Jornal Estado de Minas

ENTREVISTA /CARLOS VIANA

Carlos Viana quer ser candidato à Prefeitura de BH

Eleito por 3,5 milhões de mineiros em 2018, o senador Carlos Viana (PL) foi terceiro colocado na eleição para o governo do estado no ano passado, com 783 mil votos. Agora, em meio a continuidade do trabalho em projetos nacionais, estaduais e municipais, o parlamentar inicia a segunda metade do seu mandato com nova meta: concorrer à Prefeitura de Belo Horizonte em 2024.




 
“Quero ser candidato a prefeito, penso que posso ajudar. Conheço essa cidade, há quase 50 anos moro aqui. Conheço todos os locais, as dificuldades. Tenho bom relacionamento com as periferias. Tenho respeito muito grande pelas populações, vilas e favelas. E a minha visão é de que a cidade precisa avançar”, declarou. Como parte deste movimento, o parlamentar deixou, em fevereiro, o Partido Liberal (PL), do ex-presidente Jair Bolsonaro, e se filiou ao Podemos, sua quinta sigla desde que entrou para o Congresso Nacional. Antes, esteve no PHS, PSD e MDB.

O jornalista de 59 anos passou por jornais, revistas e emissoras de rádio e televisão em mais de duas décadas de carreira. De 1999 a 2004, trabalhou na TV Alterosa, que pertence ao Diários Associados, mesmo grupo que edita o Estado de Minas. No Congresso, foi vice-líder do governo de Bolsonaro e atualmente preside a Frente Parlamentar Evangélica.
 



Em fevereiro, o senhor deixou o PL para se filiar ao Podemos. Esta troca foi feita pensando em disputar a prefeitura de BH?
Essa é uma troca que foi feita pensando numa articulação política mais ampla. Primeiro, porque os partidos hoje no Brasil não representam nada. Nós precisamos, inclusive, modificar. Ter uma nova lei que realmente dê aos partidos uma representação. A minha visão sobre a questão do Podemos foi que cumpri o meu papel com o PL no convite que recebi para ser candidato ao governo de Minas Gerais, do primeiro ao último minuto. Mas já havia avisado que sairia do partido, que não ficaria por conta de tudo o que aconteceu, e são experiências já passadas. O Podemos me ofereceu a possibilidade de trabalhar na reestruturação do partido em Minas. Para mim é importante, até porque entro agora num ciclo de quatro anos finais de mandato. Ser o prefeito de BH, ser candidato à reeleição no Senado, voltar à minha profissão de jornalista é uma definição que preciso fazer agora. Quero ser candidato a prefeito, penso que posso ajudar. Conheço essa cidade, há quase 50 anos moro aqui. Conheço todos os locais, as dificuldades. Tenho bom relacionamento com as periferias. Tenho respeito muito grande pelas populações, vilas e favelas. E a minha visão é de que a cidade precisa avançar.





O senhor esteve no PL por menos de um ano. Fica algum ressentimento com o ex-presidente Jair Bolsonaro?
Não, nenhum. Eu aprendi muito. O aprendizado que tive como candidato a governador me mostrou muito mais sobre a política do que os primeiros quatro anos em que estou no Parlamento. O Senado é uma casa alta, onde você se relaciona com quem já passou por momentos políticos muito mais amplos, governadores, grandes líderes, grandes caciques da política. Ser candidato ao governo me mostrou principalmente que ninguém é candidato de si mesmo. Você precisa de grupos. Você precisa trabalhar os apoiadores. Segundo ponto: você não pode entrar num partido para ser presidente ou para ser candidato sem o apoio dos demais. Você gera um constrangimento entre os próprios colegas. O que aconteceu no PL? Os deputados em Minas já tinham um acordo político e, naturalmente, não aceitaram de bom grado uma candidatura que veio imposta. Então, isso me ensinou que na política o que manda é realmente a construção partidária de grupos. E sem esses apoiadores, dificilmente, uma pessoa consegue uma eleição bem sucedida.

O senhor se sente mais preparado para pleitear a prefeitura de BH?
Esses quatro anos no Senado me ensinaram muito. Eu deixei de lado o comentário político para viver a política, para fazer política no dia a dia. É uma diferença muito grande. Você está no centro das decisões e analisando essas decisões. Hoje eu me sinto preparado para disputar qualquer cargo, seja o de prefeito, seja o próprio governo do estado, de uma maneira muito mais madura e muito mais ampla. Agora, se Belo Horizonte precisa de um bom gestor, se Belo Horizonte precisa de um novo projeto, de quem gosta de andar pelas ruas como eu gosto de andar, de quem gosta de ver a cidade iluminada como eu gosto de ver, então, vamos colocar o nome. Por que não? Se a população entender que mereço ser prefeito e me der a confiança de administrar Belo Horizonte, pode ter certeza, vamos transformar Belo Horizonte em uma grande capital da cultura.

