Tema de falas polêmicas recentes do governador Romeu Zema (Novo), o Consórcio de Integração dos Estados do Sul e do Sudeste (Cosud) teve sua formação aprovada em segundo turno nesta quarta-feira (18/10) na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). Em votação pela manhã, os deputados formaram maioria para dar aval a um Projeto de Lei (PL) que autoriza, da parte mineira, a criação do grupo associativo que integra o estado a São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
O texto do PL 1.055/2023 foi aprovado com seu texto original e oficializa o grupo que, na prática, já se reúne desde 2019. Para o funcionamento do consórcio, serão criados dez empregos públicos, sendo nove assessores e um secretário-executivo. Segundo os governadores integrantes, a ideia principal do Cosud é integrar os estados para viabilizar pautas em comum junto ao governo federal e reunir as bancadas do sul e sudeste no Congresso Nacional.
Embora já se reúna desde o início da última legislatura, o Cosud ganhou notoriedade neste ano por diferentes motivos. Um deles foi o movimento de formalização do consórcio por meio de uma carta de intenções encaminhada às Assembleias Legislativas de cada um dos sete estados integrantes. O outro foi a coleção de declarações polêmicas de Zema acerca de uma pretensa oposição entre Sul e Sudeste e Norte e Nordeste.
Falas de Zema
No início de junho, durante evento que reuniu os governadores Romeu Zema (Novo-MG), Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), Cláudio Castro (PL-RJ), Renato Casagrande (PSB-ES), Eduardo Leite (PSDB-RS), Ratinho Júnior (PSD-PR) e Jorginho Mello (PL-SC) em Belo Horizonte, o representante mineiro foi criticado por fala em que dizia que Sul e Sudeste são compostos por “estados onde, diferentemente da grande maioria, há uma proporção muito maior de pessoas trabalhando do que vivendo de auxílio emergencial”.
Diante da repercussão negativa, o governador se desculpou no dia seguinte. Ele afirmou ter sido mal-interpretado, mas tornou a se referir aos estados de Sul e Sudeste como paradigmas da produção e geração de empregos do país. "Ontem, por uma questão talvez de não usar as palavras mais adequadas, eu acabei sendo mal interpretado. Porque quem conhece o brasileiro sabe que o que ele quer é um trabalho digno. Ele recebe o auxílio porque não está tendo opção e nós governadores do Sul e Sudeste valorizamos a geração de empregos", afirmou.
Pouco mais de dois meses após a repercussão da fala no encontro com governadores, Zema voltou às manchetes pelo mesmo motivo após entrevista ao Estado de S. Paulo. O mineiro tornou a comparar Norte e Nordeste com os membros do Cosud e disse que há uma discrepância entre as regiões no quesito representatividade geográfica e econômica em relação a atenção do governo federal. "Outras regiões do Brasil, com Estados muito menores em termos de economia e população se unem e conseguem votar e aprovar uma série de projetos em Brasília. E nós, que representamos 56% dos brasileiros, mas que sempre ficamos cada um por si, olhando só o seu quintal, perdemos. Ficou claro nessa reforma tributária que já começamos a mostrar nosso peso", afirmou Zema.
O governador chegou a se referir aos estados do Norte e Nordeste como “vacas menos produtivas” ao pleitear uma maior participação de sulistas e sudestinos na distribuição da verba federal. A repercussão da entrevista motivou repúdio mesmo entre colegas de Cosud, como o gaúcho Eduardo Leite e o capixaba Renato Casagrande.
Ampla maioria, mas com críticas
A aprovação da formalização do Cosud em segundo turno aconteceu um dia após o plenário dar aval ao projeto em primeiro turno. O placar final foi folgado, com 40 votos a favor ante 14 contra. Ainda assim, as rixas regionais alimentadas por Zema diante da criação do consórcio foram recordadas pelos deputados na Assembleia.
Ao encaminhar seu voto, a deputada Bella Gonçalves (PSOL) destacou que não via problemas na associação entre estados, mas ressaltou o que considera uma intenção de segregação por trás da formação do grupo. "O problema é a ideia por trás desse consórcio, diante da declaração racista do governador, sua atitude sectária e sua fala separatista", disse.