Uma ação conjunta da Polícia Federal (PF) e do Ministério Público do Rio de aneiro (MPRJ) resultou na prisão de Maxwell Simões Corrêa nesta segunda-feira (24/07).
A prisão do homem, um ex-bombeiro conhecido com Suel, ocorreu após uma delação premiada de um dos investigados - Élcio Queiroz - no caso Marielle Franco.
Suel foi preso na primeira fase da Operação Élpis, que tem como objetivo investigar os trágicos homicídios da vereadora Marielle e do motorista Anderson Gomes, bem como a tentativa de homicídio da assessora Fernanda Chaves.
Foram cumpridos um mandado de prisão preventiva e sete mandados de busca e apreensão, na cidade do Rio de Janeiro/RJ e região metropolitana.
A operação põe novamente em evidência o peso político que o caso voltou a ganhar desde o início do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
As investigações sobre o caso Marielle foram tratadas como uma das prioridades do Ministério da Justiça, comandado por Flávio Dino, que afirmou hoje que novos avanços ainda surgirão.
Em entrevista coletiva em Brasília após a operação, Andrei Rodrigues, diretor-geral da Polícia Federal, disse que o alvo da operação de hoje atuava na vigilância e no monitoramento de Marielle, além de ter apoiado logisticamente os apontados como envolvidos diretamente na execução da parlamentar, Ronnie Lessa e Élcio Queiroz, com intenção de ajudar a acobertar-los.
"O que posso adiantar é que essa pessoa participou de ações de acompanhamento e vigilância da vereadora e também do apoio logístico, com integração com os demais atores dessa cadeia criminosa percorrida. Então ele teve um papel importante nesse contexto, antes, durante e depois do caso, com a questão do carro. Para utilizar uma expressão popular, o carro foi 'picado', então houve a participação dele na ocultação desse carro", afirmou.
Dino também falou à imprensa, reforçando que foi a delação premiada do ex-policial militar Élcio Queiroz que trouxe novos elementos cruciais para o avanço da investigação - servindo como base para a operação conduzida pela Polícia Federal nesta segunda-feira.
O ministro enfatizou que "não restam dúvidas" quanto ao envolvimento de outras pessoas nos assassinatos de Marielle e Anderson.
Anielle Franco, irmã de Marielle e atual ministra da Igualdade Racial, disse em seu perfil do Twitter que tem confiança nas investigações.
"Falei agora por telefone com o ministro Flávio Dino e com o diretor-geral da Polícia Federal sobre as novidades do caso Marielle e Anderson. Reafirmo minha confiança na condução da investigação pela PF e repito a pergunta que faço há cinco anos: quem mandou matar Marielle e por quê?"
De acordo com Dino, é "inquestionável" a participação de outras pessoas nesses crimes, e as investigações têm revelado a conexão entre as milícias e o crime organizado no Rio de Janeiro com essas ações.
O ministro afirmou que não existe "crime perfeito" e antecipou que novas informações surgirão nas próximas semanas.
Os acusados
Duas pessoas foram formalmente acusadas pelos homicídios da vereadora Marielle Franco e seu motorista, Anderson Gomes.
O policial militar reformado Ronnie Lessa e o ex-policial militar Élcio Queiroz foram presos preventivamente em março de 2019 e aguardam julgamento pelo Tribunal do Júri, mas a data da sessão ainda não foi agendada.
Lessa é suspeito de ter feito os disparos, e Queiroz teria dirigido o carro usado na emboscada. Ambos negam as acusações.
Lessa foi expulso da Polícia Militar do Rio de Janeiro após ter sido condenado na Justiça por ocultação e comércio ilegal de armas depois de 117 peças de fuzis terem sido apreendidas na casa de um amigo seu.
A demora em realizar um julgamento foi atribuída pelo juiz Gustavo Kalil, ao negar o pedido de liberdade dos suspeitos e renovar sua prisão preventiva, em setembro do ano passado, aos sucessivos recursos apresentados pela defesa.
“Só teremos certeza que os dois indivíduos são efetivamente os executores depois que forem julgados”, diz Jurema Werneck.
As investigações não apontaram ainda se Lessa e Queiroz agiram sozinhos ou por ordem de alguém.
Ao longo dos inquéritos, foram levantadas suspeitas sobre o ex-vereador Cristiano Girão, ex-chefe de uma milícia que age na Zona Oeste do Rio.
Ele foi preso em julho de 2021 acusado pelo MP-RJ de ser o mandante de um duplo homicídio que teria sido executado em 2014 por Ronnie Lessa, segundo o MP-RJ. Sua defesa nega o envolvimento no crime.
Outro suspeito é Domingos Brazão, conselheiro afastado do Tribunal de Contas do Rio.
Em 2019, a Procuradoria-Geral da República (PGR) afirmou que “arquitetou o homocídio” e denunciou à Justiça por supostamente obstruir as investigações do caso. O processo corre em sigilo.
Girão e Brazão negam estar envolvidos na morte da vereadora e dizem que não são alvos de ações ou inquéritos a respeito.
Quem é Maxwell Simões Corrêa
Maxwell Simões Corrêa é ex-sargento dos bombeiros e foi preso por atrapalhar investigações e contribuído para acobertar criminosos envolvidos no crime.
As investigações do MP do Rio e da PF apontam que, em 13 de março, um dia depois das prisões dos ex-policiais Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz, denunciados como autores dos crimes, Maxwell teria ajudado a ocultar armas de fogo de uso restrito, além de objetos pessoais de Ronnie que estavam em um apartamento utilizado pelo ex-policial no bairro do Pechincha, no Rio de Janeiro.
Na época, conforme noticiado pela Agência Brasil, Simone Sibilio, promotora do MPRJ que respondia pela investigação do caso no órgão, afirmou que Correa foi proprietário do carro utilizado para ocultar um arsenal de armas de Ronnie Lessa, acusado de ter efetuado os disparos.
"Ele responde pelo crime de obstrução da justiça. É por isso que ele foi investigado, denunciado e preso. Ele participou da ocultação de várias armas, que foram lançadas ao mar. Se a arma usada no crime estava lá, nós não sabemos afirmar. Mas o fato é que ele participou do crime de obstrução da justiça. Há várias provas no processo que está sob sigilo", afirmou Simone naquele momento.
Em 2020, Maxwell foi preso sob acusação de tentar obstruir as apurações, e no ano seguinte, condenado pela mesma razão.
Em nota oficial, sobre a operação, a PF e o MP afirmaram que "a obstrução de Justiça praticada pelo denunciado, junto aos outros quatro denunciados, prejudicou de maneira considerável as investigações em curso e a ação penal".
"A arma de fogo utilizada nos crimes ainda não foi localizada em razão das condutas criminosas perpetradas pelos cinco denunciados, cabendo ressaltar que Maxwell ostentava vínculo de amizade com os acusados dos crimes e com os denunciados Josinaldo Lucas Freitas e José Márcio Mantovano", ressaltou a nota.
*Com reportagem de Rafael Barifouse