O governador Romeu Zema (Novo) se reuniu com deputados estaduais da base na noite desta terça-feira (17/10) no Palácio da Liberdade, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte. O evento teve como objetivo aproximar os nomes da situação na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) do próprio governador e do secretariado, uma demanda antiga de quem compõe os grupos ligados ao Executivo, maioria do parlamento.
O encontro acontece um dia após a entrega do plano do Regime de Recuperação Fiscal (RRF) ao Legislativo. Foram convidados todos os 57 integrantes da base governista, entre todos os 77 deputados estaduais. A lista de presença não foi divulgada, mas estavam ausentes nomes como o presidente da Assembleia, Tadeu Martins Leite (MDB), que já havia se reunido com o governador pela manhã, e do Sargento Rodrigues (PL), que vive em pé de guerra com Zema pelo reajuste salarial das forças de segurança do estado.
Na saída, o deputado Eduardo Azevedo (PSC) disse que o evento foi um encontro informal entre os secretários e os parlamentares. Segundo ele, apenas Zema e o secretário de Governo, Gustavo Valadares, fizeram pronunciamentos.
"Foi mais uma questão do governo chamar os deputados para fortalecer os laços com a base dentro da Assembleia Legislativa [...] Especificamente, nenhuma pauta foi tratada, apenas o pedido para estarmos alinhados para os projetos que virão nos próximos anos durante todo o mandato", disse o parlamentar, que deixou o Palácio cerca de meia hora após o horário marcado para o início do encontro.
A lista de presença não foi oficialmente divulgada até a última atualização da reportagem. Fontes apontam que 46 dos 57 parlamentares convidados estiveram no Palácio da Liberdade.
Pautas como o possível congelamento dos salários dos servidores públicos com o Regime de Recuperação Fiscal e a já aprovada votação do aumento de 2 pontos percentuais no Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) em diversos produtos geraram ruídos na comunicação entre governo e sua base. Segundo os parlamentares, o encontro informal teve o objetivo de aparar essas arestas.
Em entrevista na saída do evento, o deputado Cristiano Caporezzo (PL) reiterou o caráter informal do encontro, mas destacou que tanto Zema,quanto Valadares trataram especificamente sobre o RRF e a precarização da Cemig. O parlamentar, ligado ao bolsonarismo e à Polícia Militar, destacou que, embora seja base governista, apresentou suas reticências quanto ao projeto de Recuperação Fiscal.
"O governo está interessado em promover pautas relevantes ao estado como o Regime de Recuperação Fiscal e a privatização da Cemig. Da minha parte, já deixei bastante claro que só voto a Recuperação Fiscal se as perdas inflacionárias da Segurança Pública forem pagas e com o compromisso de que não vai haver uma estagnação dos salários [...] eles falaram que isso não confere, que o salário vai continuar sendo corrigido de acordo com a inflação, mas eu preciso ler o texto pra acreditar", disse o deputado.
O evento foi fechado para a imprensa e contou apenas com a participação dos parlamentares e secretários. Embora os deputados tenham apresentado algumas diferenças de discurso em relação aos principais objetivos da equipe de Zema ao reunir a base de situação na Assembleia, o interesse em tornar mais homogêneo o bloco governista foi destacado em uníssono. Bim da Ambulância (Avante) também falou com jornalistas na saída do Palácio e sintetizou o clima.
“A bancada está rachada, isso aí é fato.Não tem jeito de falar que estão consolidados os votos necessários para votar os projetos apresentados [...] ele está sinalizando que está sensível às demandas de cada deputado e às necessidades de cada mandato e com isso nós podemos pontuar que para um primeiro passo já é um grande avanço esse reconhecimento da união do Legislativo e do executivo. () esses pontos são secundários, o ´primário é a unidade da base, a consolidação de quem realmente está contribuindo com o mandato do governador Zema”, disse o deputado.
Secretário ressalta informalidade da reunião
O secretário de Governo, Gustavo Valadares, reforçou após o evento que a ideia do governo tinha como objetivo antes alinhar a base em uma reunião informal e, como pontos paralelos, tratar sobre as principais pautas do Executivo em aguardo para a apreciação dos deputados. Valadares, que já ocupou a liderança de Zema na Assembleia, destacou que, além dele próprio e do governador, também se pronunciou aos colegas o atual líder de governo, João Magalhães (MDB).
Sobre novas reuniões, Valadares destacou que o governo planeja mais agendas com os parlamentares em um futuro próximo. “As negociações com a Assembleia têm que ocorrer diariamente, as conversas têm que ser diárias e o governador se dispôs, mais uma vez, a estar sempre conversando com os parlamentares. Colocou isso agora como uma prioridade da agenda dele. Se precisar de reuniões em grupo, como a de hoje, ele fará se precisar de reuniões individuais, ou por bancada, ele fará”.
Ainda assim, Valadares não negou que pautas essenciais ao governo, como a aprovação do Regime de Recuperação Fiscal, não ficaram de fora da conversa. O plano que busca renegociar a dívida com a União é prioridade de Zema desde o início de seu primeiro mandato, mas, diante de um impasse no Legislativo, não caminhou. O projeto que consiste no enxugamento de gastos públicos como uma prerrogativa para quitar o bilionário débito com o governo federal é alvo de críticas mesmo entre os governistas, já que envolve regras para reajuste salarial dos servidores, como os funcionários da Segurança Pública. Em entrevista, o secretário repetiu o discurso de que não há outra alternativa para a dívida mineira se não o RRF e que pretende dialogar com os parlamentares.
“Olha, a gente sabe que se fosse uma matéria simples, ela já teria sido apreciada e votada há mais tempo. A gente sabe que é uma matéria espinhosa. Nós vamos ter que enfrentar opiniões divergentes. As forças de segurança têm seus pleitos, a gente tem que reconhecer a importância deles mesmo em momentos que a gente não consegue atender. Nós vamos participar de debates na Assembleia e vamos mostrar que não há outro caminho. Eu falei isso ontem durante a audiência pública na Assembleia e volto a repetir: os estados que vivem a mesma realidade que Minas são Rio Grande do Sul, Goiás e Rio de Janeiro. Todos estão dentro do Regime de Recuperação Fiscal. Todos reclamam, dizem que é ruim e todos têm a oportunidade de sair a qualquer tempo. Ninguém sai porque não tem outro caminho. para quem, como Minas, deve R$ 150 bilhões para a União, é preciso conversar com a União”, disse o secretário.