Lira tomou a decisão há cerca de 15 dias. Aliados do deputado no Congresso e integrantes do governo esperam a volta dele a Brasília para definir o assunto em reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O deputado embarcou para uma viagem à Índia e à China no dia 10 e retorna ao Brasil no dia 22 de outubro.
Ele chegou à secretaria-executiva do Ministério da Integração Nacional em 2012, quando o PP ocupou a pasta. O ministro era Aguinaldo Ribeiro, que também é da Paraíba e aliado de Lira. O deputado alagoano era líder do PP naquele ano, no governo Dilma Rousseff (PT). Segundo pessoas próximas, Lira participou da escolha de Fernandes para a pasta.
No fim de 2013, Fernandes foi secretário-executivo do Ministério das Cidades, também durante gestão de Aguinaldo, e seguiu no posto quando Gilberto Occhi, também ligado ao PP, tornou-se ministro.
No mesmo cargo, Fernandes acompanhou a ida de Occhi para a pasta da Integração Nacional, em 2015. Era o primeiro ano do segundo mandato de Dilma.
Demitido por Dilma
O nome indicado agora por Lira a Lula chegou a assumir interinamente o cargo de ministro das Cidades e da Integração. Mas foi demitido por Dilma no momento em que o PP começava a desembarcar do governo para apoiar o processo de impeachment, que culminou com a queda da petista em 2016.
No período em que atuou nos ministérios, também foi nomeado para os conselhos de administração das estatais Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba), Trensurb (Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre) e CBTU (Companhia Brasileira de Trens Urbanos).
Aliado de Lira, Fernandes integrou também a gestão de Michel Temer (MDB). Foi nesse período que presidiu a Funcef, quando a Caixa era comandada por Occhi. Ele ocupou o cargo até o começo da gestão de Pedro Guimarães. Fernandes assumiu a Funcef após o órgão mudar a sua diretoria em meio às investigações da Operação Greenfield.
A avaliação feita por integrantes do PP é que Lira optou por alguém com experiência na área, já que a Caixa praticamente equivale a um ministério. O PP pediu que o banco fosse entregue de "porteira fechada", isto é, que o partido pudesse indicar todas as 12 vice-presidências.
Lula afirmou em 25 de setembro que não estava disposto "a mexer com nada" neste momento, indicando que poderia deixar para depois a troca no banco, hoje sob comando de Rita Serrano.
Dias antes, porém, em entrevista à Folha em 17 setembro, Lira admitiu que a Caixa está nas negociações com o governo e que as indicações políticas para todas as vice-presidências do banco passarão por ele.
Lira
A ideia do presidente da Câmara é contemplar um grupo de partidos com as indicações, entre eles PP, Republicanos e União Brasil. Os partidos hoje compõem o núcleo duro do centrão.
"Há uma aproximação de partidos de centro que não faziam parte da base do governo para essa adesão. É claro que, quando um partido indica um ministro que era líder de um partido na Câmara [caso de André Fufuca, do PP, que virou ministro do Esporte], a tendência natural é que esse partido passe a ser base de apoio ao governo na Câmara dos Deputados, como Republicanos, como outros partidos", disse.
Lula ainda resiste a ceder duas das vice-presidências do banco. A principal delas, a vice-presidência de Habitação Social, que coordena os pagamentos do Minha Casa, Minha Vida, é ocupada por Inês Magalhães, considerada uma pessoa de extrema confiança do presidente.
Membros do centrão e aliados de Lira reivindicam a troca de comando nesta vice-presidência. No entanto, pessoas próximas ao presidente da Câmara dizem que agora não há tanta objeção à ideia de manter Magalhães no cargo.
Também há resistência em substituir a vice-presidência de Governo, que hoje à frente Marcelo Bomfim, professor de direito apadrinhado pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Além do apoio do senador, ele também conta com a simpatia de parte da bancada do PT de Minas.
Lira tem deixado claro aos colegas que, assim como terá o poder de indicar, ele também poderá demitir quem quiser quando achar conveniente.
A negociação pela Caixa se dá desde as articulações para que Lula nomeasse André Fufuca (PP-MA) e Silvio Costa Filho (Republicanos-PE) como ministros do Esporte e do Portos e Aeroportos, respectivamente.
Fufuca e Costa Filho já ocupam os cargos na Esplanada. Para acomodá-los, Lula demitiu Ana Moser, que era do Esporte, e realocou Márcio França para a pasta do Empreendedorismo, que precisou ser criada.
Como mostrou a Folha de S.Paulo, a troca no comando da Caixa Econômica Federal divide opiniões no banco.
A ex-deputada Margarete Coelho (PP-PI) chegou a ser uma das principais cotadas para o cargo no lugar de Serrano, mas, como mostrou a Folha em setembro, o nome dela acabou descartado.
Serrano passou a receber críticas do PT desde o início do governo. Uma das principais reclamações eram sobre a falta de traquejo político da presidente da Caixa. Outro episódio que a desgastou foi a decisão de cobrar Pix das pessoas jurídicas, que ela precisou voltar atrás. A Caixa é o maior banco em financiamento imobiliário no país e por lá passa o grosso do Minha Casa, Minha Vida, um dos principais programas sociais do governo Lula.