As páginas dos jornais de junho de 2013 oferecem um panorama sobre como a escalada das manifestações se deu ao longo do mês. Se, nas ruas, os protestos cresceram em número de manifestantes, se espalharam geograficamente pelo país e a pauta foi ampliada recebendo uma infinidade de reivindicações, nas edições do Estado de Minas, o que começou com uma nota de página foi ganhando espaço dia após dia até se transformar em seguidas manchetes de capa e virar assunto de todas as editorias e cadernos até o fim do mês. É o que mostra a sexta reportagem da série sobre os dez anos dos protestos de junho de 2013.
Nas primeiras movimentações populares em São Paulo e depois no Rio de Janeiro, os protestos estamparam notícias na editoria Nacional. Tido como ponto de inflexão para a nacionalização dos atos, a violenta repressão aos manifestantes que pediam a revogação do aumento da passagem na capital paulista em 13 de junho marcou também a ampliação da cobertura jornalística. No dia 15, os protestos chegaram à capa do Estado de Minas e ganharam destaque no caderno de Política à medida que os representantes dos poderes começavam a esboçar reações ao que acontecia nas ruas. Ambas as seções seguiram dominadas pelo tema ao longo do mês.
Em 16 de junho, o caderno de Gerais entra na cobertura. A repercussão do primeiro grande protesto em BH com fotos de uma Praça Sete lotada já mostra como a segunda quinzena do mês abrigava uma pauta mais difusa. Nos dias seguintes, a seção de notícias locais do EM torna-se majoritariamente tomada pelas manifestações. As capas e páginas do caderno passariam a retratar a organização dos atos e os protestos em si; a apreensão dos moradores e comerciantes; a repressão policial e os episódios de vandalismo; e as duas mortes que aconteceram em Belo Horizonte.
Também na segunda quinzena de junho, as manifestações chegaram às notícias esportivas, começando com a repercussão das vaias à presidente Dilma Rousseff (PT) na abertura da Copa das Confederações e seguindo com análises sobre a relação entre o torneio e a insatisfação popular que tomava as ruas. Até o fim do mês, os atos pelo país seriam destaque no Pensar, com entrevistas e análises no esforço de entender os multifacetados movimentos; no caderno de Cultura, repercutindo como as ruas ecoaram no cenário artístico; e até mesmo na antiga seção infantil Gurilândia, explicando às crianças justamente o porquê de o tema ser abordado e discutido de forma tão abrangente.
As capas também sintetizam a cobertura, que por sua vez, pintam o cenário do mês no calor do momento. Junto a artes que reverberavam a estética dos cartazes e fotografias dos momentos de maior tensão nas ruas, as manchetes legendaram o espírito do momento, com apelos contra a violência, condenação das cenas de brutalidade e um esforço de oferecer um resumo das plurais e caóticas jornadas.
Em uma das capas, de 27 de junho, a manchete dizia “Brasil vence, BH perde”, mostrando
uma foto da vitória do Brasil sobre o Uruguai, no Mineirão, pela Copa das Confederações, e outra com a destruição feita por manifestantes ao longo da Avenida Antonio Carlos.Em resumo, recordar e tentar entender o impacto dos protestos de junho de 2013 passa, invariavelmente, pela revisita à cobertura jornalística do período em forma e conteúdo.
DEPOIMENTOS DE REPÓRTERES DO ESTADO DE MINAS QUE PARTICIPARAM DA COBERTURA DOS PROTESTOS DE JUNHO DE 2013
LEANDRO COURI
“Do ponto de vista jornalístico foram dias que lembravam um cenário de guerra em Belo Horizonte. Uma coisa que ninguém nunca tinha visto. Tanto é que no primeiro dia ninguém tinha capacete e nenhuma proteção. No final de junho, com tantas manifestações, todo mundo já tinha seus equipamentos, os capacetes, as máscaras para nos proteger dos gases, das pedradas. A gente tentava sempre estar perto de outros colegas, prestar atenção no momento, aproveitar a oportunidade, fazer o trabalho e sair o mais rápido possível. Tinha que prestar atenção, triangular para não ficar na linha de fogo de pedras e tiros. Enfim, são algumas estratégias que inclusive aprendemos na época com cursos que a polícia deu para jornalistas”.
MATEUS PARREIRAS
“A gente estava vendo que a coisa estava crescendo nas outras capitais e sabia que quando estourasse em BH seria grande. Mas não sabíamos se seria violento. No início, foram pacíficas, tinha a participação de idosos, crianças, pessoas com dificuldades motoras, com aquele lema do ‘vem pra rua’. Mas, com o passar do tempo, essas manifestações pacíficas, que eram avessas à política e não aceitavam ser colocadas como iniciativas de grupo político específico, começaram a ser tomadas de assalto. Na hora que chegava próximo da polícia ou de certos alvos midiáticos interessantes e do interesse desses grupos, eles tomavam a frente da manifestação e atacavam. A partir daí a violência se tornou diária, o que nos obrigou também a adotar estratégias de guerra, com uso de óculos protetor, capacete, a se preocupar muito com a nossa segurança e a dos colegas.”