O empresário e ex-deputado estadual Tony Garcia, que afirma ter sido um 'agente infiltrado' do senador e ex-juiz federal Sergio Moro (União-PR), divulgou uma série de diálogos com o parlamentar, neste sábado (8/7) (leia a transcrição do diálogo abaixo). Em suas redes sociais, Garcia chamou o ex-juiz de "justiceiro criminoso" e disse que, enquanto ele atuava na magistratura, foi um "juiz ladrão".
No diálogo com o então juiz federal, Garcia, que na época era réu, questiona a Moro se sua sentença será "amplamente divulgada" pela imprensa no julgamento de um caso sobre fraude no Consórcio Garibaldi. Ele alega que isso poderia acabar "destruindo sua vida".
O ex-deputado estadual pede para que Moro cumpra o acordo, pois precisa "continuar trabalhando". "A perda que causa na vida da gente esse tipo de coisa, o senhor não pode nem imaginar", diz Garcia na gravação.
Na ocasião, Moro afirma que precisava divulgar pois se não iam "cobrar dele". "Eu vou divulgar esse conteúdo porque na verdade é um processo que é uma grande publicidade ai por conta da sua exposição pública né".
Na época dos áudios, Tony Garcia era acusado de envolvimento em uma fraude no Consórcio Nacional Garibald, no qual era um dos sócios. Ele foi preso por 81 dias e condenado, em 2006, mas conseguiu redução da pena para seis anos de serviços comunitários por colaborar com as investigações e prometer a indenização de clientes.
Está previsto que Tony Garcia preste depoimento à Polícia Federal (PF) para esclarecer as recentes acusações que fez contra o senador e também contra procuradores da República no Paraná. Há mais de um mês, Garcia vem denunciando que foi obrigado a gravar pessoas de forma ilegal a pedido de procuradores e Moro após um acordo de colaboração premiada, em 2004.
O senador Sergio Moro informou que não irá se manifestar sobre os áudios.
Leia a transcrição da conversa divulgada por Garcia
Tony Garcia - "Agora, eu sei que o senhor comentou... Mas doutor Sergio, é o seguinte... Preciso só lhe fazer uma pergunta pra ver como vamos lidar com isso... Nós estamos chegando nos 'finalmente', e uma coisa só que me preocupa: quando for a sentença, seja qual for e tal, isso aí, o senhor vai dar publicidade nisso daí?"
Moro - "É, veja, eu sei que tu é uma pessoa publicamente exposta, né."
Tony Garcia - "Eu era, agora não sou mais, nem concorrendo eu tô nas eleições, nada, doutor Sergio."
Moro - "Aí, assim, o que acontece, se eu não divulgar, o pessoal vai ficar cobrando. Então eu prefiro divulgar, entendeu, informa de maneira..."
Tony Garcia - Doutor Sergio, veja, pra eu cumprir esse acordo, pra eu fazer tudo, eu vou depender muito do que estou reestabelecendo da minha vida. A perda que causa na vida da gente esse tipo de coisa, o senhor não pode imaginar nem imaginar."
Moro - "Eu entendo."
Tony Garcia - "Agora, eu só quero fazer o seguinte: se tem uma maneira de nós sentarmos com o senhor, com Ministério Público, nós, a defesa e tudo, de a gente ver uma maneira, doutor Sergio que não me deixe uma coisa, a empresa ou alguma coisa assim. Eu não sei como que é feito isso, porque envolveu empresa como organização criminosa, como isso, como aquilo."
Moro - "Não, o que importa é o senhor."
Tony Garcia - "Isso, não, não, que envolvia empresa, não, não, falaram, citaram nome, o Paulo Pimentel citou o Baltimore, tudo."
Moro - "É, essa empresa (inaudível)."
Tony Garcia - "Eu sei, mas nessa, quando dá..."
Moro - "Não vou tocar no nome da Baltimore."
Tony Garcia - "Não vai ser tocado em nome de empresa, nada disso? Vai ser tocado no nome da minha pessoa?"
Moro - "Sim, do que foi decidido do consórcio Garibaldi."
Tony Garcia - "Uhum. No setor de comunicação, quando é meu nome, você sabe o que acontece, né? Vira primeira página."
Moro - "É, eu vou divulgar, esse conteúdo eu vou divulgar porque na verdade é um processo que é uma grande publicidade aí por conta de sua exposição pública, né. E assim, acho que tá sendo divulgado porquê..."
Garcia - "E matar sso de uma vez né? Enterrar."
Moro - "Isso."
Tony Garcia - "Mas doutor, vou pedir pro senhor, encarecidamente, que seja de uma maneira que não me macule de tal maneira que eu não possa mais trabalhar para conseguir, inclusive, cumprir e deixar esse ônus da Baltimore, que eu não queria. Só isso doutor Sergio."
Moro - "Eu vou provavelmente divulgar uma informação sucinta, que foi condenado e também devo divulgar no caso das condenações, termos. E provavelmente ter que deixar meio público aí, e falar alguma coisa, falar alguma coisa que a pena foi 'x'."
Tony Garcia - "É... É alguma coisa que não acabe comigo comercialmente para eu poder continuar a trabalhar, é só isso que eu vou pedir ao senhor."
Moro - "Pode ficar sossegado."
Tony Garcia - "Eu só pretendo que se o senhor for justo, se for tudo certo, eu só preciso continuar trabalhando para cumprir o que eu fiz até agora, e eu vou continuar e voltar sempre do lado que eu fiquei. Agora, tenho uma reunião com o Ministério Público..."
Moro - "Não, vou conversar."
Tony Garcia - "(...) Para poder botar para frente aquilo lá ou não."
Moro - "Eu encontro em contato."
Tony Garcia - "Ótimo, obrigado."