A aeronave, com 219 repatriados vindos do país do Oriente Médio, pousou no Aeroporto Internacional do Galeão, na zona norte da cidade. Eles fugiam do conflito entre Israel e o grupo terrorista Hamas que, iniciado em 7 de outubro já deixou ao menos 1.400 mortos do lado israelense e mais de 3.500 do lado palestino.
A bordo do avião da FAB, um modelo KC-30, estavam também estavam 11 animais de estimação. Com o desembarque, o Brasil totaliza a repatriação de 1.135 brasileiros e 35 pets. Este foi o último voo da primeira fase da operação de resgate dos repatriados de Israel, segundo o Ministério das Relações Exteriores.
O avião decolou de Tel Aviv, em Israel, às 18h40 do horário local (12h40 do Brasil), com duas horas de atraso --a decolagem estava prevista para às 16h30. Pousou no Rio por volta das 3h do fuso brasileiro.
Procurado, o Itamaraty não esclareceu o motivo do atraso. Parentes dos passageiros que estavam vindo atribuíram a demora ao fechamento temporário do espaço aéreo de Israel durante a viagem do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, ao país em conflito.
Os brasileiros repatriados se emocionaram ao sair pela porta do desembarque internacional do aeroporto e avistarem seus familiares. A comerciante Tânia Hauben Salem, que mora no Rio, foi recepcionada pelo marido. Ela lamentou ter deixado em Israel a filha e os três netos, que moram lá.
"Meu coração está dividido, mas fui obrigada a voltar", conta Salem, que tinha ido para Israel para o aniversário de três anos de um dos netos. "Quando me ofereceram a vaga [no avião], eu falei logo não. Meu marido me apoiou, meu filho. Falaram que minha filha precisava de mim. Mas como eu ia voltar? Todos os voos cancelados, sem previsão."
O publicitário Felipe Grini, 30, estava em Haifa, no norte de Israel, há apenas seis meses. Ele não descarta voltar ao país quando a guerra terminar. "Considero que eu realizei o meu sonho. Talvez eu ainda volte para Israel no futuro. É uma possibilidade, porque é um país que eu amo. Mas eu também falo de boca cheia que amo muito o nosso país", disse
O oficial da FAB e neurologista Sergio Amar, que mora em Israel há sete anos, celebrou o fato de ter sido trazido de volta ao Brasil pela própria corporação. Ele lamentou, porém, que seus amigos israelenses tenham continuado no território.
"Foi um espetáculo [a viagem], mas é triste pensar que deixou lá as pessoas que você tem amor e carinho", disse Amar. "Guerra é uma coisa, uniforme contra uniforme, aí é guerra. Mas esses terroristas não têm um Estado para dizer: 'estamos em guerra com Israel'", completou. Os terroristas, no caso, são os integrantes do Hamas, facção que deu início ao conflito ao realizar uma incursão brutal ao solo israelense a partir da faixa de Gaza.
A diplomacia brasileira também participa da organização da saída de brasileiros de Israel. Há ônibus saindo das principais cidades israelenses para o aeroporto de Tel Aviv. Já no Brasil, os desembarques foram feitos no Rio, Brasília, São Paulo e Recife.
De acordo com a Embaixada do Brasil em Tel Aviv, cerca de 150 brasileiros continuam no país e têm interesse na repatriação. O Itamaraty informou que, como a aeronave da FAB tem capacidade de transportar até 200 passageiros, o Brasil pretende ajudar na repatriação de cidadãos dos países vizinhos, como Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia. A pasta ainda não deu, no entanto, uma data para o início da nova fase da operação de resgate.
Ainda de acordo com o governo federal, a FAB forneceu quatro aeronaves, incluindo o avião presidencial, para as ações de resgate de brasileiros na nação do Oriente Médio. O avião presidencial foi designado para buscar os brasileiros que estão na Faixa de Gaza. O território palestino tem sido, desde o ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro, alvo de bombardeio pelas forças israelenses.
Mais cedo, o chanceler brasileiro, Mauro Vieira, afirmou que ainda não há previsão para ser feito o resgate dos brasileiros em Gaza. O grupo de 32 pessoas, sendo 17 crianças, aguardam a abertura da fronteira do território palestino com o Egito, de onde serão resgatados.
A abertura depende, porém, da negociação entre os países envolvidos e de uma pausa nos bombardeios da região, segundo a pasta de Relações Exteriores. Na quarta-feira (18), as tratativas, até então emperradas, enfim avançaram por intermédio de Washington.
A pedido do aliado, Tel Aviv garantiu que "não impediria" a chegada de assistência humanitária via Egito desde que ela consistisse em apenas alimentos, água e medicamentos e não fosse entregue ao Hamas, que controla Gaza. Em nota, Cairo disse ter concordado com a abertura da passagem de Rafah, atualmente única via de entrada e saída da Faixa de Gaza, e enviou nesta quinta maquinários para restaurar estradas e assim possibilitar o trânsito de caminhões a partir da península do Sinai, segundo noticiado pela agência de notícias Reuters.
A notícia também parece ter aumentado as chances de que os brasileiros sejam resgatados em breve. Também nesta quarta, o avião presidencial decolou para o Egito --o veículo estava em Roma, na Itália, desde sexta-feira (13), de onde esperava permissão para seguir para o país árabe.
O grupo em Gaza está na cidade de Rafah, em um imóvel alugado pelo Itamaraty. A chancelaria brasileira afirmou ter informado a Israel a localização do grupo para evitar que ele seja alvo de ataques.