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Estado de Minas PROTESTOS

Alckmin e Haddad estavam no olho do furacão em junho de 2013

Governador e prefeito de SP à época, eles estavam em Paris quando os protestos explodiram. Diante dos tumultos, reduziram o preço da passagem dos ônibus


15/06/2023 04:00 - atualizado 15/06/2023 07:19
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Manifestantes em confronto com a Polícia de São Paulo em 2013
Manifestantes tiveram seguidos confrontos com a polícia em São Paulo. Os protestos logo se espalharam pelo país, com muitos episódios de violência (foto: Fabio Braga/Folhapress)


Dois dos principais nomes do governo Lula, o vice-presidente e ministro da Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin (PSB), e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), estiveram no meio da tempestade em junho de 2013, quando ocorreram as manifestações que tomaram as ruas do Brasil. Respectivamente governador do estado de São Paulo e prefeito da capital paulista à época, Alckmin, então no PSDB, e Haddad foram talvez, junto com a então presidente Dilma Rousseff (PT), os políticos que mais sofreram pressão do levante popular. É o que mostra a sexta reportagem da série sobre os 10 anos dos protestos de junho de 2013.
 

No começo dos movimentos, Alckmin e Haddad, então adversários políticos, precisaram dar uma resposta rápida e incisiva ao que rapidamente se transformou em protestos violentos em São Paulo. No entanto, naqueles dias conturbados de junho, os dois participavam de um evento em Paris, onde defendiam a candidatura de São Paulo para ser sede da Expo 2020, evento que serve de mesa de negociações entre países e empresários do mundo inteiro.

No dia 13 de junho de 2013, em uma quinta-feira, quando a imagem de um policial com o rosto coberto de sangue, agredido por manifestantes, ganhou as manchetes da imprensa, Haddad precisou tirar o foco da reunião em Paris para tentar à distância evitar o pior em São Paulo. Ele temia uma retaliação das forças de segurança contra as pessoas que tomavam as ruas paulistanas, segundo relata o próprio ex-prefeito em artigo escrito para a revista Piauí em 2017, intitulado de “Vivi na pele o que aprendi nos livros”.

“Naquele dia eu voltava de uma viagem de trabalho com o governador Geraldo Alckmin e, até aquele momento, a situação nem de longe parecia fora de controle. Aquela foto, entretanto, me impeliu a dar um telefonema ao secretário de Segurança Pública do estado: era imprescindível um esforço para que não houvesse um revide da polícia. Mas ele veio. E então o país explodiu”, disse.

Na manhã do dia 12 de junho, o então prefeito havia afirmado, em entrevista, que não abriria diálogo com os manifestantes devido ao caráter violento que os protestos teriam adquirido. “Não vou dialogar em uma situação de violência, falei várias vezes. A renúncia à violência é pressuposto ao diálogo. A prefeitura dialoga com todos os movimentos sociais, não tem preconceito”, afirmou.

Haddad relutava em abaixar a tarifa da passagem de ônibus, que naquele mês havia aumentado em 20 centavos, passando de R$ 3 para R$ 3,20, o que a princípio motivava os protestos, mas rapidamente se tornou apenas uma das pautas que inflamavam as ruas. “Não é só por 20 centavos”, diziam os manifestantes na época, e o prefeito paulista reconheceu que o problema ia além do preço do transporte público.

Ele afirma que a prefeitura e o governo do estado teriam feito um esforço para conceder o menor reajuste possível, que ainda teria ficado abaixo da inflação. “Um reajuste em dois anos e meio da ordem de 6% contra uma inflação acumulada de mais de 15%. Eu estou cumprindo com aquilo que eu prometi há menos de um ano, entendo que esse é o caminho para melhorar a qualidade do transporte público”, dizia.

Alckmin também fazia discursos contra a violência dos atos e defendeu a ação da polícia, destacando como dever das forças de segurança a preservação da integridade das pessoas e do patrimônio público. “Não vamos deixar que se confunda baderna com direito à livre manifestação. Estranho um movimento que se diz a favor do transporte coletivo destruir ônibus e estação de metrô. Não é direito de expressão, é vandalismo”, disse o ex-governador no dia 12 de junho de 2013.
 
Alckmin (governador de SP) e Haddad (prefeito da capital paulista) em 2013
Pressionados pelas ruas, Haddad e Alckmin anunciam a redução do preço da passagem de ônibus (foto: MAURICIO CAMARGO/BRAZIL PHOTO PRESS/ESTADAO CONTEÚDO)
 

Revogação

Os dois gestores acabaram por ceder às pressões que vinham das ruas e a um novo pedido do Planalto. No dia 19 de junho, Haddad se encontrou com Alckmin no Palácio dos Bandeirantes e juntos anunciaram a revogação do reajuste das tarifas do transporte público, que também atingia a integração com o metrô de São Paulo e o sistema estadual. “Reconhecemos a legitimidade do debate sobre o transporte público nas grandes metrópoles e a necessidade de aprofundá-lo com serenidade. A decisão terá um custo. Vai exigir uma revisão no cronograma dos investimentos, pois o metrô e a CPTM não têm como arcar com esta redução”, dizia o governador.

