Jornal Estado de Minas

ATOS GOLPISTAS

Abin detalha planos de ataques no país além de 8 de janeiro


Brasília - A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) entregou à Comissão Parlamentar Mista (CPMI) dos atos golpistas 11 relatórios de inteligência que detalham inúmeras plano de organização para invasão do Palácio do Planalto, do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal (STF) e outros ataques, inclusive de explosões e sabotagens, em várias regiões do país antes e depois de 8 de janeiro.




 
A agência rastreou pessoas que financiaram e divulgaram os ataques generalizados, como se organizaram pelas redes sociais, inclusive um plano contra torres de energia e aos seus sistemas de controle. Os documentos entregues aos parlamentares foram obtidos e divulgados pela TV Globo.
 
O primeiro relatório da Abin indica que 83 pessoas e 13 organizações fretaram 103 ônibus para levar 3.875 pessoas – todas já identificadas, segundo a agência – para Brasília, a maioria das regiões Sul e Sudeste. “É provável que diversos contratantes tenham sido utilizados como 'laranjas' com objetivo de ocultar os verdadeiros financiadores das caravanas e dos manifestantes", aponta o relatório.

Um dos financiadores identificados pela Abin é Pedro Luis Kurunczi, empresário da área de engenharia de Londrina (PR), que teria alugado quatro ônibus para Brasília com 153 pessoas. Outro identificado é Marcelo Panho, de Foz do Iguaçu (PR), que fretou dois ônibus com 73 pessoas. Os dois são investigados pela Operação Lesa Pátria, da Polícia Federal.





Outro relatório indica que máquinas usadas em garimpo ilegal nas terras indígenas Kayapó e Trincheira-Bacajá, no Pará, pertencem a uma rede de empresários que financiaram manifestações contra o resultado da eleição presidencial de outubro. De acordo com a Abin, os empresários Roberto Katsuda e Enric Lauriano têm ligações com garimpo e políticos da região.
 
Lauriano teria financiado manifestações no Pará e em Brasília e também esteve presente em Brasília em 8 de janeiro. O terceiro relatório aponta 272 caminhões que estavam nos comboios para Brasília, a grande maioria registrada em Mato Grosso, Goiás, Bahia e Paraná. Destes, 132 estão registrados em nomes de empresas, o que, conforme a Abin, indica envolvimento de grupos empresariais no financiamento do acampamento no QG do Exército.
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Os demais 140 estão em nome de pessoas físicas. mas não pertenciam a caminhoneiros autônomos, são sócias em empresas do setor agropecuário. “A idade dos caminhões reforça o indício de envolvimento de grupos empresariais. Veículos de caminhoneiros autônomos têm, em média, 18 anos de uso. No entanto, aproximadamente 65% dos caminhões presentes nos comboios são novos e seminovos (ano modelo a partir de 2019).




 
Somente 18 dos 272 caminhões analisados (6%) têm 18 anos ou mais”, indica o relatório. O documento cita as rotas percorridas até Brasília e os nomes das empresas envolvidas.

Torres de transmissão


A Abin diz que descobriu que os ataques extremistas poderiam mudar de formato após 8 de janeiro. Em vez de manifestações, poderiam ter ocorrido vandalismo, sabotagem e ataques com explosões a sistemas de controle, como, por exemplo, de distribuição de energia, gás e gasolina. Em 10 de janeiro, por exemplo, uma mochila foi encontrada em viaduto de Feira de Santana (BA) com quatro artefatos que poderiam ser explosivos conectados a uma placa eletrônica.

Outro documento apresentado pela Abin à CPMI levantou nove tentativas de sabotagem a torres de linhas de transmissão de “relevância estratégica para a matriz energética nacional” em várias regiões do país. Em 14 de janeiro, por exemplo, foram detectados danos a estruturas das torres das linhas de transmissão da Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf). A queda de uma torre apenas causaria prejuízo ao abastecimento de energia na região.

