratégica entre os dois países desenvolveu mais o lado da China do que o do Brasil”, destaca o diplomata.
“A ida de Lula à China conclui o que podemos chamar de uma jogada de abertura da política externa do governo Lula 3. Ele anunciou, desde o início, que se ela seria baseada no tripé dos maiores parceiros comerciais: Argentina, Estados Unidos e China. Ele já cumpriu as duas primeiras etapas e vai para a terceira. Não vejo nada especial além desse aspecto”, avalia o ex-embaixador e ex-ministro da Fazenda Rubens Ricupero. Na avaliação dele, em território chinês, a visita presidencial deverá ser dominada pelo ângulo econômico, no intuito de atrair mais investimentos chineses para o Brasil, porque o comércio bilateral cresce de forma autônoma e não de