Mesmo com a tarifa retornando ao patamar anterior aos 20 centavos, as pesquisas reforçavam a insatisfação generalizada com a classe política. Haddad, que havia iniciado seu mandato como prefeito seis meses antes, viu sua aprovação cair de 34% para 18% no final de junho, segundo levantamento do DataFolha. O então prefeito não viria a se recuperar e perdeu a eleição para o governo de São Paulo, em 2016, no primeiro turno, para o empresário João Doria, do PSDB.

Já Alckmin, apesar de conseguir a reeleição como governador em 2014, viu sua aprovação cair de 52% para 38% no mesmo período. As jornadas de junho aproximaram os dois políticos. Alckmin se filiou ao PSB em 2022, quando se candidatou à vice-presidência, formando a chapa com o petista Lula, que venceu as eleições.

Lula defendeu Dilma e Haddad; Bolsonaro elogiou o filho Carlos

Principais nomes do cenário político atual, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tiveram reações diferentes durante os levantes de Junho de 2013. Na época, o petista usava o seu cacife político para manter o partido em alta e para dar sustentação à popularidade dos aliados Dilma Rousseff, então presidente da República, e Fernando Haddad, prefeito de São Paulo.

No dia 14 de junho de 2013, Lula compartilhou uma foto com Dilma em um evento em Curitiba. “Temos que tratar os que não estão do nosso lado com tanto carinho quanto os que estão. O ódio não ganha eleição, o que ganha eleição é amor”, dizia Lula. Já em 17 de junho, após uma série de atos violentos em São Paulo, com centenas de policiais e manifestantes feridos, Lula dizia que os protestos faziam parte da sociedade e que não era possível ser contra os movimentos nas ruas. “Não existe problema que não tenha solução. A única certeza é que o movimento social e as reivindicações não são coisa de polícia, mas sim de mesa de negociação”, afirmou.

Ele também saiu em defesa de Haddad. “Estou seguro, se bem conheço o prefeito Fernando Haddad, que ele é um homem de negociação. Tenho certeza que dentre os manifestantes, a maioria tem disposição de ajudar a construir uma solução para o transporte urbano”, completou sua nota.

O líder esquerdista também compartilhou uma série de publicações em favor de Dilma, que naquele momento anunciava medidas para atender as demandas que vinham das ruas. Ela anunciou cinco pactos para tentar acalmar a fúria, incluindo a convocação de uma assembleia para reforma política e um projeto para tornar a corrupção crime hediondo. “Minha convicção é de que a companheira Dilma vem liderando o país com grande competência e firmeza, ouvindo a voz das ruas”, disse Lula em 28 de junho.

Baixo clero

Principal nome da direita, Jair Bolsonaro era um deputado com pouca visibilidade em 2013, no seu sexto mandato. Na época, ele se ocupava em subir na tribuna do plenário da Câmara para fazer discursos para sua base ideológica, com conteúdos homofóbicos e machistas. Como correu em 13 de junho, quando ele aproveitou para reclamar de uma coluna de jornal em que era chamado de troglodita.

Mas já em 19 de junho, quando Paes e Haddad revogaram o aumento da passagem, Bolsonaro finalmente tocou de raspão no tema, ao elogiar o filho Carlos, vereador do Rio. "Meu garoto assinou a CPI que investigará as empresas de ônibus do município, comprovando que nenhuma ligação obscura temos com os empresários, algo sempre suspeito no legislativo”, disse.

Com a pauta do transporte público se misturando a demandas anticorrupção e antissistema, Bolsonaro, que sempre se considerou um político por fora do jogo tradicional, passou a endossar alguns discursos. Ele se pronunciou contrário à PEC 37 do Ministério Público, e contra as propostas de reforma de Dilma Rousseff. “Próximo passo, reforma política obrigando somente o financiamento público de campanha, lista fechada e grande parte dessa grana toda voltando em forma de caixa 2. Ou você acha que o PT agora fala sobre o tema para se prejudicar?”, indagava.

O conservadorismo bolsonarista parece ter ganhado adeptos no mês da insatisfação generalizada. Em 2014, Bolsonaro foi eleito para o sétimo mandato como deputado federal, com a maior votação do Rio:  464.572 votos, quatro vezes mais do que no pleito de 2010. Seus filhos também ganharam mais relevância: Eduardo foi eleito deputado federal por São Paulo. Em 2018, Bolsonaro seria eleito presidente da República, vencendo Fernando Haddad. 



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