Jornal Estado de Minas

JUNHO 2013 / CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS

Há 10 anos, protestos de junho de 2013 mudavam para sempre o Brasil

Quando, ainda no início de 2013, movimentos isolados pelo Brasil fizeram barulho contra o aumento das passagens de ônibus, ninguém imaginava que, na metade daquele ano, a história do país passaria por um mês que alteraria sua rota de forma definitiva. Uma década depois, o som das ruas nas jornadas de junho ainda ecoa no cenário político e social brasileiro das mais variadas formas. Como os próprios protestos da época, essa ressonância é difusa, heterogênea e de difícil leitura, mesmo com o benefício da retrospectiva. Para recordar os 10 anos de um dos meses mais conturbados da história recente, o Estado de Minas publica a partir de hoje uma série de reportagens que discutem as razões da explosão de manifestações em território nacional e como elas ainda impactam a vida pública.





As manifestações em junho de 2013 começam em São Paulo, quando milhares foram às ruas protestar contra o anunciado aumento das passagens de ônibus na maior cidade do Brasil. Com o preço subindo em 20 centavos, ali acendia a fagulha que incendiaria o país e também um dos principais motes dos protestos que se arrastaram ao longo do mês sempre lembrando do preço acrescido à tarifa paulistana.

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A revolta com o reajuste na capital paulista encontrava cenário parecido em outras cidades brasileiras. No início de 2013, o governo federal solicitou às prefeituras que postergassem os aumentos tarifários, geralmente feitos nos primeiros meses do ano, como estratégia para segurar o crescimento da inflação, que preocupava a equipe econômica da presidente Dilma Rousseff (PT).

Na consonância da pauta do transporte e, posteriormente, em solidariedade a manifestantes paulistanos e cariocas diante de cenas de violência policial na repressão aos protestos, os movimentos começaram a ganhar outras cidades brasileiras e, na segunda quinzena de junho, já ocupavam todas as regiões do país.





As pautas se tornaram difusas e as ruas abrigaram pessoas de diferentes origens, sem filiações com movimentos organizados e com reivindicações diversas. Nos cartazes ganhavam espaço a revolta contra a corrupção, críticas a políticos de diferentes partidos e espectros políticos, rejeição à realização da Copa das Confederações e da Copa do Mundo no Brasil, pedidos de melhoria em serviços públicos de saúde e educação e arquivamento da PEC 37, entre outros.

Ao mesmo tempo, nos noticiários o retrato das grandes mobilizações populares com manifestantes com cartazes coloridos e indumentárias em verde e amarelo dividia espaço com cenas violentas de repressão policial e de vandalismo. Belo Horizonte foi cenário de alguns dos momentos mais brutais das jornadas. Na capital mineira, dois jovens morreram após cair, em dias diferentes, do mesmo viaduto na Pampulha durante tumulto nos atos.

A Operação Lava-Jato, a destituição de uma presidente e a prisão de um ex-presidente; a ascensão de um líder de extrema-direita e o retorno da esquerda ao Planalto: é difícil entender os acontecimentos da última década sem recobrar em algum momento as manifestações de junho de 2013.