Xangai, Pequim – Em seu primeiro pronunciamento na visita à China, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou instituições financeiras tradicionais como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a dependência internacional em relação ao dólar.
discursou na cerimônia de posse da ex-presidente Dilma Rousseff como presidente do Novo Banco do Desenvolvimento (NDB).
O petista defendeu que os países em desenvolvimento passem a adotar mecanismos para financiamento de projeto e exportações em suas moedas locais. Ele Foi o principal evento do qual participou na China ontem, além de uma visita a uma big tech. Hoje, Lula será recebido pelo presidente Xi Jinping, em Pequim. O NDB foi fundado em 2014 pelos Brics, grupo que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
Cada país fez aporte de recursos ao NDB, que financia projetos de infraestrutura nessas nações. O banco foi criado em 2014 e, além dos Brics, conta também com Egito, Emirados Árabes Unidos e Bangladesh. Dilma Rousseff assumiu a presidência do banco após uma articulação política liderada pelo governo brasileiro já sob o comando de Lula.
''Quem decidiu que era o dólar a moeda depois que desapareceu o ouro como padrão? Por que não foi yene? Por que não foi o real? Por que não foi peso? Porque as nossas moedas eram fracas, porque hoje um país precisa correr atrás do dólar para poder exportar, quando ele poderia exportar sua própria moeda e os bancos centrais certamente poderiam cuidar disso''
Luiz Inácio Lula da Silva, presidente da República, em discurso na posse de Dilma Rousseff no comando dos Brics
"Quem decidiu que era o dólar a moeda depois que desapareceu o ouro como padrão? Por que não foi yene? Por que não foi o real? Por que não foi peso? Porque as nossas moedas eram fracas, porque hoje um país precisa correr atrás do dólar para poder exportar, quando ele poderia exportar sua própria moeda e os bancos centrais certamente poderiam cuidar disso", afirmou Lula em seu discurso. "É difícil porque tem gente mal-acostumada porque todo mundo depende de uma única moeda. Acho que o século 21 pode mexer com a nossa cabeça e pode nos ajudar, quem sabe, a fazer as coisas diferentes", afirmou também o petista.
O petista afirmou ainda que o FMI e o Banco Mundial não deveriam ficar “asfixiando” as economias de países em desenvolvimento. "Os bancos têm de ter paciência. Se for preciso, renovar o acordo e colocar a palavra tolerância em cada renovação, porque não cabe ao banco ficar asfixiando as economias dos países, como agora com a Argentina o Fundo Monetário Internacional". Em crise econômica, a Argentina recorreu a empréstimos do FMI.
Ele ainda defendeu a criação de instituições financeiras alternativas para bancar projetos em países em desenvolvimento. Para ele, a ideia é evitar a dependência do FMI, por exemplo. "Durante os oito anos em que estive na Presidência do Brasil, tentamos criar o Banco do Sul, na perspectiva de unificar toda a América do Sul em torno de um projeto que nos permitisse financiamento para o investimento nas coisas necessárias do nosso país sem que a gente precisasse se submeter às regras colocada pelo Fundo Monetário Internacional", afirmou Lula.
"O FMI, quando empresta dinheiro para um país de terceiro mundo ou qualquer outro banco, quando empresta para outro país do terceiro mundo, as pessoas se sentem no direito de mandar, de administrar as contas do país", criticou o presidente. "Vocês se lembram, sobretudo no Brasil, quando todo ano descia um homem e uma mulher no aeroporto do Rio de Janeiro ou de Brasília para ir fiscalizar as contas do nosso país. Nós mudamos a regra", emendou Lula.
Em referência ao NDB, o presidente brasileiro afirmou: “Pela primeira vez, um banco de desenvolvimento de alcance global é estabelecido sem a participação de países desenvolvidos em sua fase inicial. Livre, portanto, das amarras das condicionalidades impostas pelas instituições tradicionais às economias emergentes. E mais: com a possibilidade de financiamento de projetos em moeda local”. O presidente ainda destacou que a criação do banco dos Brics mostra que a união de países emergentes é capaz de gerar mudanças sociais e econômicas relevantes para o mundo.
Bolsonaro
O mandatário ressaltou que o Brasil esteve ausente dos importantes debates internacionais durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). E que agora tem muito a contribuir no combate à fome e a crise climática, questões consideradas “centrais”. “O tempo em que o Brasil esteve ausente das grandes decisões mundiais ficou no passado. Estamos de volta ao cenário internacional após uma inexplicável ausência”, ressaltou Lula.
Por fim, Lula declarou que o Brasil quer compartilhar a experiência de crescimento econômico com inclusão social que viveu durante seus primeiros governos e também na gestão de Dilma Rousseff. Lula destacou que as políticas no período foram importantes para tirar 36 milhões de pessoas da extrema pobreza, retirar o país do mapa da fome, e elevar o Brasil ao posto de sexta maior economia do planeta.
