Jornal Estado de Minas

EX-GSI

Ex-ministro do GSI negou vídeo da invasão de 8/1 alegando problema técnico

Com a situação insustentável, o general Marco Edson Gonçalves Dias pediu demissão do cargo de ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI). O militar foi flagrado em gravações do circuito interno do Palácio do Planalto interagindo com extremistas bolsonaristas que invadiram e depredaram o local em 8 de janeiro. Ele é o primeiro ministro a cair neste terceiro mandato do petista.





G.Dias, como é conhecido, decidiu pela exoneração após reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O petista já havia sido aconselhado por aliados a dispensar o ministro. Na manhã de ontem, a CNN divulgou gravações das câmeras de segurança do Planalto, mostrando que o militar e outros oficiais do GSI circulavam pelo edifício em meio à invasão dos radicais bolsonaristas.

Fontes próximas a Lula, consultadas pelo Correio Braziliense, afirmam que o presidente não tinha visto as imagens que mostram G. Dias no Palácio do Planalto. O chefe do Executivo teria solicitado acesso ao vídeo das câmeras de segurança logo após os ataques, mas teria recebido do então ministro a informação de que o material estava indisponível, por causa de problemas técnicos. Ainda de acordo com interlocutores, o petista não insistiu no assunto, mas pediu que fosse avisado quando o arquivo fosse recuperado.

Em nota, o GSI afirmou que vai apurar a conduta de todos os envolvidos. Já a Secretaria de Comunicação Social (Secom) disse que, à época, o governo Lula era recém-empossado, "portanto, com muitas equipes ainda remanescentes da gestão anterior, inclusive no Gabinete de Segurança Institucional (GSI), que foram afastados nos dias subsequentes ao episódio". A pasta informou que todos os agentes que aparecem nos vídeos estão sendo identificados e que o governo tem tomado todas as medidas cabíveis na investigação do episódio.





Ao Jornal Nacional, da TV Globo, G.Dias alegou que, quando foi filmado no Planalto, estava auxiliando na prisão de bolsonaristas. "Cheguei ao Palácio quando os manifestantes tinham rompido o bloqueio militar na altura do Ministério da Justiça. Aquela turma desceu e praticamente invadiu o Palácio", disse.
 
"Não sei onde vazou. Distribuímos imagens para vários processos: à Polícia Federal, ao Ministério Público, à Polícia Militar, pedido pelo Cappelli (Ricardo Cappelli, interventor no Distrito Federal à época, nomeado por Lula), e ao Comando Militar do Planalto (...)", afirmou. "Todo o pacote enviado às autoridades policiais tem as imagens completas daquele dia fatídico, 8 de janeiro. Isso inclui essas imagens também. De onde vazou, realmente não sei. Merece até ser apurado."

Atestado médico

Horas depois de o escândalo estourar, G.Dias informou que não iria ao depoimento marcado na Comissão de Segurança Pública da Câmara dos Deputados. Ele prestaria esclarecimentos sobre as ações de sua pasta durante os atos antidemocráticos. Como justificativa, apresentou um atestado médico e se colocou "à disposição para agendamentos futuros".





O militar era o responsável por orientar o serviço de inteligência de segurança do presidente da República. Ele foi convocado a prestar depoimento por parlamentares de oposição. Os políticos alegam que ministros do governo Lula teriam prevaricado nas ações de enfrentamento aos bolsonaristas que destruíram os prédios dos Três Poderes.
 
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Em outra frente, a Polícia Federal deve intimar o ex-ministro do GSI a depor nos próximos dias. A corporação investiga a omissão de autoridades nos atos golpistas. O inquérito corre no Supremo Tribunal Federal (STF), sob relatoria do ministro Alexandre de Moraes.

Chefe interino

Após a queda de G.Dias, Cappelli assume interinamente o GSI. Secretário executivo do Ministério da Justiça e Segurança Pública, ele deve ficar no cargo até a escolha de um nome definitivo para o posto, decisão que cabe a Lula.

De acordo com fontes no governo, a escolha de Cappelli se deve ao trabalho realizado por ele durante a intervenção federal na segurança pública do DF, após os atentados de 8 de janeiro. Ele foi responsável por exonerar integrantes da segurança da capital suspeitas de participação ou omissão nos ataques.