Brasília - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou ontem a posição do presidente do Chile, Gabriel Boric, que pediu falas mais duras dos países latino-americanos contra a Rússia. Em coletiva de imprensa), Lula disse que Boric é “sequioso e apressado” e não tem experiência em cúpulas internacionais.
“Não tenho que concordar com o Boric. É uma visão dele. Acho que a reunião foi extraordinária. Possivelmente, a falta de costume em participar dessas reuniões faça com que um jovem seja mas sequioso, apressado", respondeu Lula ao ser questionado por jornalistas em Bruxelas, na Bélgica, sobre o comentário do presidente chileno.
Boric declarou que os países da América Latina devem “dizer claramente” que a invasão da Ucrânia pela Rússia é “uma guerra de agressão imperialista, inaceitável” e que viola o direito internacional. Ele criticou o documento que resultou da reunião entre a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e a União Europeia.
O trecho que trata da guerra não traz críticas fortes à Rússia e foi motivo de discussão entre os chefes de Estado. “O importante é o respeito ao direito internacional, que foi claramente violado aqui por uma parte invasora, que é a Rússia”, afirmou Boric.
Lula, entretanto, afirmou que “já teve pressa de Boric” em seu primeiro mandato, mas que o encontro discutiu a visão de 60 países, e que nem todo mundo tem a mesma visão. “Deve ter sido a primeira reunião do Boric entre União Europeia e América Latina. Ele tem um pouco mais de ansiedade com os outros”, pontuou.
Após a fala de Lula, Boric comentou: “Não me sinto ofendido, estou tranquilo. Hoje, podemos ter diferenças em relação a isso , mas a posição do Chile é uma de princípios e, nisso, acredito, temos que ser claros, não podemos deixar espaço para dúvidas. “E não tenho dúvidas de que ambos buscamos a paz”.
MERCOSUL
Na entrevista coletiva em Bruxelas, Lula disse também que o documento adicional que a União Europeia entregou em março sobre o acordo do Mercosul era agressivo e que “não vai ceder”. Lula disse que enviará uma nova carta à UE em duas semanas e que está otimista com a resposta. O documento europeu previa sanções econômicas ao Brasil caso o país não cumprisse metas ambientais.
O petista citou ainda as compras governamentais, outro motivo de imbróglio para o acordo. A Europa queria incluir no acordo que as empresas estrangeiras pudessem entrar em pé de igualdade com as nacionais nas licitações do governo brasileiro.
“A Europa tinha feito uma carta agressiva. Era uma carta que ameaçava com punição se a gente não cumprisse determinados requisitos ambientais. Tem que haver dois parceiros estratégicos, não discutir ameaças. A gente discute com propostas. Nós fizemos a resposta brasileira, que está sendo discutida com os quatro países do Mercosul, e depois, daqui a duas semanas, vamos entregar definitivamente a proposta para a União Europeia”, declarou Lula.
Lula descartou a ideia e disse que compras governamentais são "um instrumento de desenvolvimento interno" para pequenas e médias empresas e que, portanto, não pode abrir mão desse potencial. A entrevista ocorreu após o fim da cúpula Celac-UE, evento que reúne chefes dos 33 países da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e 25 da União Europeia (UE) na capital da Bélgica.
Sobre a Venezuela, Lula afirmou que as sanções impostas pelos EUA devem começar a cair após o governo e a oposição venezuelanos chegarem a acordo sobre as regras e datas paraq a eleições presidencial de 2024.
“Fizemos uma reunião sobre a questão da Venezuela. A situação da Venezuela vai ser resolvida quando os partidos, junto com o governo, chegarem à conclusão da data da eleição e das regras que vão estabelecer as eleições. Com base nisso, há um compromisso de que as punições impostas pelos Estados Unidos comecem a cair. Sanções absurdas, como a Venezuela não poder usar seu dinheiro que está nos bancos de outros países."
"Então, o que eu sinto? Eu sinto que depois de tanto tempo de briga, todo mundo está cansado de todo mundo. Eu sinto que a Venezuela está cansada também. Eu gostei da reunião, eu não esperava resultado da reunião. Se ele se entenderem, com relação às regras e à data das eleições, eu acho que nós temos autoridade moral de pedir o fim das sanções."