Orion Teixeira
Lula antecipa disputa e quer BH, SP e RJ
Ao desembarcar em BH, na última sexta-feira, o ministro das Relações Institucionais, responsável pela relação do governo com o meio político, Alexandre Padilha (PT), deixou orientação aos aliados. Sobre a sucessão municipal do ano que vem, Lula (PT) mandou dizer que não abre mão de eleger um aliado nas três principais capitais: Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro.
A estratégia antecipa o processo eleitoral e é fundamental para o futuro de seu governo e do projeto, até porque a polarização política fará um 3º turno nas eleições para prefeito. Mesmo que não quisesse, não tem jeito: eleição é sempre assim, pode ser municipal ou estadual, mas os governos ficam sempre em avaliação. A vitória de aliados significa aprovação; a derrota, o contrário.
Por isso, o presidente vai empenhar sua força política nas próximas eleições, sabedor da importância e até dos riscos que a investidura impõe. Vencer é obrigação de um mandatário; perder, arranharia sua liderança. Em São Paulo, é sabida e conhecida sua preferência e até compromisso com o aliado e pré-candidato Guilherme Boulos (PSOL), mesmo a contragosto de petistas paulistanos. No Rio, o prefeito Eduardo Paes (DEM) e pré-candidato à reeleição, é o aliado. Na capital mineira, apesar da disposição dos petistas com candidatura própria, a tendência é o apoio retributivo ao prefeito e pré-candidato à reeleição, Fuad Noman (PSD). Lula deve vir a BH no final deste mês, a um ano das eleições, para encontro com Fuad, quando deverá oficializar a cessão do terreno do antigo Aeroporto Carlos Prates para a capital mineira. Para o estado, vai detalhar as obras do Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Kalil esquecido
Nesse xadrez político que está jogando, Lula continua esquecendo um aliado que foi importante em sua eleição no ano passado. Desde que tomou posse, nem o presidente ou os oito ministros que visitaram o estado procuraram o ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil (PSD). Pesquisas apontam que Kalil, até mais do que Lula ou Zema, é um dos principais cabos eleitorais para a sucessão municipal.
Assembleia aproveita o vácuo
Na última sexta (15), com a visita do ministro Alexandre Padilha, o presidente da Assembleia Legislativa, Tadeu Leite (MDB), recebeu o oitavo ministro do governo federal. Junto deles, estava o presidente do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco (PSD), senador por Minas. Nenhum dos ministros foi ou recebeu convite para um café na Cidade Administrativa, sede do governo mineiro. Diante desse vácuo político, a Assembleia Legislativa virou, por iniciativa e função próprias, o novo endereço do centro político de Minas, onde a interlocução e o diálogo são valorizados na discussão das convergências possíveis entre o estado e Brasília.
Oposição ‘socorre’ Zema
Poucos notaram, mas por duas vezes o placar do plenário da Assembleia Legislativa reacendeu, na semana passada, as luzes amarelas para a relação política do governo Zema com sua base. Não fosse a oposição, o governo teria sido derrotado. No primeiro caso, os rivais mantiveram presença para garantir o quórum mínimo de votação; ainda assim, só 29 dos 77 deputados votaram para autorizar a viagem que Zema faz ao exterior. De acordo com a Constituição, após 15 dias, o governador só pode se ausentar do estado com autorização legislativa. No segundo caso, a oposição voltou a ajudar o governo ao obstruir a votação do aumento do ICMS para produtos supérfluos, caso contrário, sairia derrotado. Diante disso, os governistas retiraram a tropa do plenário para encerrar a votação e ganhar um tempo para fazer a DR e rearrumar as coisas.
Ser ou não ser
No momento em que Minas recupera importância no cenário nacional, por meio do Judiciário, o governador Romeu Zema revela, na entrevista que concedeu ao programa “Em Minas”, veiculada na noite de sábado na TV Alterosa e portal Uai, e publicada na edição de ontem do Estado de Minas, que vai abrir mão do protagonismo histórico do estado na política nacional. Além de não conversar com o governo federal e com outras lideranças do Congresso Nacional, Zema agora diz que prefere apoiar alguém do que ser apoiado numa disputa presidencial. A condição do governador de Minas é, historicamente, de protagonismo e não pessoal. Seja qual for o fórum, quando o governador de Minas fala ou dá presença, aliados ou rivais precisam entender que estão diante de uma liderança. E o momento de Minas é outro. Em 2022, após 20 anos, conquistou a instalação do TRF-6 em BH, e, agora, tem dois juristas escolhidos para os tribunais superiores: a ministra Edilene Lobo, no Tribunal Superior Eleitoral, e o desembargador Afrânio Vilela para o Superior Tribunal de Justiça.
Quebra de princípios
A experiência na política e no governo mineiro já levou Romeu Zema a quebrar, pelo menos, três princípios de seu partido, o Novo. A última é o projeto que cria/aumenta o ICMS para produtos chamados supérfluos, desagradando o empresariado, a principal base de pensamento e de sustentação deles.