Mas como bom mineiro, Zema não fecha as portas. Segundo ele, o futuro a Deus pertence. “Nós temos de estar sempre prontos para fazermos aquilo que é melhor, tanto para Minas quanto pelo Brasil.”
O governador falou também sobre sua relação com Lula, a qual considera "republicana", e disse que receberia o presidente em Minas com o "maior prazer", mas não poupou o petista de críticas. Aliado de Bolsonaro, o mineiro disse que os rumos econômicos do país estariam melhor traçados se o ex-presidente tivesse obtido a reeleição no ano passado e considerou a atual gestão do país como "perdulária".
Zema foi entrevistado diretamente de Viena, na Áustria. Ele passou a última semana na Europa e detalhou investimentos de empresas austríacas e italianas em Minas Gerais. Durante a entrevista, ele também comentou sobre a expectativa do investimento federal nas rodovias mineiras; classificou a privatização da Cemig e da Copasa como uma ‘modernização’ das empresas; e decantou um cenário de mudança econômica e de prosperidade no Vale do Jequitinhonha a partir da exploração do Lítio na região, a mais pobre do estado.
Leia a seguir os principais pontos da entrevista de Zema ao “EM Minas” separados por temas. As entrevistas da série serão semanais, sempre transmitidas aos sábados na TV Alterosa, publicada no Estado de Minas aos domingos e disponível no canal do YouTube do Portal Uai.
Candidatura à presidência
"Meu foco é concluir essa minha segunda gestão melhorando a vida dos mineiros. Eu tenho ainda grandes desafios, somente ano passado é que nós iniciamos a recuperação das nossas estradas. Esse processo vai levar mais dois, três anos. Ainda tenho de levar energia elétrica com mais quantidade e qualidade para diversas regiões do estado, já que há uma reclamação contínua em relação a essa questão. E 2026, para mim, é algo muito distante. Eu quero focar naquilo que o mineiro precisa, nós ainda precisamos trazer mais investimentos e melhorar a vida do mineiro.
Eu, pessoalmente, preferia muito mais em 2026 apoiar um nome a presidente, como fiz o ano passado (quando liderou o braço mineiro da campanha de Bolsonaro no 2º turno), do que ser o nome (para presidente). Então, estou trabalhando nesse sentido. Vamos ver se encontramos um bom nome. Temos bons governadores no Brasil, e eu gostaria muito mais de estar apoiando do que ser apoiado. Mas o futuro a Deus pertence, e nós temos de estar sempre prontos para fazermos aquilo que é melhor. Tanto por Minas quanto pelo Brasil."
Vice de Tarcísio de Freitas
"Está muito distante. Eu quero contribuir, e a maneira que eu julgo mais adequada de contribuir é sendo alguém que vai apoiar outro. Se depender de mim, não gostaria de estar na chapa nem para presidente nem para vice. Eu gostaria muito de estar apoiando as boas propostas. Quero salientar aqui que eu acredito muito mais em propostas boas do que em nomes. Porque proposta boa, independentemente de quem entrar, vai ser mantida, e nomes, a qualquer momento você está sujeito a ter mudanças. Ninguém é eterno, muitas pessoas acabam cedendo a pressões. Então, espero que nós tenhamos aí um bom candidato, com excelentes propostas, e ele vai ter todo meu apoio. Eu não tenho nenhuma pretensão na eleição de 2026.
Eu julgo que já terei feito uma parte expressiva da minha contribuição quando completar oito anos de governo em 2026, e acho que, na política, nós precisamos também prezar a renovação, ter pessoas com ideias novas para oxigenar. Infelizmente, no Brasil, nós temos uma legislação eleitoral que privilegia aqueles que já exercem algum mandato."
