Jornal Estado de Minas

ECONOMIA

Indicado para o BC, Gabriel Galípolo diz que 'todo mundo quer baixar juros'

 
Brasília - O secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Gabriel Galípolo, admitiu, ontem, que pode ser a voz dissonante no Banco Central e que pretende “construir consensos” entre as políticas monetária e fiscal, quando assumir a diretoria de Política Monetária da autarquia.




 
Para isso, vai conduzir o diálogo, da forma “mais democrática e cordial possível”, pois “todo mundo quer baixar os juros”. Ele tem convicção de que a diretoria da autoridade monetária não tem nenhum tipo de satisfação de deixar os juros no atual patamar.
 
“O ministro Fernando Haddad vem dizendo há muito tempo que está tentando evitar um equívoco na economia, que é ter uma política monetária que vai por um lado e uma política fiscal que vai para um lado oposto. Esse tipo de diálogo e esse tipo de convergência entre a política monetária e fiscal são essenciais”, afirmou Galípolo a jornalistas, em frente à sede do ministério.
 
Galípolo foi confirmado por Haddad, na segunda-feira, como o escolhido para a diretoria de Política Monetária do Banco Central. Atualmente, ele exerce a função de ministro interino, porque Haddad vai participar como convidado, no Japão, do encontro ministerial dos G7, grupo dos países mais industrializados do planeta.




 
O secretário agradeceu a indicação do nome dele pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e disse que está muito honrado com a indicação. Ele contou que tem uma boa relação com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e com a diretoria também, mas isso “não significa obrigatoriamente que todo mundo vai pensar igual em economia”.
 
“A conversa sempre tem sido da melhor maneira possível e da maneira mais educada, mais cordial possível com o Banco Central. E é óbvio que existe uma grande afinidade de pensamento com o ministro Fernando Haddad. A intenção é conseguir facilitar esse diálogo, facilitar essa convergência das duas políticas”, assegurou. Ao ser questionado se pretende votar pela queda dos juros nas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom), da autoridade monetária, ele afirmou que “não necessariamente”.
 
 
“Eu acho que todo mundo quer baixar os juros. Eu tenho a convicção que toda a diretoria do Banco Central não tem nenhum tipo de satisfação, nem profissional nem pessoal, de ter um juro mais alto. Tenho absoluta convicção disso. Eu acho que o que vem sendo feito pela Fazenda é tentar criar um ambiente para que o mercado possa colocar os preços da maneira adequada e que o Banco Central possa sancionar essa redução de juros”, afirmou ele, acrescentando que, “antes de tudo”, tem que esperar a sabatina no Senado Federal. Aliás, ele contou que já teve manifestações positivas de vários parlamentares, inclusive do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). “Fiquei muito contente com as declarações públicas e privadas”, afirmou ele. E que estará à disposição dos líderes do governo, do partido e para as conversas.





Ata do Copom

Galípolo evitou comentar a ata do Copom, divulgada ontem, mas reconheceu que ela é clara e considera outras condicionantes para a manutenção dos juros além da desaceleração atual da inflação. Ele reforçou que pretende pacificar o diálogo entre o governo e o Banco Central.
 
“Eu espero que a gente possa construir consensos e possa caminhar da melhor forma possível”, emendou. Ao comentar sobre as reservas internacionais do país, atualmente em US$ 347,8 bilhões, Galípolo disse que elas são uma “herança ultra positiva” dos governos anteriores de Lula. Ele lembrou que, muitas vezes, outros países emergentes estão passando por uma dificuldade neste momento justamente pela restrição de divisas internacionais. “Agora, com a alta dos juros em outros países, essa herança nos coloca em uma condição muito mais vantajosa, muito mais segura, até para um cenário mais adverso, que vem pela frente para se apresentar, como um caso de eleição de investimento para a economia internacional”, afirmou.
 
O secretário evitou falar sobre sua competência para presidir o Banco Central a partir de 2025, quando vencer o mandato de Campos Neto, porque não está no governo para ter algum tipo de projeto de carreira pessoal, mas pretende colaborar com o projeto do governo em que se sentir mais confortável em atuar. “Estou à disposição do presidente e do ministro Fernando Haddad para desempenhar e jogar na posição que eles entenderem, que é a mais adequada e que eu posso colaborar melhor”, afirmou.