Única mulher a compor a lista com outras seis indicações de nomes ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), a advogada Daniela Teixeira acredita que sua candidatura abrirá espaço para outras mulheres entrarem no rol majoritariamente ocupado por homens. A escolha dos três novos ocupantes da Corte caberá ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Ao Correio Braziliense, Daniela ressaltou a falta de representatividade feminina no Judiciário e destacou que, nos 34 anos de STJ, houve 100 ministros, mas apenas oito mulheres. Atualmente, dos 33 integrantes da Corte apenas seis são mulheres.
"Eu me sinto em clima de Copa do Mundo batendo os pênaltis nos últimos minutos. Quando minha família me afirmou que recebi o apoio até da Xuxa, foi surpreendente. Quase caí para trás. Isso dá a dimensão de que não sou eu quem está concorrendo. Não é Daniela. É todo um gênero", afirmou. "As pessoas olham para o Judiciário e veem que a última mulher que tomou posse no STJ faz 10 anos. Isso dói em cada uma de nós. É preciso ter um olhar plural, de mulheres. Há diversas turmas de ministros apenas com homens. Fui tomando a dimensão dessa minha candidatura."
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Mauro Cid não poderá se comunicar com Bolsonaro nem Michelle, decide MoraesSuspeita de ser fantasma na Câmara, esposa de ministro do TCU pede demissãoMinas pode ter mais um deputado federal após julgamento do STF; entendaDaniela ressaltou que, atualmente, a advocacia é uma profissão majoritariamente composta por mulheres, portanto, "nada mais justo" a Corte ter mais olhares femininos.
"A minha campanha sou eu e a minha carreira. Não tenho ministro do Supremo fazendo campanha por mim. A história do mundo não me coloca como favorita. O histórico do tribunal, também não", enfatizou. "Acho que, só de chegar até aqui, já ganhei, já sou vitoriosa, mesmo que eu não seja escolhida, mas vou abrir espaço para as mulheres que virão para as próximas listas. Já vale a campanha de suscitar a discussão do porquê não temos mais mulheres na Justiça", afirmou.
A advogada, de 51 anos, ressaltou a grande quantidade de apoio que tem recebido e disse que o cenário reflete o sentimento nacional de que é preciso ter mais mulheres em cargos de comando. "Espero que o presidente leve em consideração esse pedido espontâneo e natural de que existam mais mulheres no Judiciário", frisou.
O nome dela tem o aval, também, de parlamentares e de associações de juristas. Deputadas federais do PT, por exemplo, encaminharam uma carta a Lula pedindo que a advogada seja indicada ao STJ. O documento foi assinado por Gleisi Hoffmann (PR), presidente nacional do PT; Maria do Rosário (RS), Benedita da Silva (RJ), Dandara Tonantzin (MG) e Érika Kokay (DF).
"Consideramos a indicação de Daniela Teixeira um passo significativo em direção a um Judiciário mais inclusivo e representativo, capaz de lidar com os desafios contemporâneos e proteger direitos fundamentais de todas as pessoas", ressaltaram. "Acreditamos que a presença de Daniela Teixeira no STJ contribuirá significativamente para a diversidade de perspectivas no sistema judiciário."
Em nota, o Instituto Empoderar reforçou que a representatividade feminina no Judiciário ainda é desproporcional, com apenas 25% dos cargos ocupados por mulheres nos tribunais do país. Essa disparidade é ainda maior nos tribunais superiores, em que 19% das posições estão com mulheres.
"Essa realidade exige mudanças urgentes. Acreditamos firmemente que a diversidade e a representatividade são fundamentais para construir uma sociedade mais justa e equitativa. É inaceitável que as mulheres, que compõem mais da metade da população brasileira, estejam tão sub-representadas nos mais altos cargos do sistema judiciário", enfatiza a entidade.
Na quarta-feira, o Pleno do STJ definiu duas listas com candidatos às três vagas em aberto na Corte. Uma relação é composta por quatro desembargadores estaduais: Carlos Vieira von Adamek, José Afrânio Vilela, Elton Martinez Carvalho Leme e Teodoro Silva Santos. Desses, Lula escolherá dois.
A segunda lista é formada por três nomes da advocacia: além de Daniela Teixeira, Luiz Cláudio Allemand e Otavio Luiz Rodrigues Jr. O presidente indicará um deles. Os escolhidos por Lula passarão por sabatina no Senado.