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Estado de Minas MINISTÉRIO DA SAÚDE

Governo Bolsonaro jogou fora R$ 15 milhões em canetas de insulina vencidas

Dados sobre o estoque perdido da Saúde, que deixaram de ser sigilosos, ainda mostram que foram descartados 39 milhões de vacinas contra a Covid-19


20/03/2023 15:54 - atualizado 20/03/2023 16:39

Canetas de insulina
Associações médicas e de pacientes chegaram a alertar o ministério, antes do fim da validade, que havia excesso de burocracia para ter acesso ao produto (foto: Eli Lilly do Brasil/Divulgacao)
O Ministério da Saúde descartou 999,7 mil canetas de insulina de ação rápida durante a gestão Jair Bolsonaro (PL).


Avaliados em quase R$ 15 milhões, os produtos usados para diabetes perderam a validade de setembro de 2020 a junho de 2021. Os lotes eram parte de uma compra de 4 milhões de tubetes, feita em 2018.

Como mostrou a Folha de S.Paulo, os dados sobre o estoque perdido da Saúde, que deixaram de ser sigilosos, ainda mostram que foram descartados 39 milhões de vacinas contra a Covid até o fim de fevereiro, avaliados em R$ 2 bilhões.

Na gestão Bolsonaro também foram perdidas terapias de alto custo, remédios para pessoas vivendo com HIV/Aids, entre outros produtos.

 

 

Associações médicas e de pacientes chegaram a alertar o ministério, antes do fim da validade, que havia excesso de burocracia para ter acesso ao produto.

Para receber as doses de insulina análoga de ação rápida, o paciente precisava ser atendido por um endocrinologista. Esse médico teria de preencher um extenso relatório.

Presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes, o médico Levimar Araújo disse que o correto seria liberar a insulina ao paciente por meio de uma receita mais simples.

"Às vezes o médico precisa preencher um documento de seis folhas. Fiz medicina para examinar os pacientes, não para isso", afirmou.

Ele ainda aponta como barreira a exigência de pacientes renovarem a receita para pegar novos tubetes.

No começo de março, os ministros do TCU (Tribunal de Contas da União) abriram uma tomada de contas especial para avaliar responsabilidade sobre a má gestão de estoques da Saúde.

Um dos pontos destacados em auditoria do tribunal é a perda das insulinas.

"A causa dessa perda encontra-se associada às deficiências no planejamento da contratação", apontaram os técnicos do tribunal.

 

O lote foi o primeiro desse tipo de insulina comprado pela Saúde.

Para o tribunal, como não havia "informações precisas e confiáveis para definição do quantitativo, ou registros históricos de consumo", a compra deveria ter sido feita de forma parcelada, para evitar o fim da validade dos produtos.

O ministério ainda incinerou na gestão Bolsonaro outros tipos de insulina, além de bomba de infusão e agulhas usadas na caneta. Essas perdas, porém, foram em quantidades menores, avaliadas em R$ 13 mil.

Apenas a incineração das canetas de insulina vencidas custou R$ 64 mil.

Segundo o médico Levimar Araújo, a insulina de ação rápida ajuda a reduzir episódios de hipoglicemia.

Sem o produto, quem convive com a diabetes tem maior chance de cegueira, amputações, entre outras complicações da doença, afirma ainda Araujo.

Em nota, a Saúde disse que o cenário de perda de vacinas, medicamentos e outros insumos " reflete o descaso do governo anterior, que negou à equipe de transição informações sobre estoques e validade desses produtos."

A pasta afirma que trabalha para adequar estoques e melhorar a distribuição dos produtos.

Há ainda a busca de uma solução pactuada com os conselhos de secretários estaduais e municipais de saúde com o objetivo de evitar novos desperdícios.

Questionado durante a semana sobre as perdas, o ex-ministro Marcelo Queiroga (que comandou a pasta de março de 2021 a dezembro de 2022) afirmou que não tem dados sobre estoques e que essas informações ficam sob cuidado das áreas técnicas.

Já Luiz Henrique Mandetta, primeiro ministro da Saúde do governo Bolsonaro (de janeiro de 2019 a abril de 2020), disse que no período em que comandou a pasta houve esforço para adequar a gestão dos estoques, ao transferir os produtos de armazéns no Rio de Janeiro para uma central em Guarulhos, na Grande São Paulo.

O atual deputado federal Eduardo Pazuello (PL-RJ), que também foi ministro da Saúde no governo Bolsonaro (de junho de 2020 a março de 2021), não se manifestou.

Estoques perdidos do SUS

 

Produtos descartados a partir de 2019


Vacinas para Covid-19:
 39 milhões de doses/ R$ 2 bilhões

Outras vacinas: 7,4 milhões de frascos*/R$ 128 milhões

Caneta de insulina: 1 milhão de unidades/R$ 15 milhões

Terapias de doenças raras: ao menos 12 tipos/ R$ 13 milhões

Outros insumos: cerca de 96 milhões

Total perdido: cerca de R$ 2,2 bilhões


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