Lisboa — A visita de Estado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Portugal, iniciada ontem, ocorre num momento nada favorável para o primeiro-ministro português, António Costa, do Partido Socialista (PS).
Há pouco mais de um ano no comando do atual governo, ele enfrenta o derretimento de sua popularidade devido a uma série de escândalos, já perdeu quase metade de seus auxiliares do primeiro escalão e, na economia, encara a maior inflação em mais de três décadas, greves constantes — professores e trabalhadores do sistema de trens têm feito paralisações —, uma gravíssima crise na habitação e uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da TAP, a empresa aérea pública. Lula e Costa participam, hoje, da reunião de cúpula entre Brasil e Portugal.
A grande preocupação de Rebelo de Souza é a possibilidade de a extrema direita chegar ao poder. Pelas pesquisas mais recentes de intenções de voto, o PS e o PSD, de centro-direita, têm 30% da preferência do eleitorado. O ultradireitista Chega aparece com 13%. Cogita-se a hipótese de o PSD se coligar à legenda extremista. Hoje, o PS tem maioria absoluta na Assembleia. "A extrema direita tem um campo fértil em Portugal e qualquer brecha aberta pode ser um perigo", diz a pesquisadora Fernanda Sarkis.
Segundo especialistas, é explícito o desgaste do Partido Socialista, há quase uma década no poder. Tanto que cresce a pressão para que o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Souza, dissolva o Parlamento e antecipe as eleições previstas para 2026. Ele, no entanto, tem relutado em seguir nessa direção, apesar de não economizar nas críticas a Costa e ao PS.
A grande preocupação de Rebelo de Souza é a possibilidade de a extrema direita chegar ao poder. Pelas pesquisas mais recentes de intenções de voto, o PS e o PSD, de centro-direita, têm 30% da preferência do eleitorado. O ultradireitista Chega aparece com 13%. Cogita-se a hipótese de o PSD se coligar à legenda extremista. Hoje, o PS tem maioria absoluta na Assembleia. "A extrema direita tem um campo fértil em Portugal e qualquer brecha aberta pode ser um perigo", diz a pesquisadora Fernanda Sarkis.
Na avaliação da professora Luísa Godinho, doutora pela Universidade de Genebra, a confusão em torno da visita de Lula a Portugal ultrapassa todos os limites do bom senso. "Estão se esquecendo dos fortes laços históricos que unem Brasil e Portugal. Com isso, a política rasteira ganha espaço, ao misturar as declarações de Lula com questões internas", frisa.
Chegada
A comitiva presidencial, que inclui oito ministros, chegou ao Hotel Tivoli, na sofisticada Avenida da Liberdade, cercada por forte segurança. Apenas apoiadores de Lula estavam de prontidão. A viagem do presidente é cercada de polêmicas e deve provocar uma série de protestos.
Lula não teve agenda oficial na chegada. Hoje, o líder brasileiro participa de cerimônia em que será recebido com honras de Estado. Depois, visita o túmulo de Camões, almoça com Rebelo e participa da reunião de Cúpula Brasil-Portugal, a primeira desde 2016.
Estão previstas as assinaturas de pelo menos 13 acordos, em áreas como aeronáutica, educação, turismo e energia. O Brasil também quer ampliar a corrente de comércio com o parceiro europeu e atrair investimentos. Dados do Ministério do Desenvolvimento mostram que o comércio bilateral Brasil-Portugal em 2022 atingiu US$ 5,3 bilhões, com crescimento de 50,8% em relação a 2021. As exportações brasileiras somaram US$ 4,8 bilhões. As importações de produtos de Portugal totalizaram US$ 990 milhões. O Brasil é o sétimo principal fornecedor de bens a Portugal e o segundo maior fornecedor fora da União Europeia, superado apenas pela China.
Em termos de investimentos, Portugal ocupa a 16ª posição entre os países com mais recursos no Brasil, com um total de US$ 10,7 bilhões. Os investimentos portugueses estão concentrados na área de energia, principalmente em exploração e produção de petróleo e gás, geração, transmissão, distribuição e comercialização de energia.
Já o estoque de investimentos estrangeiros diretos do Brasil em Portugal é de US$ 4,2 bilhões. Está centrado nos setores aeronáutico, siderúrgico, de turismo e hotelaria, hospitalar e de infraestrutura.