"Interessa a todos a investigação", resumiu o ministro, em uma breve conversa com a reportagem enquanto se encaminhava para um helicóptero da Marinha pousado no Riocentro, onde ele tem um gabinete montado na LAAD, maior feira militar da América Latina.
Múcio não quis comentar particularmente a questão dos depoimentos, que estão em curso na capital federal. Apuração conduzida pelo Supremo Tribunal Federal quer saber se houve leniência ou coparticipação de militares com os golpistas bolsonaristas que invadiram e depredaram as sedes dos três Poderes em 8 de janeiro.
O laconismo coaduna com o trabalho empreendido por Múcio desde dezembro, quando foi chamado pelo então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para tentar refazer pontes entre o petista e os militares, implodida durante quatro anos de relação simbiótica de parcelas significativas das Forças Armadas com o governo do capitão reformado Jair Bolsonaro (PL).
O ministro indicado reuniu-se com o próprio Bolsonaro para desarmar a revolta institucional sugerida pelos então comandantes de Forças, que queriam deixar o cargo antes da indicação de sucessores para não se submeter a Lula. Os chefes militares nem aceitavam falar com Múcio, que por fim achou uma solução salomônica e fez a escolha dos novos comandantes já em dezembro.
Como nada é simples no Brasil, Múcio passou a ser bombardeado pelo PT, particularmente depois que bolsonaristas acampados em frente ao QG do Exército em Brasília formaram o núcleo da tropa de assalto golpista do 8/1. Até Lula questionou sua postura de apaziguamento.
Para agravar a crise, houve a demissão do comandante do Exército, Júlio Cesar de Arruda, que desagradou o Planalto na condução do pós-8/1 e manteve a promoção do ajudante de ordens de Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid, a um posto estratégico.
Até aqui, contudo, Múcio prevaleceu. Colocou Lula para almoçar com o Almirantado e não fez objeções à promoção sugerida de um oficial conhecido pelo bolsonarismo para integrar o colegiado. Agora, o presidente irá se reunir com o Alto-Comando do Exército e, depois, com o da Aeronáutica.
O novo chefe do Exército, general Tomás Ribeiro Paiva, conduz um programa de despolitização interna da Força. Tem sofrido fortes de críticas de alguns setores, que se manifestam por meio de sites militares, blogueiros de direita e grupos de WhatsApp.
O ministro apresentou uma proposta alternativa à do PT para mudar o regramento da relação com os militares. Em vez de mudar o polêmico artigo 142 da Constituição, Múcio fez avançar projeto que obriga fardados a tirarem o uniforme se quiserem entrar na política, sem caminho de volta.
Por fim, ele também estabeleceu prioridade para a criação de mecanismos para custear novos projetos militares e estimular a indústria de Defesa, que responde por 4,5% do Produto Interno Bruto e depende do governo como cliente primário.
Se isso tudo dará certo, é insondável agora, mas políticos de partidos aliados ao governo elogiam a disposição da Defesa e prometem apoio parlamentar ao que for preciso.