Nova York - O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), foi incisivo ao mandar um recado direto ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva, ontem, em Nova York: “A principal reforma pela qual o Congresso terá que brigar diariamente é a de não deixar retroceder em tudo o que já foi aprovado no Brasil no sentido do que é mais liberal”. Ele citou o projeto de decreto legislativo do saneamento, aprovado recentemente, como “um ato extremo de se revogar um decreto presidencial, não por picuinha”, mas por necessidade de garantir a segurança jurídica do país. O deputado fez palestra no Lide Brasil Investments Forum. A mensagem foi clara: A Câmara não pretende rever o que foi posto nos governos anteriores, portanto, cabe ao atual governo olhar para frente e não revisar o que já foi feito.
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A avaliação de Lira é que o eleitor elegeu no ano passado um Congresso conservador e reformista e um presidente mais à esquerda. É preciso ter diálogo e manter o que já foi aprovado. “O Congresso aprovou muitas leis, cabotagem, saneamento, regularização fundiária, preservando o que é mais caro”, que é a segurança jurídica. “O Brasil de 2023 não é o mesmo de 2002, 2010, 2014”, disse Lira, ressaltando o poder do Parlamento. “Isso precisa ser ajustado”, completou.
O deputado mencionou também que é preciso deixar o arcabouço fiscal e a reforma tributária à margem da polarização, porque são agendas do país, que não podem ficar sujeitas à disputa política. A fala de Lira foi o ponto alto do segundo painel do Lide Brazil Investment Forum. Ele lembrou ainda que a reforma administrativa está pronta e precisa de apoio político. O governo, porém, não deseja colocar esse tema em pauta agora. O foco está no arcabouço fiscal e na reforma tributária, ambas também defendidas no seminário do Lide, promovido pelo grupo Doria, por todos os debatedores.
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“A Câmara e o Senado aumentaram o seu protagonismo. O mundo do Brasil de 2002 não é o mesmo de 2023, não é o mesmo de 2010, não é o mesmo de 2014. Nós não tínhamos lei de responsabilidade fiscal, não tínhamos internet, não tínhamos agências reguladoras, não tínhamos um Congresso com maior protagonismo. O nosso desafio vai ser fazer com que o arcabouço e a reforma fiquem à margem da polarização e das discussões políticas”, disse Lira também.
Governadores
Oito governadores e dois prefeitos também participaram do evento. Os prefeitos do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, e de São Paulo, Ricardo Nunes (São Paulo), fizeram apelo ao Congresso Nacional pela aprovação da reforma tributária. “Se for reforma tributária para tirar dinheiro dos municípios, não é possível fazer. Precisamos ter uma reforma tributária que simplifique, e não que retire recursos dos municípios, que é onde as pessoas vivem”, disse Ricardo Nunes, numa mensagem direta ao presidente da Câmara, que estava na plateia.
Nesse sentido, o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande, afirmou que para o bom andamento das reformas é preciso estabilidade política. “O maior desafio é político, ainda temos um ambiente de tensionamento. Há uma cristalização do posicionamento ideológico de diversos parlamentares. O grande desafio de Lula é estabilizar as relações com o Congresso Nacional. É ele mesmo que tem que coordenar para que possamos seguir adiante”, declarou.
Já Eduardo Leite lembrou que foi o único governador reeleito no Rio Grande do Sul em 100 anos de história. “Não digo isso por vaidade, mas quando se faz o que é preciso, o resultado eleitoral vem. Privatizações e concessões foram postergadas com receio de que isso geraria para o governante de plantão”.
Leite também deu recado para Lula: “Não há sociedade que tenha prosperado com um governo desarranjado. Chega de perder energia nos atacando uns aos outros, disse, defendendo um trabalho conjunto para promover a educação. O governador de Mato Grosso, Mauro Mendes, fez um apelo aos congressistas presentes para que não mexam com a reforma trabalhista aprovada no governo Michel Temer, e agradeceu ao ex-presidente pela iniciativa.
O governador do Amazonas, Wilson Lima, primeiro palestrante do dia, defendeu a reforma tributária, porém, “sem atingir o modelo que tem dado certo”, numa referência direta à Zona Franca de Manaus, que gera milhares de empregos e responde por 47% da arrecadação de ICMS do estado e representa um faturamento de R$ 30 bilhões. “Estamos a cinco horas de Miami, temos condições de colocar no mercado internacional com velocidade”, disse. (Com agências)
Zema lança projeto na Nasdaq
Nova York - A bolsa de tecnologia de Nova York, a Nasdaq, sediou na noite de ontem, o lançamento do projeto mundial Lithium Valley Brazil, para exploração desse lítio, capaz de mudar o destino do Vale do Jequitinhonha, umas regiões mais carentes de Minas Gerais. A expectativa do governador Romeu Zema, que fez questão de participar da solenidade, é gerar investimentos de, pelo menos, R$ 20 bilhões e gerar milhares de empregos. “O que quero ver acontecer no Vale do Jequitinhonha, hoje, Vale do Lítio, é a transformação. O efeito multiplicador. Um negócio quando começa demanda prestadores de serviços”, disse Zema, ao lançar o projeto Lithium Valley Brazil, na Nasdaq.
O governador foi direto: “Temos que desmitificar a questão da mineração. Velocidade não quer dizer malfeito. Estamos trabalhando para que os processos sejam mais rápidos e com critérios objetivos. Isso faz com que o investidor fique mais seguro e que haja mais critério”, afirmou também.
O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, foi representado pelo secretário de Geologia e Mineração da pasta, Vitor Saback. “A transição energética e a descarbonização do planeta passa pela mineração”, disse Saback. “O Vale do Lítio contribui para descarbonizada o mundo. É um lítio de esperança, e as empresas que se instalam lá estão focadas na sustentabilidade. A mineração exercerá um papel importante na transformação do país e no desenvolvimento sustentável”.
Ainda ontem, Romeu Zema disse em Nova York que o Brasil precisa passar por reformas profundas, estruturais, para voltar a crescer. “Nós precisamos de um país que seja reformado estruturalmente. Se nós analisarmos as últimas décadas, o Brasil só tem perdido relevância no cenário internacional. Quarenta anos atrás nós representávamos cerca de 4% da economia mundial, recentemente 2,3%, e o pior, com tendência de queda”, afirmou o governador no evento empresarial Lide Brazil Investment Forum.
Zema participou do painel com o tema “Desafios das grandes reformas e a atratividade do Brasil para novos investimentos internacionais”. Em sua fala, ele ressaltou que a governança estatal é algo lento e pesado, que não resolve os problemas do cidadão e do setor produtivo. Ele enfatizou que seu governo tem buscado quebrar a tendência nacional, priorizando decisões técnicas que, segundo ele, tem se mostrado acertadas: “Quatro anos atrás Minas Gerais representava 8% da economia brasileira e hoje representa 9,3%. Tem crescido consistentemente acima da média do Brasil”.
Foram destacados por ele os investimentos em rodovias, terminais rodoviários e aeroportos, além de uma economia bem mais dinâmica e diversificada que atraiu recorde de investimentos privados para o estado. “Minas Gerais, diferentemente do que era no passado, em vez de ser um estado hostil para investimento, se tornou um estado amigável, e todos serão muito bem vindos lá”, afirmou.
O chefe do Executivo disse ainda que, apesar da tragédia causada pelo rompimento da barragem em Mariana, antes de seu governo nada havia mudado para tornar as barragens mais seguras no estado. Segundo ele, somente após a tragédia de Brumadinho, já em seu governo, foram feitas mudanças estruturais para melhorar a segurança das barragens e solucionar esse problema crônico.