Não é novidade que o movimento político da direita é mais engajado e explora as redes em maiores dimensões, ainda que utilizem postagens para reverberação de fake news e até de divulgação de atos ilegais, como a invasão dos prédios dos Três Poderes no 8 de janeiro, em Brasília. Muitos deles foram até identificados e processados no Supremo Tribunal Federal (STF) por essa "autopromoção".
Mesmo longe do poder, mas não do noticiário negativo, Jair Bolsonaro e Donald Trump exercem influência nas redes sociais e no marketing digital. Os dois chegaram ao cargo máximo em seus países muito graças às inserções nas plataformas digitais. Ou quase exclusivamente por esses canais.
Levantamento feito para o Correio pela empresa Ativaweb, especialista em dados das redes, mostra que Bolsonaro e Trump movimentam mais o Twitter, Facebook, Instagram e outras plataformas do que Luiz Inácio Lula da Silva e Joe Biden.
Plataformas digitais
"Trump e Bolsonaro se destacaram por se conectarem diretamente com seus eleitores e apoiadores pelas plataformas digitais, moldando o discurso público, mobilizando bases de apoio e amplificando suas mensagens políticas. Essa abordagem digital atrai atenção e engajamento, mesmo após deixarem seus respectivos cargos", explica o publicitário Alek Maracajá, CEO da Ativaweb.
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As análises levaram em consideração os dados de agosto de 2023. O perfil de Bolsonaro é o que tem o maior número de seguidores, aproximadamente 25,1 milhões. Já o de Trump, em segundo, registra 23 milhões. Os atuais presidentes despontam depois: Joe Biden, com 17,4 milhões, e, por último, Lula, que registra 13 milhões de seguidores.
Engajamento
"Os dois, Trump e Bolsonaro, adotam estratégias de engajamento que aproveitam as características únicas das redes sociais. Eles frequentemente utilizam declarações provocadoras, memes, vídeos curtos e hashtags para atrair a atenção e estimular a discussão, o que resulta em um alcance maior e em uma presença digital proeminente", diz Maracajá.
Consideradas as 10 últimas postagens de cada um, no fim de agosto, os ex-presidentes de Brasil e Estados Unidos mostram mais vigor. Trump teve uma média de 316 mil curtidas por post e 9,6 mil comentários. Bolsonaro, na frente, obteve em média 322 mil curtidas e 14 mil comentários.
Nesses quesitos, Biden e Lula também patinam, se comparados com seus antecessores. O presidente brasileiro tem uma média de curtidas bem inferior, de 48 mil, e 2,4 mil comentários para cada publicação. Já o presidente norte-americano tem uma média de 43 mil curtidas e 2,5 mil comentários em média.
Dificuldades da esquerda
Para Maracajá, a esquerda segue com "dificuldades em canalizar suas vozes de maneira coesa e organizada. Um dos motivos pode ser a diversidade de pautas e perspectivas dentro da esquerda, o que pode levar a uma fragmentação das mensagens, dificultando a criação de uma narrativa unificada".
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Na eleição de 2022, a esquerda reduziu a acachapante diferença que a distanciava da direita no universo digital. Em 2018, Bolsonaro atropelou Fernando Haddad, então candidato petista a presidente.
No ano passado, o PT pareceu ter aprendido um pouco da lição de navegar nas redes, tanto em respostas a fake news postadas por bolsonaristas, como na divulgação de seu candidato. Parte dessa evolução se atribuiu à presença do deputado federal André Janones (Avante-MG) ao lado do petista, um "influente" digital que deu ensinamentos ao comando da campanha do atual presidente.
Perda de prestígio
Mesmo com um número significativo de seguidores nas redes sociais, Bolsonaro vem perdendo prestígio entre a população. Pesquisa do Datafolha divulgada na última sexta-feira mostra que 68% dos paulistanos não votariam de forma alguma em um candidato indicado por ele para a disputa da Prefeitura de São Paulo, que acontece ano que vem.
Por outro lado, no campo da oposição ao bolsonarismo, 37% declararam não votar em um político apoiado por Lula. Na disputa presidencial de 2022, o petista perdeu para Bolsonaro no estado, mas venceu na capital.