As ministras Cida Gonçalves, das Mulheres, e Esther Dweck, da Gestão, alegaram nesta quinta-feira (27/7), durante cerimônia de abertura dos trabalhos do grupo interministerial para o combate ao assédio no serviço público, que foram barradas ao tentar entrar no Palácio do Planalto. Funcionários da segurança não teriam reconhecido as ministras.
Sem entrar nos detalhes do ocorrido, a ministra das Mulheres afirmou que já teria sido impedida de entrar no Planalto em outro momento. Ministros podem usar entradas privativas quando visitam o palácio, mas ela teria sido encaminhada para outro acesso para, então, ser liberada a entrar.
“A discriminação passa pelo que Anielle (Franco, da Igualdade Racial) falou das roupas que a gente usa, da forma como você está. Eu sempre brinco que tem dia que eu chego no Palácio e os seguranças não me deixam entrar. Eles falam ‘não, a senhora entra por aquela porta’. Aí eu falo ‘eu não tenho cara de ministra, não tenho tamanho de ministra, nem me visto como ministra, mas eu sou ministra’. Aí as meninas do corredor saem correndo falando ‘ela é ministra’”, contou Cida. “Eu coloquei o exemplo do Palácio, mas o que acontece no Palácio, acontece em todos os lugares, inclusive no meu Ministério”, completou.
Racismo estrutural
A ministra também destacou as dificuldades que a colega Anielle Franco enfrenta por ter de “convencer todo mundo que ela é uma ministra” por ser uma mulher negra. “Eu sempre brinco, porque imagina a Anielle, negra, como deve ser difícil convencer todo mundo que ela é uma ministra. Ou o Silvio Almeida.”
Esther corroborou e disse que já foi barrada no Planalto, justamente junto a Anielle. Dweck ponderou, no entanto, que não é culpa do funcionário, mas, na verdade, uma “cultura da sociedade brasileira de não imaginar determinadas pessoas em determinados espaços”.
“Quando a Cida falou que ela é barrada no Palácio, eu sou barrada no Palácio, Anielle é barrada no Palácio. Muitas vezes é um terceirizado que fica ali na segurança e isso está na cabeça dele. Isso é que é triste, a sociedade brasileiro traz isso para dentro. A pessoa que está ali não tem nenhuma responsabilidade por estar tendo aquela reação, claro, porque isso é fruto de uma cultura da sociedade brasileira de não imaginar determinadas pessoas em determinados espaço”, comentou Esther.
O Correio Braziliense entrou em contato com o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), que é responsável pela segurança dos palácios presidenciais e do controle de entrada de visitantes ao Planalto, e aguarda o retorno.