Governo Lula 3
"Quando se fala em economia, é como se você aplicasse hoje um medicamento e o efeito fosse aparecer daqui um ou dois anos. Então, na minha visão, esse governo ainda está tendo alguns números satisfatórios devido às reformas que o Brasil teve aí nos últimos anos. Nós tivemos uma reforma trabalhista, uma reforma previdenciária, a criação do pix, uma série de avanços que tem provocado, de certa maneira, pelo menos nem que seja de forma amena, uma melhoria na vida geral dos brasileiros. Mas eu temo muito porque é um governo que só fala em gastar, nunca falou em economizar. Tenho uma visão de setor público de que estado, cidade e país que gastam mais do que arrecadam são uma cidade, um estado e um país que não têm muito futuro, porque vai só se endividar ao longo do tempo e em algum momento vai colher problemas. O estado de Minas é uma prova disso. Quando eu assumi, o salário não era pago em dia, as prefeituras não recebiam. Um país tem mais margem de manobra, mas é o caso da Argentina onde se tem hoje uma inflação superior a 130%, e eu não desejo isso para o brasileiro nem para o mineiro. Então, eu vejo que nós temos hoje um governo que não tem nenhuma preocupação em economizar, e o brasileiro já paga imposto demais. Eu queria é que esse governo economizasse e falasse: 'Eu vou reduzir impostos'; e o que nós estamos vendo é um caminho na direção contrária."
Lula x Bolsonaro
"Em termos de economia, eu diria que nós teríamos caminhado num sentido melhor (se Bolsonaro fosse reeleito), já que não estaria se falando em aumentar impostos como este governo está falando. Estão falando que vão aumentar impostos dos ricos, tudo bem! Só que na hora que você aumenta imposto de quem investe, de quem gera emprego, quem acaba às vezes pagando uma conta é aquele que depende desses empregos, o assalariado. Então, é algo que tem de ser visto com o pé atrás e outro na frente. O que nós precisamos no Brasil é de um governo federal que fale: e'Eu vou economizar, vou acabar com privilégios, vou fazer a máquina pública ficar mais eficiente, ter menos cargos, ter menos desperdício'. E isso, hora nenhuma, estamos vendo. Muito pelo contrário. Acho que somos, se não me engano, o país do mundo que mais tem ministérios, 38 ou 39, e na minha opinião totalmente desnecessários. Minas Gerais hoje é o estado que tem menos secretarias no Brasil, 14, e opera bem. Quando você tem gente demais é igual ter três dentistas tratando do seu dente: um vai ficar empurrando ao outro para resolver o problema que você tem na sua boca."
Visita de Lula
"Nossa relação sempre foi uma relação republicana, de respeito. O presidente ainda não teve a oportunidade de estar em Minas Gerais, se ele estiver em Minas e, logicamente, se eu for convidado pelo cerimonial dele, com toda certeza farei isso (recebê-lo) com o maior prazer para mostrar que o governo federal é e sempre será bem recebido em Minas Gerais. Diferenças no modo de agir, todos nós temos. Até entre marido e mulher tem diferença, imagina entre pessoas que pouco se conhecem. Mas respeito o presidente pelo cargo dele, apesar de discordar muito dessa maneira de conduzir, que não tem muita responsabilidade com gastos. Eu pessoalmente sou uma pessoa muito econômica e acho que todo o governo tem que ser econômico. Porque, caso contrário, você está mandando a conta para o povo pagar, e o povo já esttá farto de pagar imposto."
Expectativa com o PAC
"Nós elencamos diversas obras que julgamos como prioritárias e foram informadas ao governo federal cerca de 60 a 90 dias atrás. Dentre as obras prioritárias, temos principalmente as grandes rodovias federais que cortam Minas Gerais. Temos uma necessidade urgente de resolvermos a questão da BR-381 no trecho que vai de Belo Horizonte para o Espírito Santo. É uma rodovia que já precisava ter sido duplicada, não há anos. Temos ainda a questão da reconcessão da BR-040, que é uma rodovia também problemática e que precisa de uma manutenção melhor. Temos ainda a BR-262 entre Belo Horizonte e Triângulo Mineiro, uma rodovia que já teve uma parte duplicada até Nova Serrana, mas que precisa urgentemente também de ampliar essa duplicação, ou, pelo menos, termos terceiras faixas nos trechos de serra. Então, nosso foco tem sido muito na questão das rodovias. Se o governo federal conseguir entregar aquilo que ele se comprometeu e está incluído no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), eu posso dizer que serei um governador extremamente satisfeito. Agora, entre assumir um compromisso e fazer a entrega efetiva tem uma diferença muito grande, mas estou aqui aguardando o início dessas obras, a entrega dessas melhorias."
