Brasília – Deputados ligados à pauta ruralista e parlamentares da base do governo Lula (PT) trocaram acusações e protagonizaram uma série de bate-bocas durante a primeira sessão da comissão parlamentar de inquérito (CPI) do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) realizada ontem.
A reunião foi marcada por uma artilharia da oposição contra o MST, a maioria do colegiado é formada por deputados ligados a ruralistas e integrantes da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), uma das maiores forças do Congresso. Esses parlamentares se referiram ao movimento e a seus integrantes como “bandidos”, “marginais” e “maloqueiragem”.
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Marina diz que decisão do Ibama tem de ser respeitadaPacheco e Lira mandam novo recado para o Palácio do PlanaltoRelator da reorganização dos Ministérios fortalece pastas do CentrãoEx-integrante do MST diz ter se sentido 'massa de manobra'CPI do MST: Deputados brigam por minuto de silêncioO acirramento dos discursos iniciou-se desde os primeiros minutos da sessão, quando o presidente e o relator da CPI, respectivamente Tenente Coronel Zucco (Republicanos-RS) e Salles, se referiram à comissão como responsável por “investigar a invasão de propriedade, depredação de patrimônio público e privado e crimes correlatos” —ultrapassando o escopo original do requerimento de criação da CPI, que se propõe a analisar a atuação do MST. Essa mudança constou na primeira versão do plano de trabalho apresentado por Salles. O texto foi alvo de críticas de parlamentares governistas.
Segundo disse Salles após a sessão, deverão ser apreciados hoje requerimentos de convocação dos ministros Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário) e Carlos Fávaro (Agricultura). O parlamentar afirmou à imprensa que haverá diligências em São Paulo, Bahia, Pernambuco e Mato Grosso do Sul e indicou que há “assentamentos que merecem ser visitados”. “Quer seja por eventuais bons exemplos que possam existir e também, infelizmente, pelos maus exemplos que devam ser constatados”, declarou.
A deputada Sâmia Bomfim (PSOL-SP) acusou Salles de distorcer “sem pudor” o intuito da CPI e indicou que poderá judicializar temas abordados no colegiado, caso fujam de seu escopo. “O relator a seu bel-prazer quer alterar o conteúdo desta CPI. Eu pergunto: embasado em qual lei? Em qual critério? E, considerando que o relator e o presidente têm maioria nessa CPI, acredito que essa questão de ordem vai ser invalidada. Anuncio que qualquer membro que venha a ser convocado ou qualquer tema que fuja do escopo original pode ser judicializado”, disse.
Ao longo da sessão foram solicitados cerca de uma dezena de pedidos de questão de ordem (instrumento utilizado por parlamentares para provocar dúvida ou questionar sobre a interpretação de regimentos).
A presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PR), reforçou o pedido de Sâmia. A petista disse que o plano de trabalho lido por Salles “é um relatório prévio”. “Ele está dizendo que teve depredação, invasão, crimes correlatos. Gostaria que se adequasse para o que é exatamente o objetivo e a finalidade , sem elencar rol de situação. Isso só virá a posteriori, quando tiver oitivas, conversas aqui, mas nunca com antecedência”, disse.
Reação
”Já que vamos ter uma CPI sem objeto, pelo menos que o objetivo seja mantido e não aumentado e apresentado no texto dessa forma de já criminalizar o MST”, continuou a petista. Zucco, então, afirmou que o nome da CPI seria trocado no plano de trabalho, mas rejeitou questão de ordem apresentada por Gleisi afirmando que “nada impede” que a condução dos trabalhos da comissão “se dê de modo diverso daquele proposto inicialmente no plano de trabalho”.
Talíria Petrone (Psol-RJ) afirmou que o ex-ministro de Bolsonaro “tem relação com o garimpo ilegal” e que o parlamentar “não ligou” para denúncias de madeira ilegal “porque ele não defende o meio ambiente”. Salles reagiu indicando que poderá representar a parlamentar na Conselho de Ética da Casa. E ouviu como resposta de Sâmia: “Melhor responder no Conselho de Ética do que na Justiça, do que no Supremo ”.
Um dos embates se deu entre o deputado Valmir Assunção (PT-BA), ligado ao MST, e o deputado Delegado Éder Mauro (PL-PA). Mauro afirmou que o “MST não é um movimento social, mas um movimento de marginais, que invadem, quebram, põem fogo em sedes de fazendas e matam animais”. Valmir, então, reagiu: “Não sou marginal, eu não sou marginal”. As parlamentares do Psol saíram em defesa do petista e afirmaram que o deputado do PL “é acusado de ser torturador”. Em outro momento, Sâmia protagonizou embates com Zucco, presidente da CPI, ao tratar da investigação contra o parlamentar.
Antes de a sessão começar, a deputada federal Camila Jara (PT-MT) ofereceu aos presentes copos com suco de uva produzidos em assentamentos do MST. “A gente pode experimentar como a gente consegue aliar a produção de alimentos saudáveis com o incentivo para agricultura familiar produzir cada vez mais”, disse. A deputada ofereceu a Salles, que tomou o suco e posou para fotos segurando uma garrafa do produto. Uma nova sessão será realizada hoje para análise de 15 requerimentos que já foram apresentados por parlamentares —até a tarde de terça, havia 102 disponibilizados no portal da Câmara.
Investigado
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, determinou que a Polícia Federal dê prosseguimento a investigações contra Zucco, em decisão tomada no último dia 17. Zucco é suspeito de incentivar e patrocinar atos antidemocráticos no Rio Grande do Sul e em Brasília, que culminaram com invasão e depredação das sedes do Palácio do Planalto, do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal em 8 de janeiro. A apuração começou com uma notícia levada ao Ministério Público Federal. O TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região) encaminhou o processo ao Supremo por envolver um deputado federal. Zucco reagiu ontem afirmando que esse assunto “não é pauta dessa CPI”, quando o assunto foi levantado por parlamentares governistas. (Folhapress)