Johanesburgo - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, em discurso para empresários na abertura da 15ª Cúpula do Brics (bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), que o novo programa de Aceleração do Crescimento (PAC) representa uma oportunidade de investimento para países que integram o Brics – bloco composto por Rússia, Índia, China e África do Sul, além do Brasil.
"As necessidades de financiamento não atendidas dos países em desenvolvimento continuam muito altas. A falta de reformas substantivas das instituições financeiras tradicionais limita o volume e as modalidades de crédito dos bancos já existentes. A decisão de estabelecer o Novo Banco de Desenvolvimento representou um marco na colaboração efetiva entre as economias emergentes"
Luiz Inácio Lula da Silva, presidente da República
Lula destacou investimentos em rodovias, ferrovias, hidrovias, portos e aeroportos. Segundo ele, o governo também dará prioridade a projetos envolvendo a geração de energia solar, eólica e a partir de biomassa, além do etanol e do biodiesel. “É enorme o nosso potencial de produção de hidrogênio verde”, declarou.
“Estabeleceremos parcerias entre o governo e os empresários em todas as áreas, sob forma de concessões, parcerias público-privadas e contratações diretas. Para que o investimento volte a crescer e gerar desenvolvimento precisamos garantir mais credibilidade, muita previsibilidade e estabilidade jurídica, política e social para o setor privado.”
O petista voltou a defender utilização de uma moeda alternativa ao dólar para o comércio entre os países do Brics. Ele afirmou ainda que o Novo Banco de Desenvolvimento, chamado de banco do Brics, deve ser um líder global no financiamento e uma plataforma estratégica para promover a cooperação entre os países em desenvolvimento.
“As necessidades de financiamento não atendidas dos países em desenvolvimento continuam muito altas. A falta de reformas substantivas das instituições financeiras tradicionais limita o volume e as modalidades de crédito dos bancos já existentes. A decisão de estabelecer o Novo Banco de Desenvolvimento representou um marco na colaboração efetiva entre as economias emergentes”, disse.
POTENCIAL
Lula também comentou a relação do Brasil com os países africanos e disse que a África reúne “vastas oportunidades e enorme potencial de crescimento”. “Neste continente, que é o mais jovem do mundo e será o mais populoso em 2100, são inúmeras as oportunidades para produtos brasileiros como alimentos e bebidas, petróleo, minério de ferro, veículos e manufaturas de ferro e aço”. Ele destacou as potencialidades com as transições energética e digital e afirmou que é possível integrar as cadeias produtivas e agregar valor aos bens e serviços produzimos de forma sustentável nos dois continentes. Lula citou ainda a colaboração em áreas como agricultura e saúde.
“A África tem 65% das terras agricultáveis disponíveis no mundo e forte vocação para ser uma potência agrícola, com capacidade para alimentar seu povo e oferecer soluções para a segurança alimentar global. Aliando investimento e tecnologia, o Brasil desenvolveu técnicas modernas de agricultura tropical que podem ser replicadas com sucesso”, disse.
Por fim, ele defendeu a ampliação das conexões marítimas e aéreas entre os dois lados do Atlântico. “É inexplicável que ainda não tenhamos voos diretos entre São Paulo e Joanesburgo, Cairo ou Dacar, essenciais para o aumento do fluxo de pessoas, comércio e turismo”, afirmou. Segundo o presidente há uma proposta do Conselho Empresarial dos Brics para o estabelecimento de acordo multilateral de serviços aéreos do grupo, que conta com as principais autoridades nacionais de transporte e aviação.
Presidente defende inclusão da Argentina
Brasília – A inclusão da Argentina no Brics (bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), foi defendida ontem pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). “Eu defendo que os nossos irmãos da Argentina possam participar do Brics. Vamos ver na reunião como é que fica. O Brasil não pode fazer política de desenvolvimento industrial sem lembrar que a Argentina é um país que tem que crescer junto com o Brasil. Nós temos que compartilhar as coisas que fazemos com a Argentina”, disse Lula em sua live semanal, ao se referir à cúpula do Bric que está sendo realizada em Johanesburgo, na África do Sul.
O petista afirmou também que bloco não pode ser “fechado”. “O Brics não pode ser um clube fechado. O G7 é um clube fechado. O G7, mesmo quando o Brasil chegou a ser a sexta potência do mundo, ele participou como convidado. Acho que o Brics tem possibilidade de ampliação. Se todo mundo quer, não é difícil entrar. Obviamente que você tem que estabelecer determinados procedimentos para que as pessoas entrem”, disse. Segundo ele, todos os atuais membros do bloco defendem a entrada de novos integrantes.
Lula comentou também que o Brics discute a criação de uma moeda comum para transações comerciais dentro do bloco, para que não haja dependência do dólar americano.
FMI
Durante a live, Lula criticou o Fundo Monetário Internacional (FMI) e defendeu a criação de um novo banco mundial. “A gente quer criar um banco muito forte, que seja mais forte que o FMI, mas que tenha outro critério de emprestar dinheiro para os países. Não de sufocar, mas de emprestar na perspectiva que o país vai criar condições de investir o dinheiro, se desenvolver e pagar”, disse. O FMI é uma organização internacional com sede nos Estados Unidos, criada com o objetivo de ajudar na reconstrução do sistema monetário mundial no período pós-Segunda Guerra. Atualmente, o fundo é o maior provedor de empréstimos para nações.
Lula criticou a postura do FMI ao não se manifestar quando há crise nos países desenvolvidos, mas quando há uma crise em um país pequeno, o fundo se intromete. “Na verdade ele deveria ajudar, mas não ajuda. O dinheiro que se põe lá é quase como um cabresto, o país fica preso aquilo e não consegue sair”, afirmou Lula. Segundo ele, é necessário que o comércio internacional não fique preso apenas ao dólar. Para isso, ele defendeu a criação de uma moeda de referência para todos os países como uma forma de ampliação das possibilidades de acordos, inclusive para países que estão com sua moeda desvalorizada, como a Argentina.
“O que é importante é que a gente não pode depender de um único país que tem o dólar e nós somos obrigados a viver de acordo com a flutuação dessa moeda”, defendeu Lula. “Não é negar o dólar, ele vai continuar com o valor que tem. Mas nós não precisamos, se não tiver dinheiro para comprar dólar, comprar dólar. Negocia na nossa moeda”, concluiu. Dessa forma, o presidente acredita que as relações comerciais serão mais serenas, mais maduras e menos pragmáticas.