Na semana passada, outra vereadora da casa, Amanda Gondim (PDT), assumidamente lésbica, também foi alvo de ameaça de “estupro corretivo”. A violência política contra parlamentares começou no dia 14 de agosto e, até agora, já são sete casos em Minas Gerais – além das duas vereadoras de Uberlândia, sofreram intimidações similares as vereadoras de Belo Horizonte Cida Falabella (PSOL) e Iza Lourença (PSOL); as deputadas estaduais Bella Gonçalves (PSOL), Lohanna (PV) e Beatriz Cerqueira (PT).
Cláudia, que exerce seu primeiro mandato, é professora universitária, ativista dos direitos da mulher, preside a Comissão de Direitos da Mulher da Câmara de Uberlândia e uma das fundadoras do núcleo de estudos de gênero da Universidade Federal de Uberlândia. Ela registrou um boletim de ocorrência e fará uma representação ao Ministério Público de Minas Gerais, que já investiga as outras intimidações, pedindo apuração.
Para a vereadora, os ataques são uma tentativa de "silenciar as mulheres na política". "Já temos uma subrepresentação das mulheres na política. Somos 15% nesse espaço, apesar de sermos maioria na população e no mercado de trabalho e mesmo com baixa representação nossa presença incomoda", avaliou a vereadora, que cobrou apuração rigorosa dos casos, sob pena desses ataques, classificados por ela como machistas, sexistas e misóginos, colaborarem mais ainda para que as mulheres desistam de ocupar esses espaços.
De acordo com a vereadora, o slogan do seu mandato é "em briga de marido e mulher eu meto a colher", usado ironicamente pelo criminoso para ameaçar a parlamentar. Segundo ela, além dos e-mails intimidadores enviados ao seu gabinete, também foram encaminhados para a caixa postal da Câmara ameaças, não só contra ela, mas também a sua família, citando inclusive dados pessoais. "O que não nos nos mata nos fortalece", afirma a professora. "Não seremos intimidadas", assegura.
A violência política de gênero é crime no Brasil desde a entrada em vigor da Lei 14.192/21, que estabelece regras para criminalizar práticas de assédio e violência contra mulheres que exercem cargos eletivos e têm atuação política. Semana passada também foi aprovada na Assembleia Legislativa de Minas Gerais um projeto que tipifica a violência política contra mulher e estabele ce regras para o combate e a prevenção.
Direitos Humanos
O Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos (Conedh) soltou uma nota de solidariedade às parlamentares e classificou como "inadmissível" essa escalada de violência, "um verdadeiro atentado ao Estado Democrático de Direito".
O conselho solicitou as entidades que tomem as medidas cabivéis para identificar os agressores "visto que se trata de ações individuais ou de grupos antidemocráticos articulados com fins espúrios e que colocam em risco não somente a vida das parlamentares, como o exercícios de seus mandatos, sufragados pelo povo mineiro".
"As parlamentares vítimas da violência estão sendo duplamente punidas: além dos direitos à vida e à liberdade serem sistematicamente violados, também sofrem com a limitação do exercício da atividade parlamentar", diz a nota.