A reforma tributária, aprovada na semana passada na Câmara dos Deputados, abalou profundamente os alicerces do PL, contrapondo os parlamentares que votaram a favor e os que foram contra a proposta de emenda à Constituição (PEC). No grupo do WhatsApp do partido, deputados trocaram ofensas e o líder da sigla na Casa, Altineu Côrtes (RJ), teve de suspender as mensagens "por alguns minutos, só para acalmar os ânimos" - como afirmou sua assessoria ao Correio Braziliense.
Antes da votação, na quinta-feira passada, o partido orientou que seus parlamentares fossem contrários à reforma - o ex-presidente Jair Bolsonaro chegou a classificar as alterações no sistema tributário como "do PT". A bancada de 99 deputados, a maior da Câmara, seguiu a determinação. Só que, no primeiro turno, 20 votos foram favoráveis e, no segundo, 18 deram apoio à reforma.
Os principais envolvidos na troca de hostilidades no grupo de mensagens foram os deputados Gustavo Gayer (GO), Julia Zanatta (SC), Carlos Jordy (RJ) e André Fernandes (CE) - contrários à reforma -, que cobraram explicações dos colegas Vinicius Gurgel (AP), Luciano Vieira (RJ) e do licenciado Yuri do Paredão (CE). De acordo com as mensagens, adiantadas pelo jornal O Globo, Gurgel, que divergiu da orientação da sigla, defendeu sua posição e reclamou dos "extremistas" - que estariam perseguindo os 20 que foram favoráveis à reforma.
Para se defender dos ataques, Gurgel teria exposto os episódios desagradáveis de alguns dos radicais bolsonaristas. Lembrou, por exemplo, que Gayer respondeu a um processo na Justiça por dirigir alcoolizado. Já os parlamentares que apoiaram a PEC foram chamados de "melancias traidores" - expressão que a extrema direita utiliza em referência aos "comunistas".
"Não sei por que de tanto choro", publicou Zanatta no grupo. "Se tinham tanta certeza do voto, por que estão se explicando até agora?" Jordy reforçou a mensagem da deputada: "Para mim está muito claro: o PL não vai retroagir, o caminho é consolidar-se como o maior partido conservador, de direita, de oposição no Brasil. E aqueles que não aceitam essa posição devem sair".
Júnio Amaral (MG) foi além e insinuou que quem votou a favor da reforma teria algum interesse na aprovação. "Essas tentativas de justificar o voto, aqui no grupo da bancada, fica parecendo que nós, bolsonaristas, somos otários para acreditar que se trata de um posicionamento verdadeiro a favor do texto. Como se ninguém soubesse como funciona", provocou. Gurgel rebateu: "Amigo, pede minha expulsão! Aqui não tem clima mais com vocês!"
Altineu chegou a alertar aos envolvidos na troca de hostilidades que acionaria o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, para tentar encerrar o entrevero, que levou, inclusive, alguns parlamentares a ameaçarem sair do partido.
O líder da bancada, o presidente do partido, Bolsonaro e o assessor Braga Netto se reúnem, hoje, para tratar da questão, tendo em vista o interesse em manter os 99 deputados no guarda-chuva do PL, com vista às eleições municipais de 2024. A assessoria de Altineu, no entanto, negou ao Correio que o encontro seja para tratar do abalo na estrutura do partido - afirmou que tais encontros são semanais.
Maior bancada na Câmara, o PL concentra também a maior fatia do Fundo Partidário: R$ 205,8 milhões, de um total de R$ 1,18 bilhão a ser rateado entre as legendas. Esse dinheiro pode ser usado para financiar campanhas eleitorais, custear atividades rotineiras - como o pagamento de água, luz, aluguel e passagens aéreas - e salários, como o de Bolsonaro.
O PL, porém, pode abocanhar outra fatia considerável do fundo. O Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) de 2024, protocolado no Congresso em abril, deve destinar o mesmo valor das eleições de 2022 para a de 2024: R$ 4,961 bilhões.