(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas JUNHO DE 2013

Protestos de 2013: políticos mineiros que surgiram depois do caos

Junho de 2013 e os seus efeitos nos anos seguintes abriram caminho para o surgimento de muitos nomes na política. O EM mostra o que eles faziam na época


14/06/2023 04:00 - atualizado 14/06/2023 07:38
440

Multidão caminha pela Avenida Antonio Carlos em 17 de junho de 2013
Multidão caminha pela Avenida Antonio Carlos em 17 de junho de 2013 para protestar contra a Copa, o valor da passagem e a PEC 37, entre outras pautas (foto: Beto Magalhães/EM/D.A Press - 17/6/2013)


Catracas queimadas, vitrines quebradas, gás lacrimogêneo, spray de pimenta, proteção para olhos e bocas. Dez anos depois da onda de protestos de junho de 2013, é possível afirmar que, desde então, nenhum outro momento marcou tanto as ruas das grandes cidades do Brasil como aquele mês. Os protestos, que começaram questionando o preço da passagem do transporte público em São Paulo, culminaram em um encontro de movimentos, pautas e reivindicações país afora.
 
Ora por gritos, ora nos cartazes, novas vozes ecoaram nas assembleias horizontais – ou populares – que se reuniam sob viadutos, nas universidades ou no Parlamento. De 2013 para cá, influenciados diretamente ou não pelos protestos que arrastaram multidões, surgiram muitos políticos no cenário nacional e estadual. Alguns admitem que são fruto daqueles acontecimentos, outros nem pensavam em entrar na política na época, mas hoje ocupam cadeiras na Câmara e na Assembleia ou cargos importantes no Executivo.
 
Na quarta reportagem da série sobre os protestos de Junho de 2013,  o Estado de Minas conversou com alguns desses “novos” nomes da política mineira sobre os dez anos daquelas manifestações. Onde estavam? O que pensavam na época? Como avaliam aquele movimento? Confira os depoimentos*.
 
Duda Salabert
Duda Salabert (PDT-MG) - deputada federal
 

Duda Salabert (PDT-MG) - deputada federal

Para a deputada federal Duda Salabert (PDT), junho de 2013 representou um tremor de terra na política brasileira e também um divisor de águas. A parlamentar – que na época era professora de literatura em colégios e pré-vestibulares do Rio de Janeiro e de Belo Horizonte – revelou que participou e ajudou a construir alguns dos atos e assembleias populares que discutiam táticas para as grandes manifestações.
 
“Eu sou produto político de junho de 2013, já que a minha relação com os movimentos sociais se aproximaram, se estreitaram e se imbricam sobretudo nesse momento. A lição que eu trago para mim dessa época é de que é necessário, mais do que nunca, fortalecer os partidos do ponto de vista programático, político e ideológico, uma vez que os partidos são ferramentas fundamentais para conduzir as massas populares para a justiça social. Em 2013, o que nós vimos foi uma negação dos partidos, uma negação da bandeira partidária, e aí, quando se discute tudo, não se discute nada”, afirmou a deputada federal.
 
Carlos Viana (Podemos-MG) - senador
Carlos Viana (Podemos-MG) - senador

Carlos Viana (Podemos-MG) - senador 


O senador Carlos Viana (Podemos), que em 2013 trabalhava como jornalista, disse ter acompanhado o ciclo de protestos com muita atenção para entender com clareza o que estava acontecendo. O parlamentar acredita que foi o primeiro passo de um processo de crescimento para o brasileiro entender o valor da política.
 
“Esse eleitor voltou para casa insatisfeito, e ele hoje revela sua insatisfação no voto. Seja nos antagonismos da política, de direita e esquerda, como foi na última eleição, seja na renovação dos nomes para o parlamento, até a volta para os nomes mais conhecidos. Quer dizer, o eleitor está mais atento, mais indignado e mais preocupado com a política. Eu vejo que há uma busca hoje por entender ou buscar quem realmente traz melhores resultados para o país”, disse o senador.
 
André Janones (Avante-MG) - deputado federal
André Janones (Avante-MG) - deputado federal
 

André Janones (Avante-MG) - deputado federal


O deputado federal André Janones (Avante), um dos nomes mais atuantes na campanha que elegeu Luiz Inácio Lula da Silva (PT) presidente no ano passado, diz que em junho de 2013 era filiado ao PT e não participou dos protestos porque estava “militando pelas pautas sociais”. Na avaliação do parlamentar, os protestos eram variados, com reivindicações legítimas, mas acabaram sendo desvirtuados e canalizados para um apoio à derrubada da presidente Dilma Rousseff (PT).
 
“No interior de Minas, por exemplo, (o protesto) foi contra o prefeito, em algumas capitais foi pelo transporte público, depois juntou-se e era contra a realização da Copa do Mundo. A verdade é que existiam pessoas com reivindicações legítimas que foram surrupiadas por movimentos organizados, que conseguiram levar essas manifestações de 2013 a 2015, tirando de um contexto legítimo para um apoio a um golpe, que acabou por vir a destituir a presidente Dilma, que não havia cometido qualquer irregularidade”, afirmou Janones.
 
Marcela Trópia (Novo) - vereadora de BH
Marcela Trópia (Novo) - vereadora de BH
 

Marcela Trópia (Novo) - vereadora de BH

A vereadora belo-horizontina Marcela Trópia (Novo) conta que participou de alguns protestos em 2013, pois “já estava atuando para mudar o Brasil”. Entretanto, a parlamentar afirmou que decidiu parar de comparecer quando percebeu demandas que não concordava, tais como o “tom antipolítica” e a “rejeição aos partidos”.
 