Quais são seus projetos para a cidade?
Por exemplo, vamos falar do carnaval. Eu sou sempre questionado sobre isso: “Você é evangélico! E o carnaval?”. O carnaval é uma festa da população e a cidade é de todos. A cidade não é só dos evangélicos ou de quem quer que seja. Nossa cidade é de todo mundo. A festa do carnaval mostrou a vocação que Belo Horizonte tem para os grandes eventos de cultura.  Há quanto tempo não temos em Belo Horizonte um festival de cinema que a cidade patrocina? Nós temos tantas mineradoras aqui que são criticadas porque não podem participar. A gente cria, por exemplo, outra gastronomia. Nós já tivemos grandes eventos, como os de buteco em Belo Horizonte, que geram renda para a cidade e para os hotéis. A gente precisa começar a pensar uma Belo Horizonte em que as pessoas tenham prazer de andar nas ruas. Ande no Centro da cidade, um Centro escuro de Belo Horizonte. Você não tem segurança para nada. Por que não podemos pegar uma Guaicurus, por exemplo, e transformar numa Belo Horizonte 24 horas? Por que a gente não pode criar um projeto para aqueles prédios dos anos 50 e colocar os proprietários, iluminar como Miami, tudo em neon. Se você fizer um projeto, a prefeitura criar um projeto de incentivo para restaurantes e bares que queiram funcionar 24 horas, iluminar a Guaicurus com luz mesmo, botar a Guarda Municipal lá, vigiando durante a noite o tempo todo, transformar a cidade num centro cultural que é a nossa vocação. Eu me sinto muito animado quando penso nesses planos em relação ao futuro.





O senhor participou do processo de privatização do metrô de BH. Como avalia a assinatura da concessão e quais os próximos passos?
O metrô já poderia estar privatizado há pelo menos dois anos. E não faço aqui nenhuma crítica específica ao governador ou a quem for. Mas, em 2019, Minas Gerais não quis falar sobre metrô. Em 2020, também não quis falar sobre metrô. Ou seja, perdemos dois anos de uma solução. O metrô só veio a ter o encaminhamento quando mostrei ao então ministro Paulo Guedes que o metrô dava R$ 240 milhões de prejuízo todos os anos. Preciso citar o apoio importante que tive do então ministro da Infraestrutura Tarcísio de Freitas, que se prontificou a achar soluções para nós. Então, colocamos lá que o metrô precisava de R$ 2,8 bilhões. Imediatamente, o ministro aprovou e começamos a trabalhar pelo crédito. A única votação de orçamento para ampliação de trens urbanos no Brasil foi a nossa, em Belo Horizonte. E aqui preciso elogiar também o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), que pegou o projeto, que a gente chama de PLN, que é um projeto de orçamento complementar, abraçou e colocou em votação com o atual ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira, que era o principal articulador do Senado com o povo. Então, fizemos uma união da bancada e conseguimos a aprovação dos R$ 2,8 bilhões. Esse dinheiro foi liberado. O ex-presidente Bolsonaro veio aqui e entregou para o governo. Isso ficou na gaveta. Só chamou a atenção quando tivemos a campanha. Contei que o dinheiro estava disponível. Daí para frente, o processo de privatização andou. Eu tenho muita confiança de que vai melhorar a questão do transporte.

E sobre a situação dos ônibus em BH?
Se estamos discutindo o preço de passagem é porque os modais estão apenas em um único sentido, nos ônibus. Se tivéssemos feito o trabalho, o dever de casa de uma região metropolitana bem estruturada nos últimos 20 anos, o metrô hoje já ligaria Betim a Ribeirão das Neves. Já teríamos um preço muito menor nas passagens. Só que, como a gente vai postergando e vai só colocando os interesses de um determinado grupo, as coisas não funcionam e a população é que paga a conta. Então, o metrô privatizado eu considerei como meu melhor presente de aniversário e agora, se o governo do estado, e, principalmente, a prefeitura de Belo Horizonte fizerem bons acordos de terminais de ônibus com o metrô, a passagem pode ser reduzida e o transporte até o Centro da cidade fica muito mais fácil para a população.

