A discussão entre deputados do PL num grupo de WhatsApp no último fim de semana fez com que outras legendas buscassem parlamentares que estão insatisfeitos e que podem deixar o partido do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Hoje com 99 deputados, a maior bancada da Câmara dos Deputados, o PL replica agora, em parte, crise que afetou o antigo PSL, partido nanico que Bolsonaro inflou em 2018, mas que abandonou após ser eleito presidente, levando com ele vários de seus aliados.
O monitoramento de eventuais trocas nas siglas é algo que está constantemente no radar de líderes partidários que almejam aumentar suas respectivas bancadas. Segundo relatos feitos à Folha, esse movimento se intensificou nos últimos dias. São citadas legendas como Republicanos, MDB, PP, Patriota e Solidariedade.
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Moraes é hostilizado em aeroporto de Roma, e Polícia Federal é acionadaEm Goiânia, Bolsonaro repete ser 'o ex mais amado do Brasil'A crise no PSL, que passou a se chamar União Brasil depois se fundir ao DEM, ocorreu em 2019.
Após se eleger presidente, em 2018, Bolsonaro anunciou que deixaria a legenda por divergências com dirigentes do partido, movimento acompanhado por aliados do então mandatário.
Eles tentaram depois criar um partido genuinamente bolsonarista, a Aliança pelo Brasil, mas o projeto terminou em fracasso.
Há diferenças, entretanto, entre o bolsonarismo no PSL e no PL.
Bolsonaro não está mais na Presidência da República e o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, comanda uma legenda com mais peso do que o antigo PSL, além de ser um político experiente e influente entre os deputados.
A discussão entre deputados do PL começou no sábado (8), um dia após a conclusão da votação da Reforma Tributária na Câmara, ocasião em que 20 dos 99 deputados do partido votaram a favor da proposta, mesmo após pressão de Bolsonaro.
Integrantes do grupo dos 20 foram alvos de críticas nas redes sociais e se incomodaram.
A discussão teve troca de ofensas e até mesmo pedido para que deputados deixassem a legenda, colocando de um lado um grupo mais alinhado a Bolsonaro e de outro parlamentares que integram o centrão e não o chamado "bolsonarismo raiz".
Entre bolsonaristas, há uma avaliação que uma eventual entrada do centrão no governo Lula (PT) acirrará ainda mais as divergências internas.
Líder do PL na Câmara, o deputado Altineu Côrtes (RJ), que é da ala mais próxima ao centrão, afirmou que a situação já foi contornada, que todos os deputados estão "com cabeça de tranquilidade" e que "de jeito nenhum" o partido irá rachar.
"O PL é estruturado. O presidente Valdemar é um grande líder, tem diálogo com todos os deputados e eu procuro manter esse diálogo também. Tem que buscar respeito e equilíbrio para chegarmos aos entendimentos. É natural ter divergências", disse.
Ele também afirmou que a estimativa do PL é que a legenda cresça na janela partidária de 2026 e que eventuais saídas estariam ligadas a questões políticas regionais, não a divergências internas. A janela é o período em que deputados podem mudar de legenda sem risco de perda do mandato.
"Nossa previsão é que vamos sair de 99 para no mínimo 120 deputados. Óbvio que vamos perder alguns, mas vamos ganhar outros. Nosso saldo será positivo."
Côrtes se reuniu nesta semana com Valdemar e Bolsonaro, separadamente, e tratou do tema. Ele diz que ouviu de Bolsonaro que era preciso muito diálogo com os deputados para "resolver a situação".
Na terça (11), numa tentativa de contornar a crise, Valdemar divulgou uma carta endereçada aos parlamentares na qual normaliza as divergências da bancada.
Ele defendeu deputados que votaram com o Executivo em determinadas matérias, disse que o PL é um partido de oposição e acenou ao ex-presidente, afirmando que a bancada estará unida "na defesa incondicional dos valores que nosso presidente Bolsonaro fez renascer em nossos corações".
"Minha avaliação é que tudo está caminhando como o esperado pelo partido. Todos conseguimos ver que a cada dia mais estamos unidos e buscando o melhor para a família PL", afirmou o deputado Antonio Carlos Rodrigues (SP), ex-ministro de Dilma Rousseff (PT), um dos que votaram a favor da Reforma Tributária.
"O clima atualmente está muito apaziguador. A carta amenizou, todos entenderam. Hoje não se discute mais isso, a nossa cabeça está no futuro. Precisamos organizar o partido para a disputa eleitoral em 2024", disse o deputado Coronel Chrisóstomo (RO), da ala mais bolsonarista.
Ainda assim, parlamentares do partido afirmam, sob reserva, que o clima ainda não está pacificado --e preveem que novas discussões deverão ocorrer. Eles afirmam que após o recesso parlamentar será necessária uma reunião com dirigentes do PL.
Outro fator que incomodou deputados foi o vazamento na imprensa das mensagens de WhatsApp. Na noite de terça (11), um grupo pequeno de deputados do PL se reuniu na liderança da minoria na Câmara para discutir a situação. Os celulares tiveram que ficar de fora da sala.
Eduardo Bolsonaro (PL-RJ) afirmou que prefere resolver divergências cara a cara. "Aprendi no PSL que você não fala em grupo de WhatsApp para evitar vazamentos."
Em outro grupo de WhatsApp, que reúne cerca de 60 deputados do PL ligados a Bolsonaro, o tema também foi discutido. Segundo relatos, parlamentares chegaram a defender uma saída coletiva da legenda, enquanto outros pediram a expulsão de colegas mais próximos a Valdemar.