Vale do Lítio
"O Vale do Lítio já está mudando por completo a realidade daquela região (Vale do Jequitinhonha). Estive recentemente nas cidades de Araçuaí e Itinga e tive a oportunidade de ver lá como as coisas estão. Restaurantes e hotéis estão fornecendo alimentação e hospedagem como nunca ocorreu. Fui cortar o cabelo em Itinga que o barbeiro me confirmou que o movimento nunca foi tão bom como ultimamente. Quem vende material de construção nunca vendeu tanto, e escutei de um mestre de obras lá que estava reformando uma escola estadual que ele não está conseguindo contratar mão de obra local.
Então, acho que essa região nunca vivenciou esse tipo de fato, a falta de mão de obra. E lembrando que a grande maioria dos empregos gerados na região são empregos formais, já que as mineradoras são empresas grandes, formalizadas e que pagam bem acima da média do setor de varejo e do agro. As empresas já estão se instalando. Uma delas, a Sigma, já está inclusive exportando. Eu estive no porto de Vitória para acompanhar a primeira carga que foi exportada, de 30 mil toneladas de lítio já beneficiado, e o que nós queremos bem é exatamente isso: que o produto saia com valor agregado.
Esse lítio que foi exportado já tem um alto valor agregado de US$ 7 mil, a tonelada, mas nós não estamos satisfeitos. Já entramos em contato com empresas chinesas que fabricam baterias, e o que nós queremos é que boa parte dessa fabricação ou toda ela seja feita em Minas Gerais para termos condição de vendermos para o Brasil e também para o mundo a bateria que é o produto que tem o maior valor agregado."
Investimentos da Europa
"Nós já assinamos aqui três investimentos que vão gerar empregos para melhorar a vida dos mineiros. Dois deles na Itália. Um é com a empresa Asja, que vai construir na cidade de Sabará uma usina que vai produzir gás metano. Tudo isso vem de um aterro sanitário que já existe na cidade. Hoje esse aterro, e muitos outros em Minas Gerais, à medida que o material ali depositado vai se decompondo, vai exalando e emitindo metano, que é um gás extremamente nocivo e também faz com que o efeito estufa fique acentuado. Então, vamos ter uma geração de energia que ajuda na questão da emissão de gases estufa. Toda vez que você amplia sua geração de energia, isso também significa energia mais abundante, e tudo que fica abundante fica mais barato. O investimento nessa etapa é de R$ 150 milhões. Tivemos também a confirmação de um investimento adicional ao que já foi feito da Fassa Bortolo, uma empresa de argamassas que construirá um novo Armazém de R$ 35 milhões. Hoje, aqui na Áustria, ficou definido o investimento da Andritz na cidade de Governador Valadares de R$ 285 milhões. A Andritz já está presente no Brasil, ela produz muitos componentes para usinas hidrelétricas. Inclusive é fornecedora da Cemig há muito tempo. Produz também sistemas de tratamento de esgoto, também é fornecedora da Copasa. E produz ainda uma série de equipamentos por filtragem."
Rodoanel
"Tivemos a oportunidade de visitar, no norte da Itália, uma rodovia que foi construída e também é operada pela mesma empresa que ganhou a concessão do nosso Rodoanel e que vai aplicar na Região Metropolitana de BH as mesmas técnicas. Vai fazer uma rodovia muito semelhante a que nós tivemos a oportunidade de percorrer aqui na Itália, e isso significa que vamos ter uma rodovia, no meu entender, mesmo não sendo engenheiro, das melhores do estado de Minas, se não a melhor. Serão 100 quilômetros do rodoanel, um percurso semelhante a esse que eles exploram aqui no norte da Itália, e a previsão é que essas obras já comecem no ano que vem. Então, nós estamos extremamente confiantes e, de certa maneira, até confortáveis, porque não é qualquer empresa que ganhou a obra para construir e também explorar o Rodoanel, é uma empresa com larga experiência e que fez aqui na Itália algo que é invejável."
