Jornal Estado de Minas

EM BELO HORIZONTE

Fora do jogo: Bolsonaro reage a decisão que o tira das eleições até 2030

Jair Bolsonaro (PL) teve nesta sexta-feira (30/6) seu principal revés político desde que se tornou o primeiro presidente brasileiro na história a não se reeleger ao cargo. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidiu, por cinco votos a dois, que o ex-mandatário está inelegível até 2030. Enquanto os ministros da corte decidiam o futuro dos próximos pleitos do país, Bolsonaro estava em Belo Horizonte, onde reagiu à condenação em entrevista coletiva em que reiterou a desconfiança sobre as urnas eletrônicas, atacou a Justiça Eleitoral e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).





Bolsonaro foi condenado em julgamento que analisou abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação durante reunião com embaixadores em julho do ano passado. Na ocasião, o então presidente reuniu representantes de diversos países para atacar, sem provas, as urnas eletrônicas e o sistema eleitoral brasileiro. O evento tornou-se alvo de ação do Partido Democrático Trabalhista (PDT). Além deste, outros 15 processos contra o ex-presidente correm na corte máxima da Justiça Eleitoral.

Votaram pela condenação de Bolsonaro os ministros Benedito Gonçalves, Floriano Marques, André Ramos Tavares, Cármen Lúcia e Alexandre de Moraes. Raul Araújo e Nunes Marques votaram pela absolvição. O julgamento começou na quinta-feira (22/6) da semana passada e se estendeu pela última terça (27/6), quinta (29/6) e foi finalizado hoje.

O último voto, que encerrou a sessão nesta sexta, foi do presidente do TSE, Alexandre de Moraes. A decisão foi também a mais incisiva pela condenação de Bolsonaro. O magistrado disse que o ex-presidente promoveu um "degradante populismo renascido das chamas dos discursos de ódio". Na leitura do voto, ele elencou as falas proferidas na reunião com embaixadores, as quais classificou como uma série de mentiras.





Bolsonaro ainda tem a possibilidade de recorrer da decisão do tribunal. Uma das possibilidades é pedir um embargo de declaração para solicitar algum esclarecimento sobre o acórdão do TSE. A outra, já apontada por Bolsonaro como a possibilidade mais provável, é acionar o Superior Tribunal Federal (STF) com um recurso extraordinário para a reversão da condenação. Nenhuma das duas possibilidades, no entanto, suspende a decisão do TSE até que sejam apreciadas.

Reação em BH


Menina dos olhos de Bolsonaro durante a campanha eleitoral do ano passado, Minas Gerais foi, novamente, palco de evento político marcante na trajetória do ex-presidente. Ele estava em Belo Horizonte nesta sexta-feira quando o TSE determinou sua inelegibilidade e, em entrevista coletiva, fez as primeiras declarações após a decisão que determinou a retirada de seu nomes das vilipendiadas urnas eletrônicas até 2030.

Bolsonaro viajou para Belo Horizonte para participar do velório do ex-ministro da Agricultura, Alysson Paolinelli. O ex-presidente começou o dia no Palácio da Liberdade, onde o corpo foi velado, e depois esteve no Cemitério Parque da Colina para o sepultamento. Mais tarde, se reuniu com parlamentares e lideranças políticas mineiras em uma churrascaria na Região Oeste da cidade. Foi no restaurante que ele concedeu uma entrevista coletiva horas após o TSE formar maioria para condená-lo.





Aos jornalistas, Bolsonaro repetiu um discurso beligerante em relação ao sistema eleitoral, voltou a defender os questionamentos às urnas eletrônicas, atacou Lula e lideranças de esquerda da América Latina e ainda aludiu que infiltrados fizeram parte dos ataques antidemocráticos em Brasília no dia 8 de janeiro.

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Em trecho da entrevista, que durou cerca de 20 minutos, Bolsonaro fez menção ao fato de estar em Minas Gerais e comparou o episódio do julgamento que o tornou inelegível com o atentado sofrido em Juiz de Fora, na Zona da Mata Mineira, durante a campanha eleitoral de 2018.

“Tentaram me matar aqui em Juiz de Fora há pouco tempo, com uma facada na barriga, e hoje veio uma facada nas costas com a inelegibilidade por abuso de poder político. Não tenho adjetivo para responder abuso de poder político”, disse o ex-presidente.





Ele voltou a lembrar do julgamento da chapa Dilma-Temer, em 2017, quando o TSE inocentou os ex-presidentes que eram acusados de caixa 2. “Depoimentos de delatores não foram aceitas naquele processo, e no meu, modificou-se a jurisprudência e me julgaram pelo conjunto da obra”, afirmou, fazendo uma referência a inclusão da “minuta golpista” no processo.

Bolsonaro também destacou que sua verdadeira obra, ao longo dos quatro anos de mandato, foi entregar o Brasil com bons números e “respeitando a todos”. “Inclusive vocês nunca viram uma só proposta minha para censurar a imprensa e hoje temos proposta lá dentro do parlamento”, disse.

O tema da sucessão política na direita brasileira em face da saída de Bolsonaro do jogo político nos próximos três pleitos (considerando as eleições municipais de 2024 e 2028 e as gerais em 2026) também veio à tona. Segundo ele, ainda não há lideranças de oposição capazes de concorrer com Lula no pleito de 2026 e a decisão de torná-lo inelegível favoreceria o petista. De acordo com o ex-presidente, o país caminha na direção de uma ditadura.





“Estamos no caminho de uma ditadura. Quer dizer, o caminho está bastante avançado na direção de uma ditadura. Eleições sem confronto não é a democracia. Quem seria oposição a esse atual mandatário que está aí em 2026? No momento ainda não tem nome. Pode ser que apareça, mas não tem nome. Seria quase um W.O. ou poderiam, por aclamação lá no TSE, continuar o mandato do Lula, afinal de contas ele é um grande democrata, um cara que teve na cadeia por tanto tempo condenado por nove juízes e tirado da cadeia para botá-lo na presidência”, disse sarcasticamente.

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Na sequência, Bolsonaro disse que o TSE já trabalha contra ele desde as últimas eleições. O ex-presidente citou decisões do tribunal que o proibiram de usar materiais com informações falsas e uso de espaços públicos como o Palácio do Planalto durante a campanha eleitoral para afirmar que está sendo perseguido pela Justiça Eleitoral.

Ainda sobre o futuro político pós-inelegibilidade, Bolsonaro ressaltou que “continua vivo” reiteradamente, em alusão a seu papel para influenciar votos nos próximos pleitos. Durante a entrevista coletiva, o ex-presidente citou as eleições municipais do ano que vem e disse que pretende, junto do PL, ganhar muitas prefeituras pelo país.

“Eu sou um cabo eleitoral de luxo. Não vamos desistir do Brasil, afinal de contas, tenho uma filha de 12 anos que pretende continuar nesse Brasil e eu tenho uma tremenda responsabilidade, juntamente com a senhora Michelle, por colocá-la no mundo”, disse.