A sessão da CPMI dos atos antidemocráticos desta quinta-feira (17/8) marcou o encontro público entre o senador Sergio Moro (União-PR) e o hacker Walter Delgatti Neto. A relação dos dois não começou esta semana, mas sim há quatro anos, quando o hacker acessou conversas do então juiz com procuradores da Lava-Jato no aplicativo Telegram e as enviou ao The Intercept Brasil , originando o episódio conhecido como "Vaza-Jato".
O hacker depôs à CPMI no âmbito da investigação da Polícia Federal (PF) após ele invadir os sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), segundo Delgatti, a pedido da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP).
O senador iniciou seus questionamentos dizendo que sua equipe tentou levantar os antecedentes criminais de Delgatti, mas teve dificuldades porque a lista é “bastante extensa”. Quando recebeu a palavra para perguntar a Delgatti, o senador listou uma série de acusações e processos judiciais contra o hacker. "Pegamos aqui uma lista de 46 processos, em Ribeirão Preto, Araraquara, Rio Claro…", começou Moro. "Respondi cerca de quatro ações e fui inocentado em todas elas", rebateu Delgatti. Os dois bateram boca, e o hacker chegou a disparar que o senador é um "criminoso contumaz" se referindo às mensagens vazadas.
Moro citou um caso em que Delgatti foi condenado, mas a pena não foi aplicada porque houve a prescrição do crime, por estelionato, por ter causado prejuízos a 44 clientes do Itaú. "Em Araraquara, eu sofri uma perseguição de um promotor e um delegado", afirmou. Na sequência, Moro interrompe o hacker e diz que ele foi condenado no processo.
“Relembrando que fui vítima de uma perseguição em Araraquara, inclusive equiparada à perseguição que Vossa Excelência fez com o presidente Lula e integrantes do PT", disse Delgatti. O hacker ainda relembrou que diz isso porque leu as conversas do senador. "O senhor é um criminoso contumaz, cometeu diversas irregularidades e crimes”, completou.
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Sergio Moro se alterou e pediu que o hacker fosse advertido “que não pode chamar um senador de criminoso e cometer o crime de calúnia”. Delgatti debochou do ministro, "eu peço escusas, então”, utilizando uma expressão que usada com frequência pelo próprio Moro. Nesse momento o senador Cid Gomes, que presidia a CPMI no momento do embate, pediu que Delgatti respeitasse o plenário da Casa e ele disse que retirava o que disse.
O que foi a Vaza-Jato?
Vaza Jato foi o vazamento de conversas realizadas através do aplicativo Telegram entre o então juiz Sergio Moro, o então promotor Deltan Dallagnol e outros integrantes da Operação Lava-Jato. A conversas foram divulgadas em 2019 pelo The Intercept Brasil.
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Na época foi mostrado que o então juiz Sergio Moro (União-PR) cedeu informação privilegiada à acusação, auxiliando o Ministério Público Federal (MPF) a construir casos.
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Walter Delgatti Neto, hacker que depôs nesta quinta-feira (17/8) na CPMI dos atos antidemocráticos, ficou conhecido na Operação Lava-Jato. Ele foi preso em julho de 2019, na Operação Spoofing da PF. Na época, ele confessou que hackeou Moro, o ex-procurador Deltan Dallagnol e outras centenas de autoridades.