Réu em uma ação de investigação eleitoral sob suspeita de abuso de poder econômico na pré-campanha das eleições de 2022, o senador Sergio Moro (União Brasil-PR) tem recorrido a integrantes do Judiciário na tentativa de impedir a cassação de seu mandato e compensar a falta de apoio político dentro e fora do Senado.
O ex-juiz da Lava Jato, sem trânsito no cenário político, foi orientado por aliados a estabelecer pontes no meio jurídico, que definirá seu destino.
Hoje ciente do risco de perda de mandato, Moro passou a intensificar essa estratégia de defesa desde o avanço do caso de Deltan Dallagnol (Podemos-PR), ex-coordenador da Lava Jato em Curitiba.
Esse processo culminou em maio na cassação, por unanimidade, de seu mandato de deputado federal pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral)
O senador estava em um evento de seu partido quando recebeu a notícia sobre Deltan e, de acordo com pessoas presentes, a reação foi de total perplexidade.
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Moro sobre ação que pode cassá-lo: 'PT age à moda venezuelana'Janones: 'Prisão de Sergio Moro é questão de tempo'Sergio Moro à PGR: 'Violação da privacidade de milhões de brasileiros'Lula diz que imprensa se enganou com Moro e Dallagnol na época da Lava-Jato'Auxílio-livro' a juízes mineiros é considerado inconstitucional pelo STFA conversa se deu no ruidoso ambiente que marca os intervalos das sessões, geralmente usados por ministros para receber advogados.
Desde a cassação do mandato de Deltan, Moro também esteve em audiências com os ministros Rosa Weber, presidente do STF, Luís Roberto Barroso e Luiz Fux.
Segundo relatos, as conversas foram solicitadas a pretexto de se discutir um projeto a cargo da deputada federal Rosângela Moro (União Brasil-SP) no Congresso Nacional, mas serviram para que o juiz pudesse abordar os integrantes da corte.
Em gestos considerados como acenos aos ministros, Moro não assinou o pedido de impeachment de Barroso e criticou a hostilidade a Moraes no aeroporto internacional de Roma. Também quis deixar claro que não era contra a indicação de Cristiano Zanin ao Supremo por Lula (PT) —seu adversário nos tempos de Lava Jato—, por questões pessoais.A nova configuração do TRE (Tribunal Regional Eleitoral) do Paraná também serviu de alerta, segundo aliados do ex-juiz.
Aconselhado a buscar magistrados no Paraná, Moro se reuniu com o presidente do Tribunal de Justiça do Paraná, Luiz Fernando Tomasi Keppen, no final do mês passado. Segundo interlocutores do senador, ele também já se encontrou com o presidente do TRE paranaense, Wellington Emanuel Coimbra de Moura.
No Senado, a avaliação é a de que nem mesmo os senadores da oposição vão defender o colega se houver decisão desfavorável da Justiça. Com histórico antipolítica dos anos à frente da Lava Jato, Moro não é próximo de caciques da Casa e mantém relação "institucional" com os demais.
Apesar de fazerem comentários elogiosos ao ex-juiz, senadores da oposição e colegas de partido dizem que Moro é muito reservado e participa de almoços e jantares apenas para tratar de trabalho.
Segundo parlamentares ouvidos pela reportagem, Moro não fala da ação eleitoral nem com colegas mais próximos. Um líder afirma que Moro parece negar a ameaça de cassação até para si.
Do outro lado, caciques políticos não escondem o desconforto com o ex-juiz lavajatista. No mesmo dia em que tomou posse, Moro ouviu do senador Omar Aziz (PSD-AM) que a última juíza a passar pelo Senado, conhecida como "Moro de saias" (referindo-se à ex-senadora Selma Arruda) não terminou o mandato.
O caso de Selma é frequentemente comparado ao de Moro dentro e fora da política.
Eleita pelo PSL-MT, ela teve o mandato cassado por abuso de poder econômico e caixa dois na campanha de 2018. Com a convocação de novas eleições em Mato Grosso, a vaga no Senado foi ocupada pelo hoje ministro da Agricultura, Carlos Fávaro (PSD).
Parlamentares da base afirmam ainda que a tropa de choque com a qual o senador anda pelos corredores do Senado —quase sempre com dois policiais e dois assessores— dá a impressão de que ele faz questão de manter o ar de superioridade dos tempos de juiz.
Moro ganhou direito à proteção da Polícia Legislativa após a descoberta, em março, de um plano da facção criminosa PCC contra ele e a família. Além do ex-juiz, só o presidente do Senado e o filho mais velho de Jair Bolsonaro (PL), Flávio Bolsonaro (PL-RJ), circulam pela Casa escoltados.
O senador também tem feito acenos a políticos do estado, mas não consegue escapar de tropeços. A participação dele em um evento em Ponta Grossa (PR) foi lembrada como exemplo de inabilidade política.
Moro afirmou que o ex-prefeito Jocelito Canto (PSDB) —que é próximo a Álvaro Dias (Podemos)— foi injustiçado em uma ação que o impediu de assumir uma vaga na Câmara dos Deputados.
O ex-juiz só se esqueceu que o autor da ação, o secretário estadual de Logística do Paraná, Sandro Alex (PSD), estava no mesmo palco, e que quem faz a defesa dele é seu próprio advogado, Gustavo Guedes.
O senador foi procurado pela reportagem, mas não quis se manifestar.