Metrô de BH
"Com essa concessão, que inclusive recebeu recursos do governo federal, R$ 2,8 bilhões, mais R$ 400 milhões do estado, serão aplicados na expansão do mesmo, na melhoria do mesmo. E hoje nós podemos dizer que o metrô de Belo Horizonte está com preço que eu julgo alto, reconheço, mas um preço mais dentro da realidade. Havia um subsídio bancado pelo governo federal, e para você fazer a concessão, nenhuma empresa tem condição de estar subsidiando. Uma das consequências realmente de uma concessão acaba sendo, infelizmente, eu reconheço, um reajuste no preço. Esses reajustes de acordo com o contrato de concessão, que foi construído com o governo federal, reza que será semelhante e de acordo com os índices de inflação. Então é algo que, a médio e longo prazo, não vai superar reajustes salariais. Agora, o que nós temos de deixar claro aqui são as melhorias que os usuários vão ter e já estão tendo. Instalação de wi-fi para todo usuário; então, durante a espera dele na estação, durante a viagem dele, vai poder conectar o wi-fi, com isso ele deixa de utilizar seus pacotes que ele adquire de operadoras de telefonia. Ele vai ter instalações muito melhores, trens com mais horários, vai esperar menos, vai chegar mais cedo em casa."
Privatização da Cemig
"Eu chamo esse processo de modernização das nossas empresas. Porque a Cemig vai continuar com o nome Cemig, vai continuar em Belo Horizonte, nada vai mudar, exceto que a empresa não vai mais ter interferência da politicagem. Como já aconteceu no passado, a Cemig durante 15 anos foi investir na Light no Rio de Janeiro, na Renova no sul da Bahia, em Belo Monte e Santo Antônio no Norte do Brasil, e deixou Minas Gerais sucateada. Quem fez isso foram os políticos que governaram Minas no passado e que eu acho que queriam usar a empresa politicamente.
O que nós queremos é uma gestão moderna. O estado continua participando acionariamente, continua sendo um sócio importante, mas deixa de fazer essas interferências nocivas que acabam prejudicando o povo mineiro. Hoje, nós temos regiões do estado onde falta energia elétrica, onde algumas indústrias poderiam ampliar sua produção e não o fazem porque a Cemig ainda não entrega a energia em quantidade suficiente. Já visitei indústrias que são movidas parcialmente a geradores a diesel que custam muito mais caro e que poluem muito mais porque a Cemig no passado foi trabalhar em outros estados. Na minha gestão tem sido exatamente o oposto: 100% dos R$ 42 bilhões que a Cemig está investindo é dentro de Minas."
Privatização da Copasa
Na minha opinião, quem fala isso (diz que a privatização da Copasa gerará falta de abastecimento em municípios pobres e afastados dos grandes centros urbanos) é alguém que deve ter algum interesse contra essa modernização da empresa. Porque o modelo que nós vamos adotar é aquele em que quem vier a assumir o controle ou ter parte do controle da empresa já vai saber de antemão que a Copasa precisa atender, e cada lote vai estar constituído dessa maneira tanto em cidades onde tem resultado positivo, quanto cidades onde resultado é nulo ou até mesmo negativo, porque pode ser uma cidade muito pequena com a renda muito baixa. Então nós estaremos fazendo tudo isso em lote. O lote, como um todo, é viável, mas algumas cidades serão muito melhores do que outras, mas nenhuma, eu quero deixar aqui bem claro, vai ficar sem o fornecimento de água e sem o tratamento de esgoto."
Autoavaliação dos mandatos
Minha primeira gestão foi para colocar o trem em cima dos trilhos novamente. Nós tínhamos um estado arrasado, com folha de pagamento atrasada e que não pagava as prefeituras. E minha segunda gestão vai ser marcada porque nós vamos pegar esse trem e transformar em trem-bala. Queremos Minas Gerais como o estado que mais cresce no Brasil, como estado que proporcionalmente mais gera empregos e, muito provavelmente, estamos próximos disso. Inclusive é um motivo de eu estar aqui na Áustria neste momento, atrás de investimentos e melhorias para Minas Gerais.