Uma amizade duradoura e a defesa de temas sociais unem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o papa Francisco.
Lula deve se reunir com o pontífice argentino na tarde desta quarta-feira (21/6) no Vaticano após se encontrar com o presidente da Itália, Sergio Mattarella, no Palácio do Quirinal, residência oficial do presidente italiano.
Segundo o governo brasileiro, Lula e Francisco devem conversar sobre "paz, desigualdade social e combate à pobreza", temas recorrentes nos discursos de ambos.
Os dois se conhecem há mais de 20 anos, quando Jorge Bergoglio, nome de batismo do papa, ainda era cardeal em Buenos Aires.
Com a ajuda do amigo Alberto Fernández, presidente da Argentina, o petista chegou a ser recebido por Francisco no Vaticano em fevereiro de 2020. Na ocasião, eles conversaram sobre fome, desigualdade social e intolerância.
'Ativista de esquerda'
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Por essa razão, foi chamado de "ativista de esquerda" pelo pastor e deputado federal Marcos Feliciano (PL-SP), uma crítica recorrente, aliás, por parte de seus opositores.
Na opinião do jornalista Austen Ivereigh, que escreveu a biografia do papa Francisco e estudou teologia na Argentina, o jovem Bergoglio foi profundamente influenciado pelas ideias peronistas.
"Não é nem de esquerda nem de direita", disse ele em entrevista à BBC em 2015. "Mas o peronismo bebe de um tipo de ressurgimento nacionalista na Argentina, nas décadas de 30 e 40, e era muito identificado com a classe operária, acima de tudo, e especialmente com os sindicatos".
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No fim do mês passado, Lula conversou por telefone com o papa e convidou o pontífice a visitar o Brasil.
Mas a viagem deve depender de seu estado de saúde, pois Francisco passou recentemente por uma cirurgia de hérnia abdominal.
Lula também já disse que, no Vaticano, repetirá o convite a Francisco para vir ao Brasil acompanhar o Círio de Nazaré, uma das maiores manifestações católicas do mundo, realizada em outubro, em Belém (PA).
Na audiência privada com o papa, sem cobertura da imprensa, o petista estará acompanhado da mulher, a primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja.
Diplomacia papal
Analistas também consideram importante o encontro com Lula como parte da estratégia de Francisco para pôr fim à guerra na Ucrânia — um objetivo já declarado de ambos.
No início do ano, Francisco enviou o cardeal italiano Matteo Maria Zuppi à capital ucraniana, Kiev, e está preparando para mandá-lo agora à capital russa, Moscou — para isso, precisa da ajuda de Lula, que tem bom trânsito dentro do Kremlin e é próximo do presidente da Rússia, Vladimir Putin.
Nesse xadrez geopolítico, outro aliado de Putin com quem o papa se encontrou foi o presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, nesta terça-feira (20/6).
O objetivo é construir uma solução de paz por meio de um conjunto de países não alinhados como alternativa ao envio de armas, segundo afirmou a jornalistas o sociólogo italiano Domenico De Masi, amigo pessoal de Lula e com quem o presidente se encontrou na noite desta terça-feira em seu hotel.
“Acredito que o Brasil tenha essa propensão para buscar diálogos — o presidente Lula, neste sentido, tem um importante papel a desempenhar, pois não é uma pessoa divisiva”, disse ele.
Após o encontro com o papa, Lula se reúne com o arcebispo Edgar Peña Parra, da Secretaria de Estado do Vaticano, o equivalente ao Ministério das Relações Exteriores no Brasil.
Dali, ele terá uma reunião com a primeira-ministra Giorgia Meloni, confirmada de última hora.
Meloni estava na França nesta terça-feira para apoiar a candidatura de Roma como sede da Expo Mundial de 2030 e deve se encontrar com o presidente francês, Emmanuel Macron, no Palácio do Eliseu, sede da presidência francesa.
No fim do dia, o presidente se encontra com o prefeito de Roma, Roberto Gualtieri. Gualtieri é próximo a Lula e também o visitou na prisão em Curitiba, quando ainda era eurodeputado.
Lula e Gualtieri devem fazer uma declaração à imprensa e, em seguida, participam de um jantar privado.