Durante a Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara dos Deputados, realizada nesta quarta-feira (3/5), o ministro da Justiça e Seguranças Pública Flávio Dino (PSB-MA) afirmou que as falas e acusações do deputado federal Deltan Dallagnol (Podemos-PR) "não tem aderência na realidade".
"Me preocupa que venha um controle incisivo sobre a nossa liberdade de expressão (...) mas me preocupa ainda mais num governo que apoia ditaduras, que buscou implantar o Ministério da Verdade e um governo que em suas versões anteriores praticou os maiores escândalos de corrupção para manter o seu poder", comentou Dallagnol, seguindo trajetória argumentativa adotada por aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Ao que Dino contesta que, apesar de estar seguro que o ex-promotor acredite no que diz, as acusações partem de "um sistema de crenças muito próprias, muito singulares que não tem aderência na realidade".
O Brasil mantém relações diplomáticas com todos os países, apontou o ministro do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), afirmando que não há o alinhamento automático com ditaduras ou outras formas de governo. A fala precedeu uma provocação do ex-juiz que reforçou que o petista não recebeu "joias, coroas ou aneis" de presentes de ditaduras.
O comentário do maranhense sobre joias foi uma provocação aos diversos estojos com acessórios, alguns avaliados em até R$ 16,5 milhões, que teriam Bolsonaro como destinatário e que teriam entrados no Brasil de forma ilegal. Dois dos pacotes, de cerca de R$ 500 mil, foram entregues ao então presidente, ainda durante o seu mandato. Os bens foram cadastrados como "pessoais", o que permite que ele possa levá-lo ao deixar o governo.
Valores acima de mil dólares devem ser declarados à Receita Federal e tributados. Como os objetos não passaram pelos trâmites corretos e não eram presentes de um governo estrangeiro ao Estado brasileiro, a alfândega apreendeu os bens. Bolsonaro tentou reiteradamente retirar os bens sem arcar com o custo e a multa estimada.
Os presentes foram dados pelo governo da Arábia Saudita. Desde 1932, o país é uma monarquia iniciada por Ibn Saud. Os seis governantes seguintes, inclusive o atual Salman bin Abdulaziz Al Saud, são filhos do primeiro monarca com uma de suas 22 esposas.
CORRUPÇÃO SANITÁRIA
"Antes eu via um Estado processando e investigando corrupção de bilhões de reais. E hoje vejo o Estado processando e investigando uma falsificação de uma carteira de vacinação", comentou o deputado Deltan Dallagnol.
O ex-promotor e atual deputado deu a entender que as investigações anteriores têm um peso maior que a apuração sobre uma possível falsificação de documentos realizados por um funcionário público.
"Fico muito triste de ver o senhor afirmando que uma investigação séria sobre uma questão sanitária não é prioridade. (...) Pessoas que votaram no senhor perderam a vida ou familiares dessas pessoas. Conspirar contra a saúde pública é uma corrupção gravíssima", respondeu o ministro Flávio Dino.