Em um dos 11 relatórios, a Abin cita um extremista radical, de 24 anos, que defendia resistência civil contra o governo Lula. Ele integra 119 grupos do Telegram que incitavam ações violentas a partir de 8 de janeiro, inclusive com a criação de grupos paramilitares. O extremista identificado chegou a estruturar grupo paramilitar no Rio de Janeiro, que incluía policiais. “Além de trocarmos informações, devemos buscar nos organizar em células de autodefesa locais, porque a partir do momento que eles dominaram tudo, seus ‘coletivos’ como na Venezuela, já não teremos muito o que fazer”, afirmou ele em mensagem em 16 de janeiro, em um dos grupos, segundo a Abin.





Em outro relatório enviado à CPMI dos atos golpistas, a Abin lista 28 pessoas envolvidas com os ataques nas categorias lideranças identificadas, invasores com acesso a arma de fogo, influenciadores, organizadores de caravanas, financiadores e invasores. Três foram presos pela Polícia Federal. São eles Eduardo Antunes Barcelos, Joelson Sebastião de Freitas e Maria Aparecida Nogueira.

Outro documento mostra o rastreamento de um grupo extremista violento em Brasília que poderia atuar para tentar impedir a posse de Lula. O alerta surgiu a partir de quatro fatores: militares da reserva integrando o grupo; presença de membros do grupo perto da sede da Polícia Federal durante a diplomação de Lula, quando houve tentativa de invasão da PF; comunicação com um movimento radical que pretendia criar unidades paramilitares no país; um dos líderes ter publicado vídeo, em 22 de dezembro, afirmando: “A partir de então seria iniciada nova fase dos atos de protesto, pois o povo estava inflamado e não iria entregar o país ao crime político organizado”. E se a “salvação” não viesse pelo amor, viria “pela dor”.
 
Um dos líderes do grupo invadiu a Câmara dos Deputados, em 2016, durante um ato que pedia intervenção militar no país. Segundo a Abin, o grupo foi responsabilizado por incitar “desordem” no desfile de 7 de setembro de 2021, em Brasília.





Intervenção Militar

A Abin também entregou aos parlamentares um relatório que aponta Movimento Brasil Verde e Amarelo (MBVA) como um dos “principais articuladores” de manifestações defendendo intervenção militar, mesmo antes das eleições de 2022, com apoio ao então presidente e candidato Jair Bolsonaro.
 
O movimento fez bloqueios rodoviários. “Muitos dos caminhões que partiram em comboio para Brasília após a eleição para apoiar o acampamento em frente ao Quartel do Exército partiram de regiões de influência do MBVA”, sustenta o documento.
 
Participaram da fundação do grupo em 2018 a Associação Nacional de Defesa dos Agricultores e Produtores da Terra (Andaterra), as Associações de Produtores de Soja e Milho (Aprosojas) de Mato Grosso e Goiás, e a União Democrática Ruralista (UDR). Atualmente, o grupo é coordenado pelas lideranças da Andaterra, Aprosoja Brasil, Aprosojas Mato Grosso, Goiás e Bahia.





As convocações ocorriam pelas redes sociais. O MBVA controla o programa Sucesso no Campo, na TV aberta.
 
O relatório indica que o grupo promoveu ou participou do ato na Agrobrasília em maio de 2019 em apoio a reformas econômicas; participou e apoiou acampamento 300 pelo Brasil em Brasília em maio de 2020; organizou ida de tratores e caminhões a Brasília em 15 de maio 2021; organizou protesto com tratores na sede da PF em Sinop (MT) em 23 de agosto 2021; liderou manifestações de 7 de setembro de 2021; levou máquinas pesadas a Brasília para a manifestação do 7 de setembro de 2022; atuou nos bloqueios e nos atos contra o resultado eleitoral a partir de 31 de outubro 2022. “Os municípios de influência das lideranças do MBVA são praticamente os mesmos de onde partiram os principais comboios de caminhões com destino a Brasília para as manifestações contra o resultado eleitoral em 2022, assim como nas manifestações ocorridas entre 8 e 10 de setembro de 2021”, diz o relatório da Abin.