O presidente Lula está completando 100 dias de governo. Qual a avaliação que o senhor faz deste primeiro momento?
O governo está perdido, perdido no sentido de não se entender. O PT não é um partido homogêneo, é um partido de grupos que brigam por esse espaço interno. Eles se juntam muito, são muito fortes, unidos, mas internamente eles brigam entre si. Então, o governo do presidente Lula é meio que uma briga interna. Ainda não se definiu. Tem outros partidos que estavam fora do poder, se juntaram e também querem esse espaço. Por exemplo, você tem um ministro da Agricultura que é um agropecuarista, que é um dos grandes exportadores de soja, que quer fazer um trabalho pelo agro. Aí vai lá o presidente da Apex-Brasil, que é o Jorge Viana do Acre, ex-senador, e fala mal do agronegócio brasileiro. O governo precisa se identificar, precisa tomar uma decisão. O que eu já percebi é que o Lula tem um senso de liderança muito firme e, por exemplo, o que acontecia no governo Bolsonaro, de que cada ministro era um superministro no governo dele não vai acontecer. Ele está chamando para si. É um passo importante, mas o governo precisa decidir quem ele é. A questão, por exemplo, da âncora fiscal, é uma discussão que envolve diversos setores, vários impactos. É um assunto que vamos discutir. O governo precisa dialogar mais. Nesses 100 dias, o governo ainda não se entendeu, não criou um diálogo específico com o Parlamento e precisa se definir no que ele quer para o futuro, para a gente poder ver se vai votar ou não.




 

Houve uma série de ataques em escolas nas últimas semanas. O que pode ser feito para levar mais segurança para todos?
É muita irresponsabilidade pessoas públicas, ou mesmo jornalistas, ficarem atribuindo esses ataques à direita ou à esquerda. É uma descontribuição para o país. Este é um problema social grave que temos, que é a questão da violência. E não é um problema brasileiro, é um problema no mundo todo. Se a gente for discutir, o agressor de Blumenau tinha vários processos, então, por que ele estava solto? A política do desencarceramento também é responsável por isso. “Ah, mas incentiva-se a questão de arma no Brasil”. Este não é o momento de discutir isso. A questão é: as escolas são frágeis e a gente precisa discutir segurança nas escolas. Para isso, temos a Guarda Municipal, que não foi feita para ocupar o mesmo espaço da Polícia Militar. É uma crítica que faço há vários anos. A gente precisa definir: onde uma não vai, a outra ocupa o espaço. É dinheiro do contribuinte e as duas têm um valor muito grande para nós. Então, a Guarda Municipal pode, e tem plena capacidade, de criar um programa de proteção nas escolas que garanta tranquilidade aos pais. Também temos que fazer o treinamento de professores. Nos EUA, as crianças e os professores, todos eles, passam por treinamentos específicos. E não é um exagero.

O Aeroporto Carlos Prates está desativado desde 1º de abril e o senhor tem uma proposta para o local. Qual é?
No mundo todo se abrem aeroportos e estamos querendo fechar. Vai chegar um momento em que avião não vai mais subir mais por pista, vai subir na vertical. Isso é factível, vai acontecer em um futuro muito menor do que a gente pensa e vamos precisar ter esses pontos nos centros da cidade. Os acidentes que acontecem lá não acontecem por conta das escolas de aviação. Infelizmente, são pilotos que muitas vezes não têm a experiência necessária. De cada dez, nove são pilotos que não respeitaram regras. A minha ideia é preservar o aeroporto pelo menos como heliponto. Criar ali uma exigência, por enquanto, só para helicóptero. Por exemplo: os Bombeiros quando vão apagar incêndio na Serra do Curral usam o Aeroporto Carlos Prates porque é mais perto e prático para reabastecer.

E o aeroporto da Pampulha?
Lutei muito para entregar ao governo de Minas e esse aeroporto se tornar um aeroporto regional. Não é fechar o aeroporto como eles fecharam lá e querer fazer shopping na área central de um prédio histórico. Isso está errado. Vou entrar com uma representação no TCU questionando que o aeroporto não está sendo usado no princípio e no propósito do contrato. Ali, teríamos que ter voos para Montes Claros, Governador Valadares, para que a gente pudesse fazer a aviação regional. Como foi entregue por pouco mais de R$ 20 milhões ao mesmo grupo de Confins, eles fecharam o aeroporto. Está errado, a cidade precisa de competição. A prefeitura de BH perdeu muita receita do ISSQN porque lá não tem mais voo comercial. “Ah, é o mesmo problema do Rio de Janeiro, com os aeroportos Santos Dumont e Galeão”. Não é. Qual foi o acordo: entrega a Pampulha e a Pampulha se transforma em um aeroporto regional. Como vice-líder do governo (Bolsonaro) consegui o dinheiro para reformar os aeroportos de Uberlândia, Uberaba, Montes Claros e Ipatinga. Fizemos isso justamente para que a Pampulha pudesse ser esse centro de voos regionais. Não foi o que aconteceu. Jogaram todo mundo para Confins e perdemos competição e a cidade perdeu dinheiro.