Um grupo de 29 arquitetos, urbanistas e pesquisadores de diferentes universidades e institutos brasileiros apresentou ontem um estudo em que questionam as alterações que a Prefeitura de BH quer fazer no plano diretor da cidade. “Chama atenção a falta de embasamento técnico, a renúncia fiscal e os conflitos com princípios, determinações e diretrizes do plano”, diz o documento, que foi apresentado ontem em audiência pública na Câmara Municipal.
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Os principais impactos negativos apontados pelo grupo de arquitetos e urbanistas são a redução do investimento público devido à renúncia fiscal gerada pelo desconto na OODC e o aumento de moradias no centro da capital, na contramão da determinação de descentralização, estabelecida no plano diretor.
“A PBH não apresentou nenhum estudo que embasasse a mudança em um dos principais mecanismos do plano diretor. A solicitação desses estudos foi feita pelo Instituto de Arquitetos do Brasil, mas não obteve resposta. Em janeiro de 2023 o corpo técnico da Subsecretaria de Planejamento Urbano (Suplan) publicou uma nota contrária à alteração. Há estudos técnicos? Se sim, quem os realizou?”, questiona o grupo.
Ao lado das vereadoras do Psol, Iza Lourença e Cida Falabella, o documento foi apresentado em um dos plenários do parlamento belo-horizontino por quatro autores do estudo: a pesquisadora do Observatório das Metrópoles Júlia Birchal; a professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Jupira Mendonça; o urbanista e professor da UFMG Roberto Andrés e o presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB-MG), Silvio Motta. “O PL 508 é muito grave. Faz uma renúncia de arrecadação inexplicável e desvirtua o plano diretor de Belo Horizonte, sem passar pelo processo de participação que a lei exige”, declarou Andrés.
Desconto
O estudo também destacou que o PL permite aos projetos já protocolados usufruírem do desconto na taxa da Outorga, o que poderia gerar um prejuízo de dezenas de milhões para os cofres públicos.
“Evidencia-se aí o caráter de renúncia fiscal da medida: projetos dentro da Avenida do Contorno protocolados, que já realizaram uma demanda de compra de outorga com a taxa de 0,5, receberão um desconto do município de mais de 60%. O empreendedor já solicitou a compra da outorga na taxa de 0,5, mas, se o PL 508/2023 for aprovado, o município oferecerá ao empreendedor um inédito desconto pós-venda. A renúncia fiscal para os projetos já protocolados pode ser da ordem de R$ 65 milhões de reais”, avalia a nota.
O Executivo Municipal aponta que o projeto busca alinhar os preços da outorga onerosa aos praticados no mercado imobiliário e incentivar a implementação de equipamentos públicos e novas unidades de habitação de interesse social. O Estado de Minas pediu um posicionamento da prefeitura sobre os questionamentos feitos na nota técnica, mas não recebeu nenhum retorno até a publicação desta matéria.