“Por um lado, foi um marco importante para despertar o país para a necessidade de olhar para a política, em especial para o Poder Legislativo, e cobrar maior representatividade dos políticos. Também foi um movimento que gerou mais pressão por transparência e fiscalização do poder público pela população. Por outro lado, infelizmente, vimos nascer também movimentos radicais, de ambos os lados do espectro político, além do fortalecimento do discurso antipolítica. Acredito que essa é uma consequência que precisamos vencer, pois o país precisa superar a polarização e encontrar soluções para problemas que de fato impactam a vida das pessoas”, comentou Trópia.
 

Andréia de Jesus (PT) - deputada estadual 


A deputada estadual Andréia de Jesus (PT) diz que em junho de 2013 trabalhava em uma creche, fazia estágio no Tribunal de Justiça e estava se formando no curso de direito e que o tema do seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) era a mobilidade urbana. “O título foi ‘Transporte público por ônibus como direito fundamental de ir e vir’. Comecei dois anos antes e terminei no mês que eclodiu uma série de manifestações a partir do aumento da passagem em São Paulo. Então foi feliz, embora tenha sido muito desafiador encontrar um professor que quisesse ser meu orientador porque o tema até então não era discutido no campo do direito”, revelou.
 
Andréia disse que não participou diretamente do ciclo de protestos, embora tenha ajudado na mobilização das ocupações para irem aos atos. A deputada ressaltou que é importante localizar o lugar dos negros nos espaços da esquerda e das manifestações. “Sempre alguém extremamente consumido com as horas de trabalho e de cuidado. Eu já era separada e criava meu filho sozinha. Eu já morava em Ribeirão das Neves e teve dia que precisei dormir no centro de Belo Horizonte por causa do trânsito que foi impedido por longas horas”, disse a deputada.
 

Gabriel Azevedo (sem partido) - presidente da Câmara Municipal de BH


O vereador Gabriel Azevedo (sem partido), presidente da Câmara Municipal de Belo Horizonte, lembra que estava “completamente desmotivado” com a política brasileira em 2013, logo depois de se desfiliar do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB). “Participei de algumas manifestações no início. Muitos amigos iam. E deixei de ir quando elas passaram a resultar em quebra-quebra e violência. Esse é um método que não apoio”, declarou.
 
Para o parlamentar, a democracia brasileira piorou nos últimos dez anos. “É sempre bom ver o povo na rua num regime democrático, mas é preciso que isso se canalize em representação parlamentar. Isso não é fácil, considerando que os ambientes partidários não permitem esse fluxo. Assim sendo, a energia das multidões se canaliza nos pleitos majoritários gerando populismos de variadas formas. Acho essa dificuldade de canalizar esse fluxo para as representações parlamentares a grande questão, nos três níveis federativos”, afirmou.

Cleitinho Azevedo (Republicanos-MG) - senador


O senador Cleitinho Azevedo (Republicanos), eleito para o cargo em 2022, revela que não participou dos protestos de junho de 2013, em Divinópolis, na Região Centro-Oeste de Minas Gerais. “Estava trabalhando com minha família no varejão que temos. Eu não acompanhava tanto política, via mais pelos jornais”, declarou. O parlamentar disse ainda que começou a se engajar na política em 2015, mas defendeu as manifestações. “Avalio que qualquer movimento que seja ordeiro é positivo. Vivemos em democracia”, afirmou.
 

Mateus Simões (Novo) - vice-governador de Minas


O vice-governador Mateus Simões (Novo), que lecionava direito em uma faculdade particular de Belo Horizonte, disse que não esteve presente nos protestos de junho de 2013. Sua participação em protestos ocorreu nos anos posteriores. “Participei ativamente das manifestações em Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo em 2015 e 2016”, ponderou Simões.

*Além dos políticos que se posicionaram, a reportagem pediu e não teve nenhum retorno de alguns dos principais nomes do estado. São eles: o presidente do Congresso Nacional, senador Rodrigo Pacheco (PSD); o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo); o prefeito de Belo Horizonte, Fuad Noman (PSD); o deputado federal mais votado do país em 2022, Nikolas Ferreira (PL), e o deputado estadual mais votado de Minas Gerais no ano passado, Bruno Engler (PL).  
 
 

Os frutos do ‘antissistema’

 
O professor do Departamento de Ciência Política da UFMG Cristiano Rodrigues avalia os protestos de junho de 2013 como um “sintoma” de um período de grandes transformações sociais – como a Primavera Árabe e o 15M na Espanha – que impactou na política brasileira. “A maioria dos atores políticos que surgiram no início dos anos de 2010 estava dizendo: ‘esta forma de fazer política não nos representa’. Eles são frutos da onda antissistema e anti-instituições da qual junho de 2013 é um sintoma, mas não é a causa”, ponderou Rodrigues.
 
De acordo com o cientista, há uma correlação muito proximal entre o fenômeno político de todas estas pessoas e aquele período de manifestações. “Foi um debate que marcou tanto a esquerda como a direita de 2013 em diante. Isso fez com que nas eleições de 2016 e 2018 o número de aspirantes políticos que não tinham experiência eleitoral anterior – como foi o caso da Áurea Carolina, Alexandre Kalil, Nikolas Ferreira, Gabriel Azevedo, Romeu Zema, André Janones – emergissem, porque o cidadão comum estava comprando a ideia do ‘antissistema’ e dizendo ‘queremos experimentar algo novo’”, explicou. 
 
 


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)