A senadora Damares Alves (Republicanos-DF) se irritou com a fala de um convidado da Comissão de Direitos Humanos que disse já ter escutado relatos de “alucinações com goiabera”, mas não com “maconha medicinal”. Na ocasião, os parlamentares debateram com a sociedade civil o uso medicinal da cannabis quando o representante da Associação Brasileira Santa Cannabis, Pedro Sabaciauskis, proferiu a fala que irritou a ex-ministra dos Direitos Humanos, nesta quinta-feira (20/4).
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Partido de direita convoca manifestação contra Lula em PortugalFelipe Neto após anúncios da Shein: 'Faça o L imediatamente'César Gordin toma posse como vereador na Câmara de BHDamares vem a BH para lançamento de campanha de combate ao abuso infantilPF marca depoimento de Bolsonaro sobre atos golpistasO especialista ressaltou que os parlamentares de direita deveriam estar mais por dentro das discussões sobre cannabis, já que estariam descolados da realidade da cannabis medicinal no Brasil. “Cannabis não é droga, (...) é uma coisa muito segura, muito mais que uma aspirina. Eu já vi relatos, inclusive, de alucinações até com goiabeira, mas com cannabis não”, afirmou.
Damares ficou muito irritada com a comparação e pediu respeito por parte do convidado, já que a comissão precisa tomar decisões importantes sobre o tema. “O que eu vejo desde manhã, são agressões. Não vai ser assim que a gente vai tomar decisões e tem colegas que não vem para esse debate, porque não querem se submeter”, começou a senadora que primeiramente pediu respeito ao colega Osmar Terra, dizendo que ele foi escolhido pelo povo.
Sobre a goiabeira, ela disse: “Você não tem o direito de me machucar desse jeito, Pedro. Eu tive minha experiência em um pé de goiaba e o Brasil inteiro sabe da minha história, mas toda vez que vocês querem falar sobre direita ou esquerda, estão usando a goiabeira. Afaste a minha história desse debate Pedro, por favor. Você falar sobre alucinações em um pé de goiaba, está se referindo a mim. Chega!”, exclamou a senadora.
Damares também falou que o convidado precisa respeitar a história das crianças que já foram abusadas neste país, destacando que Pedro precisa levar seu argumento sem agressões, pois assim o senado estaria disposto a ouvi-lo. “Respeite a minha dor e a minha história. Eu trabalho com as mães que precisam do remédio, elas me conhecem, sabem do meu empenho. Mas vir aqui e me agredir, não. A gente não vai avançar dessa forma”, completou.
Damares e o pé de goiaba
Pouco antes de assumir como ministra dos Direitos Humanos do governo de Jair Bolsonaro (PL), em 2018, Damares, em entrevista ao UOL, deu detalhes sobre os abusos que sofreu enquanto criança. "Fui abusada por dois religiosos. Da primeira vez, foi um missionário da igreja evangélica que frequentávamos na época, em Aracaju. Foram várias vezes em um período de dois anos. Começou quando eu tinha seis anos e, a última vez que o vi, estava com oito", relata Damares.
Depois dos abusos, Damares diz ter se tornado uma criança retraída e com muitas dificuldades de socialização. "Me tornei uma menina triste. Antes dos abusos eu sentava no primeiro banco da igreja, cantava feliz, dançava. Depois, não cantava do mesmo jeito, não dançava. Virei uma criança retraída. Tinha pesadelos e gritava à noite", contou.
A ex-ministra contou que, por causa dos abusos, tentou se matar. Pegou veneno de rato e subiu em um pé de goiabera, onde costumava ir para chorar sem ser vista, mas desistiu de se envenenar depois de, segundo ela, ter “visto Jesus". Na época, a história foi alvo de deboche nas redes sociais. "Estão me ridicularizando por ter falado isso, mas se vocês não acreditam, o problema é de vocês", afirmou.