Jornal Estado de Minas

EXECUTIVO

Lula tem menos engajamento do que Bolsonaro nas redes


Cristiana Martins e Diana Yukari

São Paulo - Pautas sociais, como direitos humanos, saúde e combate à fome, ganharam destaque na comunicação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nos 100 primeiros dias de seu terceiro governo, completados ontem. Cerca de 42% das publicações feitas pelo perfil do presidente no Twitter desde a posse tratam desse grupo temático, contra apenas 17% das postagens do antecessor no mesmo período — Jair Bolsonaro (PL) assumiu o cargo em janeiro de 2019. Mesmo com o esforço da equipe de Lula para tornar a comunicação petista mais dinâmica, Bolsonaro ficou bem à frente no engajamento no período. Lula publicou mais, mas o ex-presidente conseguiu angariar mais curtidas e interações com público na rede social. A estratégia digital de Bolsonaro também foi amparada em suas lives semanais, transmitidas sempre às quintas-feiras no YouTube. Já a hipótese de Lula realizar transmissões ao vivo pela internet, como seu antecessor, foi confirmada ontem pelo ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência, Paulo Pimenta

O DeltaFolha analisou o comportamento de ambos no Twitter porque a rede social é a única cuja plataforma para programadores permite a extração automatizada de dados. Além disso, ela é a ferramenta mais usada para medir o debate público, já que as publicações atingem pessoas além dos seguidores. Com uma conta criada quatro anos antes (2010), Bolsonaro tem 11,2 milhões de seguidores, enquanto Lula (2014) conta com 7,5 milhões. As mensagens de Bolsonaro nos cem primeiros dias de governo têm em média 33,2 mil curtidas e 4.198 retuítes. Já o perfil de Lula registra 16,6 mil e 1.603, respectivamente. A reportagem analisou as 1.570 publicações que Lula e Bolsonaro somam na reta inicial dos respectivos mandatos –foram desconsiderados os retuítes e as respostas diretas a seguidores.





As mensagens foram categorizadas a partir de palavras-chave ligadas à atuação específica de cada ministério do governo, de forma automatizada, com auxílio do modelo de inteligência artificial do ChatGPT. Depois, esses tópicos foram agrupados pela reportagem em quatro grandes temas (política, economia, sociedade e meio ambiente).

Os cem primeiros dias são considerados decisivos para um novo governo. É quando o governante tenta aproveitar os maiores índices de popularidade após a eleição para estabelecer acordos e definir diretrizes. O petista teve uma comunicação mais voltada a tópicos relacionados a direitos humanos e igualdade racial ou de gênero (15%), pobreza e assistência social (8%), educação e saúde (6% cada). Bolsonaro, por sua vez, escreveu mais sobre infraestrutura e transportes (8%), segurança (7%) e economia (6%).
 

Em seu perfil, Lula reconheceu a prioridade aos temas sociais e, em um segundo momento, à pauta econômica com foco na classe média. "Quando completarmos os 100 dias, teremos voltado com todas as políticas públicas que criamos e que deram certo nesse país", escreveu em 20 de março. "A partir daí, vamos mostrar outras coisas, sobretudo para melhorar o poder aquisitivo da classe média", acrescentou. Em comum, ambos usaram a rede principalmente para destacar medidas do próprio governo ou comentar temas da política institucional ou partidária, além das relações exteriores –os dois se reuniram com outros chefes de Estado e fizeram viagens internacionais no período (Bolsonaro fez quatro e Lula, três), tendo registrado muito dessas agendas na plataforma.





Bolsonaro explorou muito mais a interação direta com seguidores do que Lula – 9,3% de suas publicações eram saudações diárias sem muita pompa, agradecimentos, emojis e convocações para eventos e transmissões ao vivo. O perfil de Lula só fez isso em 1,7% das postagens. Apesar de ter publicado menos, a página de Bolsonaro tem quase o triplo de hashtags e menções diretas a outros usuários na comparação com a de Lula. O ex-presidente fez 591 posts no período, ante 979 do atual.

A média de Lula é puxada para cima por alguns tuítes que viralizaram mais, mas o perfil de Bolsonaro apresenta maior constância de popularidade.
 

Além de engajar mais, Bolsonaro atacou a imprensa e os adversários com mais frequência, seguindo a cartilha digital do ex-presidente americano Donald Trump. A análise mostra que 7,9% das publicações de Bolsonaro foram sobre ataques à imprensa, ideologia e polarização partidária ou mídia, ante 2,6% de Lula na soma desses mesmos temas. O atual presidente tem uma presença mais institucional na rede. Algumas mensagens são acompanhadas da hashtag #EquipeLula, indicando que a postagem foi realizada por assessores. A estratégia de redes sociais de Bolsonaro era comandada pelo seu filho Carlos Bolsonaro, vereador do Rio de Janeiro pelo Republicanos.

Um dos usos frequentes –e que ajuda a explicar o peso dos temas sociais no perfil do petista– é a publicação dos discursos oficiais, muitas vezes na íntegra. Isso aconteceu na posse, no Dia Internacional da Mulher e no relançamento do Bolsa Família, por exemplo. (Folhapress)