Depois de três anos sem realizar seu evento anual por causa da pandemia, o Foro de São Paulo volta a se reunir nesta quinta-feira (29), em Brasília, com a presença do presidente Lula (PT), um dos fundadores da entidade em 1990.
O 26º encontro da congregação de partidos e movimentos de esquerda da América Latina e Caribe, realizado até domingo (2), vem dando munição para a direita bolsonarista e alimenta os questionamentos sobre alinhamento com ditaduras na região –especialmente após a visita do ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, ao Brasil.
Com a diretriz de que a definição do seu regime político cabe a cada país e sua população, o foro, que se posiciona contra o imperialismo e o neoliberalismo, evita tratar do cerceamento de opositores e violações dos direitos humanos em países como Venezuela, Cuba e Nicarágua.
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Questionados sobre conivência com as ditaduras de esquerda, integrantes do foro se esquivam de criticar o autoritarismo de países aliados e argumentam que a organização preza pela mediação e pela construção do diálogo, rechaçando interferência nos 28 países-membros.
Além disso, o foro não se posiciona acerca do que não é consenso entre os cerca de 130 partidos e entidades que o compõem –incluindo nacionalistas, socialistas e comunistas.
Segundo dirigentes do grupo, porém, o foro tem compromisso com a democracia e todos os seus membros defendem que a disputa política deve se dar por meio de eleições –e não de revoluções.
No Brasil, PT, PC do B e PCB são os partidos que compõem o foro. Com uma crítica ao autoritarismo de Maduro, o PSB decidiu deixar o foro em 2019.
Em entrevista à imprensa, a secretária-executiva do Foro de São Paulo, Mônica Valente (PT), afirmou, na sexta-feira, que a entidade já nasceu com a estratégia de "disputa política na sociedade, o que implica o debate de ideias," como alternativa aos métodos de insurreição.
"Os nossos países da América Latina e Caribe, todos, têm eleições, ainda que nem sempre sejam eleições e sistemas políticos com os quais todos se identifiquem", respondeu ao ser questionada sobre a defesa da democracia e sobre ditadura de Daniel Ortega.
"Nós temos muito cuidado com a não ingerência nas questões internas dos países, não só no tema da Nicarágua, mas em qualquer outro tema ou país. O Foro de São Paulo busca respeitar profundamente as escolhas que os povos fazem. A gente acredita mesmo que os próprios povos, através das suas lutas, vão aperfeiçoando os sistemas democráticos dos seus respectivos países", completou.
O 26° encontro acontece ainda num contexto de preocupação da esquerda com as fake news. A versão de que o Foro de São Paulo pretende implantar ditaduras de esquerda na região é atribuída por petistas a Olavo de Carvalho, escritor guru do bolsonarismo morto em janeiro de 2022.
A programação prevê um seminário sobre "comunicação e redes sociais" no sábado (1°).
"Não achamos que a realização do foro vai exacerbar ou deixar de exacerbar a polarização no Brasil. O que nos interessa é ter uma aproximação com o que é verdadeiramente o Foro de São Paulo, seus debates, seus participantes, suas ideias. Esperamos contribuir para que no Brasil sejam difundidas as ideias do Foro de São Paulo tal como elas são", afirma Valente.
"Com certeza a realização do foro vai ser explorada ", diz a socióloga Ana Maria Prestes (PC do B), que participa da organização. "Isso é positivo porque mostra a relevância do foro. O que a gente pode fazer é ter esperança que seja um debate saudável", completa.
O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) é outro político que vem criticando o evento em suas redes sociais. "Temos um ‘governo’ que compactua com ditaduras! Lula vai reunir ditadores sanguinários, como Ortega e Maduro, do Foro de São Paulo no próximo dia 29, em Brasília. E você ai jurando que foi pela democracia, né?", publicou.
"O Foro de SP não existe e está proibido democraticamente falar sobre esse assunto", comentou seu irmão Carlos Bolsonaro (Republicanos).
Não está previsto que outros chefes de Estado compareçam ao encontro, mas os partidos de Ortega e Maduro, fazem parte do foro.
O foro decidiu sediar o encontro em Brasília após a eleição de Lula no ano passado, como uma forma de prestigiá-lo. O principal tema do evento, a integração regional, vai ao encontro da agenda de política externa do petista, que reuniu 11 líderes de países da América do Sul em Brasília no mês passado.
Na ocasião, ao lado de Maduro, afirmou que as acusações de falta de democracia na Venezuela não passam de uma narrativa.
Além da integração regional, organizadores do foro dizem que as discussões vão se concentrar em políticas de desenvolvimento e na agenda ambiental de preservação da Amazônia.
O evento terá convidados estrangeiros, como o Democratas Socialistas da América, grupo do senador Bernie Sanders dentro do Partido Democrata dos EUA, e o Partido Esquerda Europeia, que integra o Parlamento Europeu.
No dia da abertura, às 19h, está prevista uma homenagem a Marco Aurélio Garcia, ex-assessor internacional de Lula, morto em 2017. Ele foi um dos idealizadores do grupo. No sábado (1º), haverá uma festa de confraternização do PT.