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Estado de Minas APÓS CASSAÇÃO DE DALLAGNOL

Diretor de filme sobre a Lava-Jato diz não acreditar mais em heróis

O diretor Marcelo Antunez diz que se o filme fosse feito hoje, "certamente seria diferente". De lá para cá, Dallagnol foi cassado e Moro foi considerado parcial


31/05/2023 09:30 - atualizado 31/05/2023 09:40
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Marcelo Antunez, e no fundo, Antonio Calloni
Marcelo Antunez com Antonio Calloni, na época do lançamento do filme 'Polícia Federal: A Lei é Para Todos (foto: Reprodução/Instagram)
Lançado no patriótico dia 7 de setembro de 2017, o filme "Polícia Federal: A Lei é Para Todos" chegou aos cinemas como motivo de orgulho para os apoiadores da Lava-Jato. Retratados como heróis, juízes, delegados e promotores ligados à operação posavam para selfies junto a convidados da lista VIP das festivas sessões de lançamento realizadas em algumas cidades do Brasil; exibições eram aplaudidas de pé assim que os créditos finais apareciam na tela.

 

Na noite de lançamento do longa no Rio de Janeiro, o elenco se reuniu num restaurante na Barra da Tijuca para um drink pós-sessão de estreia e Rainer Cadete, ator que interpretou o procurador Deltan Dallagnol, se dizia orgulhoso por encarnar no cinema uma pessoa tão admirável. Marcelo Antunez, diretor do filme, reafirmava a cada entrevista que esta seria uma produção to be continued, a primeira de uma trilogia - o filme de Antunez vai até a condução coercitiva de Lula (Ary Fontoura), em 2016.

 

Seis anos se passaram e Deltan Dallagnol teve seu mandato de deputado federal cassado pelo TSE com base na Lei da Ficha Limpa; Sergio Moro, entre outros revezes para quem aparece como a estrela maior do filme, foi declarado pelo STF como parcial ao condenar o então ex-presidente Lula no caso do tríplex no Guarujá... A coisa mudou de figura, mas Antunez não se diz surpreso. "Eu não costumo criar muitas expectativas sobre o ser humano", afirma.

 

"Não acredito em heróis. Somos repletos de falhas de toda ordem. É infantil e perigoso colocar pessoas em pedestais", diz ele, em entrevista à Folha de S.Paulo. Antunez admite que, se o filme fosse feito hoje, "certamente seria diferente". Não que tenha errado a mão.

 

"Meu negócio é fazer cinema, e a história naquele momento era excelente", reforça ele, que se diz neutro. "Claro que me informo como cidadão, mas não pertenço e não devo nada a nenhum movimento político".

 

A tal trilogia foi abortada. O cineasta admite que o roteiro da segunda parte já havia sido escrito, mas tanta coisa mudou com a Vaza Jato [as investigações iniciadas pós o vazamento de conversas através do Telegram entre integrantes da Operação Lava Jato], que mantê-lo não faria sentido.

 

LeiaMais para documentário do que ficção, diz delegado sobre "A Lei É Para Todos"

 

"O roteiro escrito já não tinha mais nenhuma aderência com o que estava acontecendo de relevante. Redesenhamos o projeto para incluir esses novos movimentos mas, para a surpresa de um total de zero pessoas, quando o governo mudou, o cinema e a cultura, como um todo, foram paralisados. Aliás, assim como as investigações contra a corrupção, que foram interrompidas."

 

Leia: Lula critica série da Netflix sobre a Operação Lava Jato 

 

Mesmo com a mudança no cenário político do país, Antunez diz ter dúvidas sobre o quanto ainda quer fazer filmes relacionados a este tema. Segundo ele, lidar com a "polarização exacerbada" é "extremamente desgastante", já que "rótulos são atribuídos com muita facilidade".

 

A julgar por seus projetos mais recentes, o diretor parece ter mesmo virado a página. No ano passado, foi o responsável pela direção da comédia romântica "Procura-se", disponível na HBO Max, e já se prepara o lançamento de outros dois longas ainda em 2023: "Rodeio Rock", protagonizado por Carla Diaz e Lucas Lucco, e outro sobre o sequestro do Silvio Santos, em agosto de 2001. "Sobre o país, confesso que luto diariamente para me manter otimista", afirma.

 


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