O porta-voz da diplomacia ucraniana, Oleg Nikolenko, respondeu uma fala do presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que, em encontro com jornalistas na quinta-feira (7/4), sugeriu que o país do leste europeu desistisse da Crimeia, em troca do fim da guerra contra a Rússia.
Segundo Nikolenko, os esforços para restaurar a paz serão baseados no respeito pela soberania total do território ucraniano, de acordo com os princípios da Carta das Nações Unidas.
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Cabe lembrar que a Ucrânia ainda não faz parte da aliança militar da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), mas é considerada um “país parceiro” pelo bloco, que inclui os Estados Unidos e outras potências europeias. Lula acredita que esses países deveriam ter gastado mais tempo tentando negociar a paz.
“O Brasil defende a integridade territorial de cada nação. Nós não concordamos com a invasão da Rússia na Ucrânia. Agora, nós achamos que o mundo desenvolvido, sobretudo a União Europeia e os Estados Unidos, não poderia ter aceitado entrar na guerra da forma como entraram, com rapidez, sem antes gastar muito tempo tentando negociar. E negociar a paz é muito complicado”, destacou o presidente brasileiro.
Nikolenko disse que não há razão que justifique o abandono da Crimeia, mas agradeceu os esforços de Lula para encontrar uma maneira de deter as agressões russas. “A Ucrânia aprecia os esforços do presidente do Brasil em encontrar uma solução para o fim da agressão russa. Ao mesmo tempo, deixamos claro que não trocamos nosso território. Não há razão legal, política ou moral que justifique o abandono e um único centímetro do território ucraniano”, afirmou o porta-voz ucraniano.
Lula é convidado para a cúpula do G7
Na noite dessa quinta-feira (6/4), o primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, formalizou o convite para o Brasil participar da cúpula do G7, grupo composto pelas sete economias mais industrializadas do planeta: Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido. O evento foi realizado na cidade de Hiroshima, no Japão, de 19 a 21 de maio.
O bloco anteriormente era chamado de G8, mas a Rússia foi expulsa em 2014, após a invasão e anexação da Crimeia. Essa é a primeira vez que o Brasil é convidado para o evento desde 2009, no segundo governo Lula. O convite geralmente é feito para países em desenvolvimento que possam contribuir em debates importantes para a agenda global, como o meio ambiente.
Se aceito o convite, a expectativa é que o presidente Lula também leve os esforços de paz para a discussão do grupo. O assunto também deve ser tema da visita do chefe do Executivo brasileiro à China, durante encontro com o presidente Xi Jinping, visto como importante mediador na resolução do conflito.
Brasil não assina declaração sobre a Guerra
Apesar de ser um "jogador" com relevância e cultivar um certo respeito na geopolítica internacional, o Brasil não assinou a declaração da edição da Cúpula pela Democracia de 2023. O evento virtual promovido pelo governo dos Estados Unidos ocorreu, pela segunda vez, no fim de março.
O documento, entre outros assuntos, faz críticas contundentes à invasão russa na Ucrânia. No total, 76 países assinaram a declaração. Destes, 16 declararam apoio ao texto com ressalvas em pontos específicos. Armênia, Índia e México estão entre as nações que manifestaram discordância em relação ao parágrafo da declaração que trata de forma mais ostensiva sobre o conflito na Ucrânia.
A decisão pela não adesão à declaração final da cúpula partiu da discordância de Lula em usar o evento para condenar as atitudes da Rússia. Para diplomatas brasileiros, o ambiente ideal para discutir temas relacionados à guerra seriam a Assembleia Geral e o Conselho de Segurança das Nações Unidas.
“Estamos profundamente preocupados com o impacto adverso da guerra na segurança alimentar global, energia, segurança e proteção nuclear e meio ambiente. Exigimos que a Rússia retire imediatamente, completa e incondicionalmente todas as suas forças militares do território da Ucrânia dentro de suas fronteiras reconhecidas internacionalmente e pedimos o cessar das hostilidades”, disse uma parte da declaração.