Jornal Estado de Minas

REUNIÃO ENTRE CHEFES DE ESTADO

Lula propõe união sem viés ideológico dos 12 países sul-americanos; entenda

Depois de visitar os principais parceiros comerciais do Brasil — pela ordem das viagens: Argentina, Estados Unidos, China e União Europeia, além da ida ao Japão para o encontro do G7 —, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se dedicará, no início da semana que vem, aos vizinhos sul-americanos. Organizar uma entidade que represente todos os 12 países do subcontinente, independentemente do viés ideológico do governo de ocasião, é uma das prioridades do Palácio do Planalto.





Onze presidentes confirmaram presença em Brasília, e a maioria já solicitou ao Itamaraty encontros bilaterais com Lula. Apenas o Peru não enviará sua chefe de Estado. O país atravessa uma crise política interna deflagrada com a destituição, pelo Parlamento, do então presidente Pedro Castillo, em dezembro do ano passado, por tentativa de golpe de Estado. O país é governado interinamente pela vice-presidente Dina Boluarte, e ainda não decidiu se antecipará as eleições presidenciais, marcadas para 2026. Ao Brasil, virá o presidente do Conselho de Ministros do país, Alberto Otárola.O presidente Lula está convencido de que fracassaram as duas últimas tentativas de formar um bloco que congregasse os 12 países da América do Sul. A União de Nações Sul-americanas (Unasul), criada em 2008, tinha essa pretensão, mas está desativada há, pelo menos, quatro anos, desde a chegada de Jair Bolsonaro ao poder. O antigo governo via a Usasul como um bloco de países de esquerda, e aderiu à articulação de Colômbia e Chile para a criação do Prosul, um fórum de países governados pela direita. Já o Mercosul, criado por Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai em 1991, é um bloco comercial que conta com alguns países associados, mas que não se propõe a ser uma instituição continental.

A reunião de terça-feira (30/5), que vai durar o dia inteiro, e será dividida em duas partes, não terá muitos formalismos diplomáticos e será uma espécie “de retiro” dos presidentes, na comparação da secretária de América Latina e Caribe do Itamaraty, embaixadora Gisela Padovan, ao apresentar o desenho do encontro de cúpula. “Será um encontro bem restrito, sem grandes rituais, uma troca de ideias sobre questões relativas à integração”, explicou a diplomata, ao informar que cada líder terá como companhia apenas o chanceler de seu país e dois assessores.

Padovan diz que é possível, mesmo sem uma entidade representativa, abrir “imediatamente” uma agenda “concreta de iniciativas de cooperação”, e elencou as áreas de saúde, infraestrutura, energia, meio ambiente, mudanças climáticas e combate ao crime organizado como exemplos que podem dar início a esse diálogo. Sobre as diferenças políticas que bloquearam o diálogo continental nos últimos anos, a diplomata reconheceu as dificuldades. “Nós temos a consciência de que há diferenças de visão entre os vários países, diferebças ideológica, e, por isso mesmo, consideramos um começo: que os países se sentem à mesa e dialoguem, busquem pontos em comum para retomar esse movimento tão importante.”