O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a fazer críticas ao cordo entre Mercosul e União Europeia nesta sexta (23) em sua passagem pela França. "Não é possível que haja uma carta adicional fazendo ameaças a parceiro estratégico", reclamou Lula.
"Estou doido para fazer um acordo com a União Europeia. Não é possível a carta adicional que foi feita pela União Europeia. Vamos mandar resposta, mas é preciso que comecemos a discutir", disse o petista.
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Disse ainda que gostaria de fazer o mesmo na América Latina e que hoje a União Africana é muito mais organizada que os países latinoamericanos.
Lula voltou a defender moedas para o comércio internacional que tornem os países independentes do dólar —"por que preciso do dólar para negociar com a Argentina, com a China?", exemplificou.
"Não é possível que, em um encontro com líderes mundiais, a palavra desigualdade não apareceu", afirmou o presidente Lula em encontro com o presidente francês, Emmanuel Macron, e dezenas de chefes de Estado, na cerimônia de encerramento da da Cúpula do Novo Pacto Financeiro, que acontece em Paris.
O encontro promoveu seis mesas redondas para discutir a reforma de instituições financeiras multilaterais e bancos de desenvolvimento, com o objetivo de alavancar o investimento em infraestrutura básica e ações climáticas nos países em desenvolvimento.
"Junto da questão climática, temos que colocar a desigualdade. Salarial, de raça, de gênero, de saúde", propôs Lula, acrescentando que o mundo aumentou a concentração de riqueza.
"Se não discutir a desigualdade com igual prioridade à questão climática, podemos ter um clima muito bom e o povo morrendo de fome em vários países", afirmou.
Lula voltou a dizer que é fácil governar para os pobres e afirmou que o governo precisa agora, com a volta da fome, fazer de novo tudo que foi feito em 2003.
"Vamos acabar com a fome. Dilma sabe que podemos. Agora ela pode preparar a caneta para assinar uns empréstimos, para o Brasil e para os países mais pobres", afirmou.
O presidente defendeu reformas no Banco Mundial e no FMI e voltou a criticar o critério do assentos permanentes no conselho de segurança da ONU, que, segundo ele, não representa mais a realidade de 2023, mas a de 1945.
Ao defender que a ONU tenha mais representatividade e força política, Lula afirmou que "sem isso, a questão climática vira uma brincadeira". O presidente citou como exemplo a falta de implementação dos acordos climáticos.
"Vamos ser francos: quem aqui cumpriu Kyoto? Copenhague, COP21? Paris?", questionou, em tom de provocação aos chefes de Estado.
Lula ainda criticou o enfraquecimento da Organização Mundial do Comércio (OMC), ao que atribuiu o retorno do protecionismo.
Sentado ao lado de Macron no encerramento da cúpula, Lula abordou o acordo comercial negociado entre a União Europeia e o Mercosul.
O presidente reforçou o convite para a COP30 do Clima e também para a Cúpula da Amazônia, que acontece em agosto e deve reunir líderes dos países amazônicos para formular propostas para as grandes florestas, que depois também devem ser integradas em articulações com Indonésia e países africanos.
Lula repetiu dados sobre a conservação da Amazônia, o compromisso de zerar o desmate até 2030 e a predominância da energia renovável na matriz brasileira. Também citou adversidade como o garimpo, o crime organizado e o avanço agrícola sobre a floresta.
"Tem pessoas de má-fé que tentam fazer com que se plante soja e milho na floresta, quando isso não é necessário", disse, citando que há 30 milhões de terras degradadas disponível para recuperação e plantio.
"Empresários responsáveis sabem que isso vai criar um problema muito sério aos produtos que queremos vender aos outros países", citou, citando também a importância dos outros quatro biomas brasileiros, para além da Amazônia.
Ao final do discurso, Lula disse que, apesar dos 77 anos de idade, tem a energia de quando tinha 30 anos.
"Macron, se prepare, que estou com mais vontade de brigar nesses próximos três anos como presidente do Brasil", disse o presidente ao final do discurso. Ao falar na sequência de Lula, o francês respondeu que também estava indignado e com a mesma energia que todos ali.
A repórter viajou a convite da Embaixada da França no Brasil.