Jornal Estado de Minas

DEZ ANOS

Dilma sobre protestos de 2013: 'Correlação desfavorável de forças'

Dilma Rousseff (PT) foi uma figura política central durante as manifestações de junho de 2013. A então presidente da República vivia o penúltimo ano de seu primeiro mandato no Planalto e via seu governo começar a receber críticas mais contundentes das ruas. À época, sob a pressão de tratar sobre as manifestações que tomaram o país, a petista se pronunciou oficialmente elogiando os protestos focando em seu caráter democrático de reivindicação popular e direcionou suas críticas ao comportamento violento e vândalo de alguns dos manifestantes. Agora, dez anos depois e com uma visão crítica das jornadas de junho, a ex-presidente assina o prólogo do livro “Junho de 2013: a rebelião fantasma", organizado por Breno Altman e Maria Carlotto e lançado pela editora Boitempo.






Em trecho do prólogo, Dilma se recorda dos cinco pactos que propôs junto a governadores e prefeitos dos estados brasileiros e suas capitais para atender às demandas das ruas. Ela destaca que apenas a ideia de estabelecer uma Constituinte para uma reforma política foi rechaçada pelos parlamentares, governadores e prefeitos à época. A ex-presidente divide a participação no protesto entre conservadores e o campo progressista e acredita que uma ‘correlação desfavorável de forças’ impediu o avanço de uma mudança sistêmica no cenário nacional.

“Por enxergar aqueles acontecimentos como uma disputa, meu esforço foi apresentar um programa de cinco pontos que atendesse e fortalecesse as demandas progressistas. Ao lado do compromisso de manter os gastos do governo sob controle, propus investimentos pesados em saúde, educação e mobilidade urbana, incluindo o direcionamento de parte da renda obtida pela exploração do pré-sal pelo modelo de partilha. O quinto ponto era a convocação de uma Constituinte exclusiva para reformar o sistema político-eleitoral. Claramente esbarramos, então, em uma correlação desfavorável de forças, que levou à retirada desse quinto ingrediente do pacto apresentado. Esse item teve até seu encaminhamento parlamentar e institucional bloqueado”, escreveu a ex-presidente no prólogo do livro lançado na última terça (6/6).

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As jornadas de junho marcaram uma queda vertiginosa na aprovação de Dilma. A presidente tinha sua gestão apontada como positiva por 65% dos brasileiros em março de 2013, segundo o Datafolha. Após os protestos, esse índice caiu para 30%. A petista se recuperou razoavelmente nos anos seguintes e conseguiu se reeleger ao cargo em 2014. No entanto, ela não completou o mandato, sendo destituída em 2016 após votação de impeachment no Congresso Nacional.






“Junho de 2013: a rebelião fantasma"
Organizado por: Breno Altman e Maria Carlotto (orgs.)
128 páginas.
Editora Boitempo
R$ 45,00

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