Jornal Estado de Minas

TERRAS INDÍGENAS

Mesmo cassado, Dallagnol participou da votação do marco temporal

Com candidatura de deputado federal cassada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Deltan Dallagnol participou da votação que aprovou o PL 490/07, que definiu um marco temporal para a demarcação de terras indígenas e retirou diversas garantias dos povos originários, na terça-feira (30/5). A presença do ex-procurador no plenário da Câmara após a cassação chamou a atenção e gerou dúvidas sobre a legitimidade do voto.





Dallagnol teve a candidatura cassada por unanimidade pelo TSE em 16 de maio, após os ministros concordarem que Deltan fraudou a Lei da Ficha Limpa ao pedir exoneração do cargo de procurador muito antes do prazo previsto pelo TSE, em uma tentativa de impedir uma eventual punição administrativa.

A punição no Ministério Público o deixaria inelegível a um cargo público pela legislação criada para evitar que pessoas com condenações criminais ou administrativas (no caso de cargo público) se candidatem ou permaneçam em postos políticos.

Perda de mandato é imediata, mas regimento interno da Câmara exige outro rito. A decisão dos magistrados do TSE tem efeito imediato, então, de fato, Dallagnol não é mais deputado federal. No entanto, o Regimento Interno da Câmara dos Deputados (RICD) determina que o processo de cassação terá mais uma etapa dentro da casa.





De acordo com o documento, a decisão do TSE será recebida pela Corregedoria Parlamentar da Casa, que deve analisar a decisão, mas “restringir-se-á aos aspectos formais da decisão judicial”. Depois, de acordo com o artigo 55 da Constituição Federal, a perda do mandato será declarada pela Mesa da Câmara. Não é previsto, em lei, que a Câmara reverta a decisão do TSE. Uma possível mudança na decisão só pode ser feita pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
A Rádio Câmara informou, em 17 de maio, que o corregedor da Casa, o deputado federal Domingos Neto (PSB-CE), analisará a decisão e ouvirá a defesa de Dallagnol. “Caso tudo esteja correto, a Mesa Diretora da Câmara é que pode declarar a perda de mandato”, informaram os repórteres Antonio Vital e Marcello Larcher no programa A Voz do Brasil de 17 de maio.

Dallagnol


Dallagnol afirmou que apresentou, na noite de terça-feira (31/5), a defesa dele para a Corregedoria da Câmara dos Deputados. De acordo com o ex-procurador, 112 deputados assinaram o documento que registrava a defesa dele, além de "uma série de deputados foram apresentar a defesa junto lá na Corregedoria". 





"A defesa será avaliada agora pela Mesa, são sete deputados e deles dependem o destino de 350 mil votos", afirmou Dallagnol. 

Não há um prazo estipulado para a análise no regimento da Câmara nem na Constituição Federal. O Correio entrou em contato com a assessoria da Casa para saber a etapa em que o processo da Corregedoria está, mas não obteve resposta até a última atualização desta matéria. O espaço permanece aberto para eventual manifestação.

O deputado Domingos Neto, corregedor da Câmara, também foi procurado pelo Correio, mas, por meio de assessoria, informou que “não comenta nem este nem qualquer outro caso”.