O comentarista político e presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL), Merval Pereira, fez críticas ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em sua coluna deste sábado no jornal O Globo. Na publicação, ele afirma que o petista não faz uma gestão de aliança nacional, como prometido, e tropeça no relacionamento com o Congresso Nacional por razões ideológicas.
Na coluna intitulada “Dificuldades na transição”, Pereira diz que Lula chegou pela terceira vez à presidência por um eleitorado que não é exclusivamente seu, mas composto em boa parte por pessoas decepcionadas ou opositoras de Jair Bolsonaro (PL).
“O que Lula não entendeu é que ele foi eleito presidente desta terceira vez por uma opção majoritária do eleitorado, pelo apoio que recebeu da parcela do eleitorado de centro-direita desiludido com o desastre de Bolsonaro. Que não é seu eleitor e não se agrada da ideia de emprestar dinheiro para países quebrados de governos esquerdistas, que já deram calote no Brasil em outros governos de Lula; não gosta do apoio à Rússia”, escreveu.
Ainda de acordo com o colunista, o cenário de barganha com o Congresso Nacional mudou e hoje tem mais componentes ideológicos do que durante os dois primeiros mandatos de Lula, de 2003 até 2010. Segundo Pereira, a dificuldade com o Legislativo era previsível pela composição mais conservadora da nova legislatura, mas atribui a uma postura retrógrada e irredutível da esquerda as recentes derrotas do presidente no parlamento.
“A dificuldade de Lula para negociar vai além da questão de verbas – que tem sua importância e continuará tendo. Mas ele não consegue resolver o outro lado, o da ideologia, da política propriamente dita. Em vez de fazer um governo de união nacional, o governo Lula está indo pela esquerda do PT. Vejamos o caso do marco regulatório do saneamento, que levou o governo Lula à sua primeira derrota no Congresso. Acho que a questão tem muito mais a ver com a preferência da maioria pelo investimento privado, contra a visão estatista do governo, por ser de centro-direita, conservadora no sentido de ser contra a esquerda, pelo menos a esquerda representada pelo PT” , argumenta.