Jornal Estado de Minas

ENTREVISTA/TEIJI HAYASHI

Brasil-Japão: embaixador prevê isenção em vistos e nova fronteira comercial


O embaixador do Japão no Brasil, Teiji Hayashi, acredita que até 1º de outubro os brasileiros em visita de curta duração ao Japão também estarão isentos de vistos, assim como ocorre hoje em relação aos japoneses em visita ao Brasil. A medida atende à reciprocidade e o prazo definido evitará a suspensão do benefício que havia sido concedido unilateralmente pelo governo Jair Bolsonaro aos turistas de Japão, Estados Unidos, Austrália e Canadá. A comunidade nipo-brasileira residente no Brasil é de aproximadamente 2 milhões de pessoas, entre migrantes e descendentes; no Japão, ela alcança cerca de 200 mil pessoas, segundo estima Teiji Hayashi.




 
Em Belo Horizonte para a 24ª Edição da Reunião Plenária do Conselho Empresarial Brasil – Japão (Cebraj) - considerada a maior reunião bilateral entre os dois países, realizada no Centro Cultural Sesiminas na última semana, Teiji Hayashi anunciou, sem detalhar cifras, a intenção das empresas Cenibra e Sumitomo de ampliar substancialmente investimentos em Minas Gerais. Segundo o embaixador, o Japão também planeja abrir frentes de investimento no país em energia limpa e na indústria agropecuária, a partir da preocupação com a segurança alimentar que surge com a guerra na Ucrânia.
 
Embora os dois países mantenham importante parceria econômica, o relacionamento vem perdendo relevância ao longo da última década. Segundo dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI), entre 2013 e 2022, o fluxo do comércio bilateral teve queda de 21,2%, sendo que o valor exportado do Brasil para o Japão caiu 16,9% e o valor importado, 25,2%. Os investimentos entre brasileiros e japoneses também diminuíram no período compreendido entre 2012 e 2021, com o estoque de investimentos do Japão no Brasil caindo 33,8%; inversamente, a queda foi de 40,1%.
 
Nos últimos 10 anos, o Brasil exportou US$ 55,4 bilhões para o Japão, principalmente em minério de ferro, milho não moído, carne de aves, café não torrado, soja e alumínio. Por outro lado, importou US$ 49,7 bilhões do país asiático, sobretudo em partes e acessórios de veículos automotivos, compostos organo-inorgânicos, motores de pistão, máquinas e aparelhos elétricos.




 
Em entrevista ao Estado de Minas, o representante diplomático dá detalhes sobre a relação entre os dois países. Confira os principais trechos.

O primeiro-ministro do Japão, Fumio Kishida, anunciou a intenção de eliminar a cobrança de visto de curta duração para brasileiros que visitam o seu país. Quando o senhor acredita que a medida se tornará efetiva?
Antes da COVID-19, o Brasil recebia aproximadamente 80 mil japoneses por ano; e o Japão recebia aproximadamente 40 mil visitantes brasileiros por ano. O intercâmbio de pessoas entre os dois países é muito importante para o setor turístico e também para o setor econômico, porque entre os visitantes, alguns são pessoas de negócios. O novo governo do presidente Lula anunciou a decisão de suspender a isenção unilateral de vistos de curta duração para turistas de Japão, Estados Unidos, Canadá e Austrália, que havia sido concedida no governo Bolsonaro, a partir de 1º de outubro. Eu compreendo a decisão do governo brasileiro. Então, como embaixador do Japão no Brasil, estou trabalhando para buscar solução que beneficie ambas as partes.

Como estão essas tratativas?
Graças à visita do presidente Lula para a cúpula G-7, em Hiroshima, nosso primeiro-ministro declarou o começo do procedimento também para conceder a isenção de visto para os brasileiros em visitas de curta duração ao Japão. Estamos trabalhando dentro do nosso governo nesse procedimento, e estamos também conversando com o governo brasileiro. Entendo que a suspensão da isenção unilateral vai entrar em vigor em 1º de outubro. Como embaixador, meu desafio pessoal é terminar o procedimento de isenção de vistos para brasileiros antes dessa data. Então, teoricamente, introduziremos a isenção de visto para os brasileiros antes de 1º de outubro, assim mantendo a isenção para os japoneses.

Qual é o tamanho da comunidade nipo-brasileira no Japão e no Brasil e como a isenção bilateral de vistos de curta duração pode afetar o intercâmbio?
Aqui no Brasil temos pouco mais de 2 milhões de nipo-brasileiros, migrantes e descendentes. No Japão, são aproximadamente 200 mil nipo-brasileiros. Com essa isenção de vistos, podemos fortalecer mais intercâmbios, visitas das famílias, amigos. Além disso, aqui no Brasil temos muitos brasileiros com interesse na cultura e na culinária japonesas, e por isso querem viajar ao Japão. Então, considero que a isenção de visto aos brasileiros será uma oportunidade maravilhosa para promover o turismo em ambas direções. Já comecei a consultar agências de viagem e empresas aéreas, para fazerem promoções de viagens entre Japão e Brasil.





Qual é a expectativa do governo japonês em relação à política externa do governo Lula?
Na área política tivemos o ministro das Relações Exteriores do Japão aqui, em janeiro, depois da posse do presidente Lula, como um primeiro sinal ao novo governo. E o presidente Lula foi convidado pelo primeiro-ministro Fumio Kishida para participar da reunião de cúpula do G-7, que aconteceu em maio, em Hiroshima. Temos com o novo governo de Lula vários acontecimentos e na área política, estamos fortalecendo nossa comunicação. E na área econômica temos grande potencial. Estamos encerramos nesta semana a 24ª Edição da Reunião Plenária do Conselho Empresarial Brasil – Japão (Cebraj). Tivemos aproximadamente 400 empresários japoneses e brasileiros, então, é uma oportunidade comercial, sobretudo com Minas Gerais, estado com o qual temos uma longa história de cooperação econômica. No próximo mês, em agosto, vamos celebrar 50 anos de amizade entre Minas Gerais e a província de Yamanashi, com a visita daquele governador a Minas.

Em números, qual a presença de empresas do Japão no Brasil e em Minas Gerais e quais as perspectivas desse relacionamento?
Há 700 empresas japonesas no Brasil, 20 grandes empresas em Minas Gerais. E, com a nova política do governo Lula, podemos encontrar novas fronteiras, como energia limpa e negócios verdes. Além disso, com a crise na Ucrânia, a segurança alimentícia é tema importante para vários países. Por isso, as empresas japonesas têm também interesse na agropecuária. Então, é meu objetivo explorar as possibilidades de novas áreas.

Alguma perspectiva mais concreta de novos investimentos em Minas?
Empresas que já estão aqui em Minas têm projeto de expandir os seus negócios. A Cenibra está solicitando a expansão de terras necessária para produzir celulose. Querem cultivar mais eucaliptos. Há também a Sumitomo, que está em Minas, que quer também expandir investimentos nas minas de ferro.

Há um número do que possa representar essa expansão?
Agora mesmo não tenho essas cifras. Mas os investimentos de Cenibra e Sumitomo são bastante grandes. Acho que temos mais potencial de aumentar investimentos japoneses no Brasil, porque o Brasil tem pessoas muito talentosas e recursos naturais importantes. Para isso, precisamos apoiar as reformas e a industrialização no Brasil para atrair as empresas japonesas.