Visita a centro de pesquisa e reuniões com executivos
Victor Correia - Correio Braziliense
Brasília - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) visitou ontem o centro de pesquisa e desenvolvimento da empresa de tecnologia Huawei, em Xangai, China. A multinacional chinesa é uma das maiores do ramo de tecnologia e comunicações, e está entre as 10 marcas mais valiosas do mundo.
Segundo o ranking da Global 500 de 2022, é avaliada em US$ 71,2 bilhões. Lula esteve no centro de pesquisa acompanhado do chairman da Huawei, Liang Hua. Além disso, a agenda do presidente incluiu reunião com o presidente do Conselho da China Communications Construction Company (CCCC), Wang Tongzhou, a maior empresa de construção civil da China, e com o CEO da BYD, Wang Chuanfu, fabricante de veículos elétricos.
“Visitei o centro de desenvolvimento de tecnologias da Huawei. A empresa fez uma apresentação sobre 5G e soluções em telemedicina, educação e conectividade. Um investimento muito forte em pesquisa e inovação”, escreveu o presidente em publicação nas redes sociais.
Durante encontros com empresários, Lula defendeu seu desejo de aumentar a cooperação entre empresários brasileiros e chineses. Wang Tongzhou, da CCCC, sugeriu ao presidente brasileiro uma iniciativa para realizar transações diretas na moeda chinesa, o yuan, sem depender do dólar americano. Já a BYD, que está negociando uma fábrica de automóveis elétricos em Camaçari, Bahia, falou a Lula sobre as políticas do governo chinês que fomentaram a indústria de veículos elétricos.
Na Huawei, a comitiva presidencial foi recebida com um painel contendo informações sobre a presença da chinesa no mercado brasileiro, incluindo os setores de 5G, telemedicina, educação e conectividade. A multinacional tem parceria com todas as operadoras de comunicação do Brasil na implantação da tecnologia 5G, e atua no país há mais de duas décadas.
O presidente estava acompanhado da primeira-dama, Rosângela da Silva, a Janja, do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, do ministro das Comunicações, Juscelino Filho, do presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), entre outros integrantes do governo. A comitiva foi recebida e acompanhada por executivos da Huawei.
Um dos principais objetivos da visita de Lula à China é o fechameno de parceria estratégias nos setores de infraestrutura, comunicação, tecnologia e energia limpa. O presidente reforça, desde a campanha eleitoral, a necessidade de aproximação com o país asiático e a retomada das relações, estremecidas, no âmbito diplomático, durante o governo de Jair Bolsonaro (PL). No setor econômico, porém, a parceria comercial inclusive cresceu nos últimos anos, apesar dos ataques constantes do ex-presidente à China.
A visita de Lula à Huawei, porém, causa desconforto na relação com os Estados Unidos. A Huawei já foi acusada de espionagem pelo governo norte-americano, que apontou que os equipamentos da empresa poderiam ser usados para coletar informações em favor do governo chinês. Tanto a multinacional, que é privada, quanto o governo da China negaram as acusações. Em 2022, a empresa foi sancionada pelo governo dos EUA, o que reduziu o seu lucro líquido em cerca de 69% no ano.
Em comunicado, a Presidência da República informou que a Huawei reforçou o compromisso de trabalhar numa perspectiva de longo prazo para o desenvolvimento sustentável do Brasil, em parcerias com foco em conectividade, inclusão digital, educação, saúde e reindustrialização.
“A apresentação mostrou, por exemplo, conquistas em projetos de conectividade digital em zonas remotas da Amazônia e ações para conectar escolas públicas e interligar setores de segurança”, destacou.
Veículos
Após a visita, Lula esteve com o líder da empresa de veículos elétricos BYD, Wang Chuanfu. A empresa produz ônibus elétricos e está negociando uma fábrica de automóveis elétricos em Camaçari, na Bahia.
Segundo o Planalto, Chuanfu falou sobre as políticas públicas chinesas que deram ao país “uma indústria forte de veículos elétricos” e ampliação de sua adoção, tanto de carros de passeio como ônibus de transporte público.
Em seguida, Lula, acompanhado por ministros de estado e governadores que estão na comitiva, se reuniu com o presidente do conselho da China Communications Construction Company (CCCC), Wang Tongzhou. Segundo a Presidência, essa é a maior empresa de construção civil na China e, no Brasil, investe em obras de infraestrutura como a construção da ponte entre Salvador e Itaparica, na Bahia.
Petista entre os mais 100 influentes
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi incluído na lista de 100 pessoas mais influentes de 2023 promovida pela revista americana “Time”. A compilação, feita anualmente e divulgada ontem, mostra o petista na seção dedicada a líderes —ele figura nela ao lado do presidente dos EUA, Joe Biden, do primeiro-ministro alemão, Olaf Scholz, e do líder da Colômbia, Gustavo Petro, entre outros.
O texto dedicado a Lula foi assinado por Al Gore, vice-presidente dos EUA durante os dois mandatos de Bill Clinton (1993-2001). O democrata, candidato derrotado à Presidência na eleição americana de 2000, descreve o chefe do Planalto como um "climate champion", ou seja, um líder da causa ambiental.