A CPI mista para investigar os ataques golpistas de 8 de janeiro deverá ser criada em meados da próxima semana no Congresso. Ela será formada por deputados e senadores e, agora, interessa tanto à oposição, de quem partiu a ideia de criá-la, como à base do governo Lula, antes resistente e agora favorável.
A criação da comissão tornou-se inevitável diante da recente crise do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), que provocou a primeira queda de ministro na atual gestão petista após três meses e 19 dias do começo do mandato.
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Quando a CPI começa a funcionar?
Ainda não há uma data definida. O primeiro passo é a criação da CPI, que ocorre com a leitura de seu requerimento durante sessão do Congresso. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), promete isso para esta próxima semana.
A leitura do requerimento por Pacheco significa que a comissão foi criada, mas não significa a sua instalação imediata.
Antes de a comissão iniciar as atividades, ainda há um prazo para que senadores incluam ou retirem suas assinaturas do requerimento.
Além disso, a instalação de fato acontece apenas com a primeira sessão da comissão. Para isso, é necessário que os blocos partidários indiquem seus representantes para a composição do colegiado.
Qual deverá ser o principal foco da investigação?
Isso depende tanto de quem formará o núcleo de comando da comissão (presidente, vice-presidente e relator) como a escalação de seus integrantes (deputados e senadores), movimento que depende dos blocos dos partidos e de seus comandos.
Quem tem maioria na CPI tem mais votos para aprovar ou rejeitar requerimentos de convocação para depoimentos ou de quebra de sigilo, por exemplo. A maioria também é determinante para a aprovação do relatório final da comissão.
Foi assim na recente CPI da Covid, quando a oposição ao então presidente Bolsonaro dominou tanto as votações como a narrativa para depoimentos, quebras de sigilos e relatório final.
Pelas contas do governo Lula, sua base de apoio terá direito a 21 das 32 cadeiras do colegiado —sendo 11 no Senado Federal e 10 na Câmara dos Deputados.
Tendo a base de Lula de fato o controle da CPI do 8/1, esses abaixo são os principais focos, em linha com o que já investigam o STF (Supremo Tribunal Federal) e a Polícia Federal:
- Identificar possíveis autores intelectuais dos ataques golpistas, e é essa frente que pode chegar a eventual responsabilidade de Bolsonaro no fomento das ações radicais;
- Investir no detalhamento das supostas omissões de agentes públicos durante a movimentação de pessoas para o acampamento em frente ao QG do Exército e depois para a praça dos Três Poderes;
- Mapear os financiadores dos atos golpistas e os responsáveis pela logística do acampamento e transporte de bolsonaristas para Brasília;
- Identificar e individualizar a conduta de cada um dos envolvidos na depredação dos prédios históricos da capital federal.
De quem partiu a ideia da CPI?
A proposta de uma CPI sobre os ataques de 8/1 partiu dos próprios bolsonaristas, responsáveis pelos ataques golpistas às sedes dos três Poderes.
Acuados pela repercussão do ataque e com Bolsonaro isolado nos EUA, viram na proposta de comissão uma forma de contra-atacar a narrativa real do 8/1, insinuando, por exemplo, que havia simpatizantes de Lula infiltrados entre os participantes dos ataques, o que nunca foi apresentado com mínimos indícios.
A oposição também quer usar a CPI para atacar o que chamam de omissões do governo federal naquele dia. Essa tese ficou fortalecida agora com a crise provocada com as novas imagens do 8/1 no Planalto.
Por que o governo Lula mudou de ideia é passou a apoiá-la?
O governo só mudou de ideia quando a criação da CPI tornou-se inevitável com a crise que levou à saída do chefe do GSI. O governo Lula vinha se recusando a divulgar a íntegra das imagens de 8/1, o que deve também virar alvo da CPI do Congresso.
Uma semana após os ataques, o governo divulgou vídeos editados, em particular com trechos que evidenciavam que os militantes eram aliados de Bolsonaro. No entanto, recusou um pedido da Folha de S.Paulo, via Lei de Acesso à Informação, para divulgar a íntegra das gravações.
Quais são as preocupações do governo com a CPI?
São basicamente quatro as preocupações:
- Busca inicialmente ter o controle da comissão, com aliados como presidente e relator, além da maioria de seus integrantes;
- Quer evitar que deputados e senadores concentrem forças e atenções na CPI e deixem em segundo plano votações consideradas importantes pelo governo neste ano, como as novas regras fiscais e a reforma tributária, além de medidas provisórias na fila para votação antes que percam a validade;
- Conseguir barrar a propagação de falsas teses sobre os atos golpistas sobre o 8/1. Ou seja, que transforme em vítimas os bolsonaristas responsáveis pelos atos contra os três Poderes;
- Evitar que o desgaste com o funcionamento da CPI atrapalhe os planos do governo para consolidar uma base aliada sólida tanto na Câmara como no Senado, algo que ainda parece distante.